O combate espiritual

Aprenda a combater os vícios e cultivar as virtudes com este livro recomendado por São Francisco de Sales!

O COMBATE ESPIRITUAL
P. LORENZO SCÚPOLI

O livro que São Francisco de Sales carregou consigo e leu durante 19 anos

1 PREFÁCIO

O ELOGIO QUE UM GRANDE SANTO FEZ SOBRE ESTE LIVRO

Monsenhor Pedro Camus em seu lindo livro intitulado: “O espírito de São Francisco de Sales” (cuja leitura recomendamos porque faz muito bem) conta o seguinte: “Perguntei a São Francisco quem era seu diretor espiritual ou professor, e ele me respondeu tirando do bolso o livrinho “O COMBATE ESPIRITUAL”. é quem com ajuda divina me governou e guiou desde a minha juventude; Este é meu professor e diretor das coisas do espírito e da vida interior. Desde que, quando era estudante na Universidade de Pádua, um padre teatino me recomendou e me aconselhou a lê-lo com frequência, segui seu conselho e achei-o extremamente útil. Foi composta por um padre muito santo daquela comunidade."
O próprio Monsenhor Camus conta que embora São Francisco de Sales valorizasse e recomendasse muito o belo livro “Imitação de Cristo”, recomendou ainda mais a leitura de “O Combate Espiritual”.
E acrescenta: “Entre os livros de leitura espiritual que o nosso santo recomendou, aquele que ele mais estimava era O Combate Espiritual. dezessete anos contínuos., lendo um capítulo todos os dias, e sempre recebendo luzes celestiais toda vez que fazia alguma leitura ali.
Muitos dos ensinamentos que São Francisco de Sales traz em seu famoso livro “Filotea, ou Introdução à Vida Devota” são retirados de O Combate Espiritual.
Entre os livros que ele recomenda para progredir na vida de perfeição, O Combate Espiritual está na primeira linha.

EM SUAS CARTAS

Estão reunidas em vários volumes, mais de mil cartas do grande doutor da Igreja, São Francisco de Sales, e em várias delas elogia seu querido livrinho “O Combate Espiritual”, vejamos alguns exemplos.

Na Carta 32 ele diz: “Este outro livro que você está lendo é bom, mas é um tanto confuso e difícil. Por outro lado, O Combate Espiritual é muito mais ordenado, mais claro, e lhe fará mais bem lê-lo. ."

Na Carta 55 afirma: “O Combate Espiritual” é um livro extremamente proveitoso. Sempre o carreguei comigo durante 15 anos e nunca o li sem aproveitar.

Na Carta 48, ele aconselha uma abadessa: “Leia o livrinho O Combate Espiritual e verá que adquire muita paz interior”.

Em sua carta 16, ele recomenda a uma senhora casada: “Entre os exercícios de devoção, o que mais lhe aconselho é que leia frequentemente O Combate Espiritual. Recomendo fortemente este livro porque lê-lo faz um grande bem”.

Na sua Carta 94 à viúva escreve: “Para vencer as tentações, leia COMBATE ESPIRITUAL. Para beneficiar a alma". 24 de julho de 1607 (Esta Carta consta dos documentos da causa de canonização).

Escreveu a sua Carta 75 a uma pessoa que sofreu uma grande dor, na qual diz: “Para obter a graça de aceitar em paz as dores que nos chegam, ajuda muito ler O Combate Espiritual, que recomendei tantas vezes. Este livrinho traz doutrinas muito úteis que dão muita paz à alma”.

Vamos ouvir este grande santo e começar a ler um livro tão lindo.

CAPÍTULO 1

“NENHUM ATLETA RECEBE A MEDALHA DE CAMPEÃO SE NÃO TIVER COMPETIDO SEGUNDO O REGULAMENTO” (2Tm 2,5)

EM QUE CONSISTE A PERFEIÇÃO CRISTÃ, E QUE PARA ALCANÇAR É NECESSÁRIO LUTA E ESFORÇO, E QUATRO COISAS QUE SÃO NECESSÁRIOS PARA ESTA LUTA.

Se queres, ó alma muito amada por Jesus Cristo, alcançar o mais alto grau de santidade e perfeição cristã, e viver em amizade perpétua com Deus Nosso Senhor, que é o empreendimento mais elevado e glorioso que pode ser empreendido e imaginado, o que é que devemos primeiro saber é: em que consiste a perfeição cristã, a verdadeira vida espiritual.
Muitas pessoas se enganaram e acreditaram que a perfeição e a santidade cristã consistem em outras coisas que na realidade não são. Assim, por exemplo, há quem imagine que para chegar à perfeição ou à santidade basta dedicar-se a muitos jejuns e grandes penitências. Outras pessoas, principalmente as mulheres, acreditam que o importante é dedicar-se a muitas orações, ouvir missas, visitar templos e ler devocionais.
Não faltam pessoas pertencentes a comunidades religiosas que imaginam que para alcançar a santidade basta cumprir exatamente os regulamentos da sua comunidade e assistir a todas as reuniões e atos religiosos da sua congregação.
Não há dúvida de que todos estes são meios poderosos para adquirir a verdadeira perfeição e grande santidade, se forem usados ​​​​com prudência e ajudam muito a adquirir força contra as próprias paixões e a fragilidade da nossa natureza, servem para se defender dos assaltos e tentações dos inimigos da nossa salvação; Além disso, são muito eficazes para obter da misericórdia divina a ajuda celestial de que necessitamos para progredir na virtude. Eles são úteis e necessários, e ainda mais para iniciantes.

MEIOS PARA SERMOS SANTIFICADOS

O Espírito Santo está iluminando às pessoas espirituais os meios para alcançarem a santidade. Ensina-os a cumprir o que dizia São Paulo: "Castigo o meu corpo e reduzo-o à servidão, para que, ensinando aos outros o caminho da santidade, não fique sem o conseguir" (cf. 1Co 9, 27). Isto serve para punir o corpo pelas rebeliões que teve no passado contra o espírito, e para dominá-lo e mantê-lo obediente às leis do Criador.
O Espírito Divino inspira também muitas almas a dedicarem-se a viver como desejava São Paulo: "Como cidadãos do céu" (Fl3,20) e por isso as convida a dedicar-se à oração, à meditação e à reflexão sobre a Paixão e Morte de Nosso Senhor, e não por curiosidade, nem para alcançar alegrias sensíveis, mas para melhor apreciar quão grande é a bondade e misericórdia de Nosso Senhor, e quão assustadora é a nossa ingratidão e a nossa maldade.
Às almas que desejam chegar à santidade, o Espírito Divino recorda-lhes frequentemente aquelas palavras de Jesus: “Se alguém quiser vir comigo, negue-se a si mesmo, aceite a sua cruz diária de sofrimento e siga-me” (Mt16,24). E convida-os a seguir Cristo, imitando os seus santos exemplos, derrotando-se a si mesmo e aceitando pacientemente as adversidades. Para isso, será extremamente útil frequentar os sacramentos, especialmente o da penitência e da Eucaristia. Isto lhes permitirá ganhar novo vigor e adquirir força e energia para lutar contra os inimigos da santidade.

O PERIGO DAS ALMAS IMPERFEITAS

Há almas imprudentes que consideram dedicar-se às obras externas como o mais importante para adquirir a perfeição e a santidade.

Algo desastroso e prejudicial

Para muitas almas, dedicar-se totalmente às obras externas faz mais mal do que bem ao seu espírito, não porque essas obras não sejam boas e recomendáveis, mas porque se dedicam tão totalmente a elas que se esquecem do que é essencial e mais necessário: seus pensamentos, seus sentimentos e atitudes. Não deixe suas más inclinações correrem soltas; elas expõem você a muitas armadilhas e tentações dos inimigos da alma. (Neste caso, poderia ser repetida a frase que São Bernardo escreveu ao seu ex-discípulo Eugênio, então Sumo Pontífice: “Malditas ocupações” aquelas que podem te separar da vida espiritual e da santificação da alma).

Uma armadilha

Os inimigos da nossa salvação, vendo que a quantidade de ocupações que nos atraem e nos separam do verdadeiro caminho que conduz à santidade, não só nos encorajam a continuar a praticá-las, mas também enchem a nossa imaginação com ideias quiméricas e falsas, tentando convencer nos que ao nos dedicarmos a tantas ações externas, com isso já estamos conquistando um maravilhoso paraíso eterno (esquecendo o que disse um santo: “Gostaria que aqueles que estão tão ocupados e preocupados com tantas obras externas se convencessem de que ganhariam muito mais para a sua própria santidade e para o bem dos outros, se se dedicassem um pouco mais ao que é espiritual e sobrenatural; caso contrário, tudo significará realizar pouco, ou nada, ou menos que nada, porque sem vida espiritual pode-se ainda fazer mais mal do que bem").

Outra farsa

Existe otra trampa contra nossa vida espiritual, é que durante a oração nos vem à cabeça pensamientos grandiosos e até curiosos, agradáveis ​​conversas sobre futuros apostolados e trabalhos pelas almas, e em vez de dedicarmos esse tempo precioso a amar a Deus, adorá-lo, pensando em suas perfeições, dando graças e pedindo perdão pelos nossos pecados, dedicamo-nos a voar como várias borboletas por muitos temas que não são oração, e até como moscas varejeiras que voam com a imaginação, para as latas de lixo deste mundo.

SINAL QUE MOSTRA O GRAU DE PERFEIÇÃO

Embora a pessoa se dedique a muitos trabalhos externos e gaste tempo em fantasias e imaginações, o sinal para saber até que grau de perfeição sua espiritualidade alcançou é descobrir que mudança e que transformação em sua vida, obteve com seu comportamento e costumes. Porque se, apesar de tantas obras e projetos, desejam sempre ser preferidos aos outros, são cheios de caprichos e rebeldes, obstinados na própria opinião, sem querer aceitar a opinião dos outros, sem se preocupar em aceitar a opinião dos outros, e sem se preocupar em observar as próprias misérias e fraquezas, dedicam-se a observar com os olhos bem abertos as faltas e misérias dos outros (repetindo o que Jesus tanto criticou: "olham o cisco que está nos olhos dos outros e não na trave que carregam em seus próprios olhos"). Isto é um sinal de que o grau da sua santidade ainda é muito baixo. E se alguém se atreve a proferir algo em sua própria opinião com críticas, comentários ou negações de demonstrações especiais de apreço, ele explode em raiva e indignação. E quando lhes dizem que o importante não é tanto o número de orações e devoções que têm, mas a qualidade e o amor a Deus e ao próximo que existe nessas práticas piedosas, eles ficam irritados; ficam chateados e inquietos e não aceitam isso de ninguém.
Com isto mostram que a sua santidade ainda é muito pequena. E mais ainda se quando Nosso Senhor, para levá-los a uma maior perfeição, permite que as doenças, os reveses, as provações e as perseguições os atinjam, então eles manifestam que a sua santidade é falsa porque explodem em queixas, protestos e não aceitam conformar sua vontade com a Santíssima Vontade de Deus.

UM PECADOR MUITO DIFÍCIL DE SE CONVERTER

A experiência cotidiana ensina que um pecador manifesto se converte mais facilmente do que outro que se esconde e se cobre com o manto de muitas obras externas de virtude. Porque estas almas estão deslumbradas e cegas pelo seu orgulho de tal forma que é necessária uma graça extraordinária do céu para convertê-las e libertá-las do seu engano. Eles estão sempre em perigo prejudicial de permanecerem em seu estado de tibieza e prostração espiritual porque têm os olhos do seu espírito obscurecidos por um enorme amor próprio e por um desejo insaciável de que as pessoas os valorizem e apreciem, quando fazem suas obras externas, que em si são boas, procuram satisfazer a sua vaidade e atribuem a si mesmos muitos graus de perfeição, na sua presunção e orgulho, vivem censurando e condenando os outros.
A perfeição não consiste, então, em dedicar-se a muitos trabalhos externos. Pois como diz São Paulo: “Mesmo que eu faça as obras mais maravilhosas do mundo, se não tiver amor a Deus e ao próximo, não sou nada” (1Co13).

QUAL É A BASE, ENTÃO, PARA OBTER A PERFEIÇÃO?

A base da perfeição e da santidade consiste em cinco coisas:
1a Em conhecer e meditar na grandeza e na bondade infinita de Deus, na nossa fraqueza e forte inclinação para o mal. É a graça que São Francisco de Assis pedia em suas orações durante noites inteiras, até que conseguiu obtê-la: “Senhor: conheça-te; conheça-me”.
2a Aceitar ser humilhado e submeter a nossa vontade não só à Divina Majestade, mas à pessoa que Deus colocou para nos dirigir, aconselhar e governar.
3a Em fazer e sofrer tudo unicamente por amor de Deus e pela salvação das almas; alcançar a glória de Deus e poder sempre agradar a Ele. Assim cumprimos o primeiro mandamento que diz: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e sobre todas as coisas”.
4a Cumpra o que Jesus exige: Negue-se, aceite a cruz de sofrimento que Deus permite que nos alcance, siga Jesus imitando seus exemplos; aceita o seu jugo, que é suave e leve, e aprende daquele que é manso e humilde de coração (cf. Mt 11,22).
5a Cumpra o que aconselha São Paulo: imite o exemplo de Jesus que não se aproveitou da sua dignidade de Deus, mas humilhou-se e tornou-se obediente até à morte e à morte de cruz (cf. Fil2).

GRANDE TAXA INICIAL PARA UMA AQUISIÇÃO ENORME

Alguém dirá: "São necessárias muitas condições." A razão é esta: o que será obtido não é qualquer perfeição, ou de segunda classe, mas a verdadeira santidade. Por isso, porque o que aspiram alcançar é de imenso valor, as quotas exigidas também são elevadas. Mas elas não são impossíveis.
Aqui devemos repetir o que Moisés disse no Deuteronômio: “Os mandamentos que são dados não estão além das tuas forças, nem são algo estranho que não possas praticar” (Dt30).

LUTA DURA, MAS GRANDE PRÊMIO

Escrevemos para aqueles que não se contentam em levar uma vida medíocre, mas que aspiram à perfeição espiritual e à santidade. Para isso é necessário lutar continuamente contra as más inclinações que cada um sente para com o vício e o pecado; dominar e mortificar os sentidos, procurar extirpar da nossa vida os maus hábitos que adquirimos, o que não é possível sem uma dedicação incansável e contínua à tarefa de alcançar a perfeição e a santidade, ter sempre um espírito pronto, entusiasta e corajoso que não pare de lutar para tentar ser melhor. Mas o prêmio que nos espera é muito grande, diz São Paulo: “Uma coroa de glória me espera, que o Divino Juiz me dará, e não só a mim, mas a todos aqueles que esperaram com amor a sua manifestação” (cf. 2Tm 4,8). “Mas ninguém receberá a coroa se não tiver lutado segundo os regulamentos” (2Tm2,5).

ALGO QUE AGRADECE MUITO A DEUS

A guerra que temos que travar para chegar à santidade é a mais difícil de todas as guerras, porque temos que lutar contra nós mesmos, ou como diz São Pedro: “Temos que lutar contra as más inclinações dos nossos corpos que lutam contra a alma" (cf. 1P2,11). Mas precisamente porque o combate é mais difícil e mais longo, por isso mesmo a vitória alcançada é muito mais agradável a Deus e mais gloriosa para quem consegue vencer; porque aqui se cumpre o que diz o Livro Sagrado: “Quem governa a si mesmo vale mais do que quem governa uma cidade” (Pr 16,32). Controlar as próprias paixões, refrear as más inclinações, reprimir os maus desejos e os maus movimentos que nos assaltam, é um trabalho que pode ser mais agradável diante de Deus do que se realizássemos obras brilhantes que nos dariam fama e popularidade.
E pelo contrário, pode acontecer que embora façamos muitas obras externas admiráveis ​​diante das pessoas, ao invés disso, diante de Deus não agradamos porque aceitamos em nossos corações seguir as más inclinações de nossa natureza e nos deixamos levar e dominar por paixões desordenadas.
Por isso devemos ter cuidado para não nos contentarmos em nos dedicar a fazer trabalhos que nos rendem fama e prestígio perante os outros, enquanto isso deixamos os sentidos irem para o mal, a sensualidade nos dominar e os maus hábitos tomarem conta do nosso caminho para o trabalho. Seria um erro fatal.

Quatro condições

Vimos em que consiste a perfeição ou santidade espiritual e quais as vantagens que ela apresenta. Agora vamos tratar das quatro condições necessárias para alcançar esta perfeição, obter a palma da vitória e ser vencedores na batalha para salvar a alma e obter uma posição elevada no céu. Estas quatro condições são: Desconfiar de nós mesmos, confiar em Deus, exercitar as qualidades que temos e dedicar-nos à oração.
Iremos explicá-los nos capítulos seguintes.

A COROA DO PRÊMIO NÃO SERÁ RECEBIDA SE VOCÊ NÃO LUTAR SEGUNDO AS REGRAS E REGULAMENTOS (2Tm2,25)

CAPÍTULO 2

A DESCONFIANÇA QUE FOI PARADA EM SI

A desconfiança em si mesmo é extremamente necessária no combate espiritual, isso sem esta qualidade ou condição, não só não seremos capazes de triunfar contra os inimigos da nossa santidade, mas também não seremos capazes de superar a mais fraca das nossas paixões. Sempre se cumprirá o que a profetisa Ana disse na Bíblia: “O ser humano não triunfa pela própria força” (cf. 1S2,9). E o que o profeta anunciou: “Meu povo disse: 'Sou forte'. Só posso resistir ao inimigo. E eles foram entregues ao poder de seus opressores”.
É necessário gravar profundamente esta verdade em nossas mentes, porque infelizmente acontece que embora na verdade não sejamos nada além de nada e miséria, ainda assim temos uma falsa avaliação de nós mesmos, acreditando sem qualquer fundamento que somos alguma coisa, que podemos fazer algo, que conseguiremos vencer sozinhos e com nossas próprias forças.
Este erro é desastroso e traz consequências fatais e é efeito de um orgulho nocivo e muito desagradável aos olhos de Deus. E se o aceitarmos, cumprir-se-á em cada um o que narra o salmista: “Achei que estava muito calmo; nunca falharei.
Mas tu me tiraste a tua ajuda, ó Deus, e eu caí na derrota e na opressão” (Sl 30).
Temos que nos convencer de que não há virtude, qualidade ou bom comportamento em nós que não provenha da bondade e da misericórdia de Deus, porque nós mesmos, como diz São Paulo, não podemos nem mesmo dizer por nós mesmos que Jesus é Deus. “Toda a nossa capacidade vem de Deus. Pois Deus é quem opera em nós a vontade e a obra” (Fl2,13). Pelas nossas próprias forças o que somos capazes de produzir é: o mal, a imperfeição e o pecado.
A desconfiança em si mesmo é um dom do céu e Deus a concede em maior grau às almas que destinou a uma dignidade superior, até que possam repetir o que dizia aquela famosa mulher da antiguidade, Santa Ildegarde: "Da única coisa que posso estar absolutamente segura de mim mesmo, é a minha terrível fraqueza para o pecado e a minha terrível inclinação para o mal”.

Um caminho:

Deus conduz a alma à dúvida permitindo que lhe cheguem tentações quase intransponíveis, quedas humilhantes, reações inesperadas, que apareçam em sua natureza inclinações indescritíveis e deixando-a por certos momentos em uma noite tão escura da alma que mesmo para rezar um Pai Nosso sente-se cansado e apático. De tal forma que se adquire a convicção da total impotência e incapacidade de caminhar rumo à perfeição e à santidade, se o poder de Deus não vier em socorro.

Os remédios.

O principal remédio, dos quatro que vamos aconselhar, é pensar e meditar até estar convencido de que pelas nossas próprias forças naturais não somos capazes de nos dedicar a fazer o bem e evitar o mal, nem de nos comportarmos dessa forma que merecemos entrar no Reino dos céus. Estas palavras de Jesus devem estar sempre na nossa memória: “Sem mim nada podeis fazer”.
O segundo remédio é pedir a Deus com fervor e humildade, muitas vezes a graça de confiar Nele e desconfiar de nós mesmos. Porque este é um dom do céu e para o conseguir é necessário antes de mais nada reconhecer que não temos a desconfiança necessária, depois convencer-nos de que não vamos conseguir sozinhos a desconfiança em nós mesmos, mas que é necessário prostrar-nos humildemente diante do Senhor e pedir-lhe que a bondade infinita se digne concedê-la a nós. E podemos ter certeza de que, se perseverarmos em pedir, ele finalmente nos concederá.
Existe um terceiro remédio para adquirir dúvidas (quanto a alcançar a santidade por conta própria) e consiste em acostumar-nos aos poucos a não confiar nas próprias forças para manter a alma sem pecado, e a sentir verdadeiro medo disso. armadilhas que nos apresentarão nossas más inclinações que sempre tendem ao pecado; lembrar que existem inúmeros inimigos que se opõem a nós para alcançar a perfeição, que são incomparavelmente mais astutos e fortes do que nós e conseguem até fazer o que São Paulo já temia: “Eles se tornam anjos de luz, para nos enganar” (1Co11,14) e com a aparência de que estão nos levando para o céu, armam armadilhas contra a nossa salvação. Com o salmista podemos repetir: “Quantos são os inimigos da minha alma, Senhor! E a odeiam com ódio cruel”. E só podemos repetir o apelo do Salmo 12: “Senhor: até quando triunfarão os inimigos da minha alma? Que o meu inimigo não possa dizer: eu o derrotei: “Não deixes que os meus adversários se alegrem com o meu fracasso”.
O quarto remédio é que quando caímos em alguma falha, reflitamos sobre quão grande é a nossa fraqueza e inclinação para o mal, e pensemos que Deus provavelmente permite falhas e quedas para melhor nos esclarecer sobre a impressionante incapacidade que temos de alcançar pela nossa própria conta a santificação e assim aprendemos a ser humildes e a reconhecer as limitações e a aceitar ser menosprezados pelos outros.

CONDIÇÃO SEM A QUAL NÃO É POSSÍVEL

Se não aceitarmos ser desprezados e humilhados, nunca alcançaremos a desconfiança em nós mesmos, porque esta se baseia na verdadeira humildade que nunca se alcança sem receber humilhação e também se baseia no reconhecimento sincero de que por nós mesmos não merecemos nada, mas desprezo e humilhação.

Não espere até que seja tarde demais

É melhor aceitar as pequenas humilhações que nos chegam por fraquezas e misérias todos os dias, e que isso não nos aconteça como pessoas muito orgulhosas e acreditadas que só abrem os olhos para reconhecer suas fraquezas e más inclinações quando acontecem para elas quedas grandes e embaraçosas. Com eles acontece o que Santo Agostinho disse: “Temo que vocês caiam em faltas que os humilharão muito, porque noto que vocês têm muito orgulho”.
Quando Deus vê que os remédios mais fáceis e brandos não funcionam para fazer a pessoa reconhecer sua incapacidade de resistir com suas próprias forças aos ataques do mal e alcançar sua santificação, então ele permite que aconteçam quedas no pecado, que serão mais ou menos frequentes e mais ou menos graves, dependendo do grau de orgulho e presunção que aquela alma tenha. E se houvesse uma pessoa tão isenta e livre dessa vã confiança nas próprias forças, como a Santíssima Virgem Maria, o mais certo é que ela nunca cairia em culpa alguma.

Boa consequência.

De tudo isso você deve tirar a seguinte conclusão: que toda vez que você cometer um erro, reconheça humildemente que sozinho, sem a ajuda de Deus, você não é capaz nem de fabricar um bom pensamento ou de resistir a uma única tentação e peça-Lhe ao Senhor que ele te conceda a sua luz e iluminação para te convencer do teu próprio nada e da necessidade absoluta e indispensável que tens da ajuda divina; e você proponha não presumir ou pensar em vão que por sua própria conta você alcançará a santidade ou a virtude. Porque se você acredita no que não é e imagina que será capaz de fazer o que não pode, certamente continuará caindo nos mesmos erros de antes e talvez até cometerá erros ainda piores.

CAPÍTULO 3

CONFIANÇA EM DEUS

Embora a desconfiança em nós mesmos seja tão importante e necessária nesta luta, porém, se a única coisa que temos é essa desconfiança, certamente seremos desarmados e derrotados pelos inimigos espirituais.
É absolutamente necessário que tenhamos grande confiança em Deus, que é o autor de todo o bem que nos acontece e o único de quem podemos esperar vitórias no campo espiritual. Porque assim como o que vamos conseguir sozinhos serão fracassos frequentes e quedas perigosas, que nos devem levar a viver sempre desconfiando das nossas próprias forças, também podemos ter a certeza de que da ajuda de Deus e da sua grande bondade podemos esperar a vitória contra os inimigos da nossa salvação, o progresso na virtude e o crescimento na perfeição, se desconfiando das próprias fraquezas e das más inclinações que temos e confiando muito no poder divino e no desejo que Nosso Senhor tem de nos ajudar, oramos de todo o coração que venha nos ajudar.

OS MEIOS PARA ALCANÇAR A CONFIANÇA EM DEUS

Existem quatro meios para alcançar o progresso na confiança em Deus.
O primeiro: pedir muitas vezes e com humildade, na nossa oração. Jesus prometeu: “Todo aquele que pede, recebe. Meu Pai dará o bom espírito a quem pede” (Lc11,11).
O segundo meio é: pensar no grande poder de Deus e na sua infinita bondade, que o move a conceder sempre muito mais do que é pedido.
Recordai o que disse o anjo à Virgem Maria: “nada é impossível para Deus” (Lc1,38).
É muito proveitoso pensar de vez em quando que Deus, pela sua imensa bondade e pelo excesso de amor com que nos ama, está sempre disposto e pronto a dar-nos, a cada hora e a cada dia, tudo o que necessitamos para a vida espiritual e para alcançar a vitória contra o egoísmo e as más inclinações, se pedirmos com confiança filial. O Salmo 145 diz: “Deus satisfaz os bons votos dos seus fiéis”.

ALGO QUE DEVE SER LEMBRADO

Para aumentar a confiança em Nosso Senhor, pensemos que durante 33 anos ele viveu nesta terra no meio de sacrifícios e sofrimentos, para salvar as nossas almas.
Lembremo-nos que cada um de nós é a ovelha perdida que, por sua imprudência, se desviou do rebanho do Senhor, e Ele tem nos chamado noite e dia para que possamos mais uma vez fazer parte do grupo daqueles que irá acompanhá-lo no céu para sempre. Ele teve que derramar suor, sangue e lágrimas para que voltássemos a ser uma de suas ovelhas fiéis. Se ele se arriscou a ir tão longe em busca de uma ovelha perdida, quanto mais ajudará aqueles de nós que o procuram e clamam e imploram a sua ajuda? Ao ouvir que a ovelha grita do precipício onde caiu, com medo dos uivos dos lobos que já se ouvem ao longe, o bom Pastor corre para protegê-la e defendê-la. E Ele não a humilha, nem lhe bate, nem a culpa pela sua imprudência, mas carrega-a amorosamente nos ombros até onde está o grupo de ovelhas que permaneceram fiéis. Consideremos que a nossa alma está representada naquela pobre ovelha, à qual Jesus está imensamente interessado em salvá-la dos perigos do mundo, do diabo e da carne, tenta todos os dias conduzi-la à santidade.

A moeda perdida

Jesus narrou o caso daquela mulher que perdeu uma moeda de prata, que equivalia a um dia de mercado para a família e ela se dedica a varrer a casa e sacudir tapetes e móveis até conseguir encontrá-la, muito feliz ela convida para os vizinhos felicitá-la pela grande alegria que sente por ter recuperado a moeda perdida. E Jesus naquele lindo capítulo 15 do Evangelho de São Lucas em que narra essas parábolas, nos diz que no céu, Deus e seus anjos sentem uma grande alegria por uma alma que já estava perdida e que se recupera novamente para o Reino de Deus. Deus também sente a alegria de encontrar o que foi perdido. E cada um de nós pode proporcionar essa alegria retornando novamente da nossa vida de pecado para a vida de graça e santidade. E o mais interessado em que isso aconteça é o nosso Divino Salvador.

Estou na porta e bato.

No livro do Apocalipse Jesus diz: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém me abrir a porta da sua alma, entraremos e cearemos juntos” (Ap3,21). Com isso, Nosso Senhor demonstra o grande desejo que Ele tem de viver em nossa alma, de dialogar conosco e de nos dar seus dons e graças. E se ele vier com tanta boa vontade, não nos concederá os favores que desejamos?
O terceiro remédio para alcançar uma grande confiança em Deus é rever de vez em quando o que a Sagrada Escritura diz sobre a importância de confiar em Nosso Senhor. Por exemplo, o Salmo 2 diz: “Bem-aventurados os que confiam em Deus”. E o Salmo 19 afirma: “Alguns confiam nas suas riquezas.

Outros confiam em suas armas defensivas.

Em vez disso, confiamos em Deus e imploramos a sua ajuda, enquanto outros caem no chão, conseguimos permanecer de pé”. Quem confia em Deus não será rejeitado por Ele (cf. Sl33). Quem confia em Deus verá que Ele agirá em seu favor. Estou velho e nunca vi alguém que tenha confiado em Deus e fracassado (cf. Sl36). Aqueles que confiam no Senhor são como o monte Sião, não serão movidos nem derrubados por ataques ou contradições (cf. Sl124).
Quem confia em Deus será abençoado, prosperará e será feliz (cf. Pr28).
77 vezes a Sagrada Escritura diz que bênçãos, felicidade, paz, progresso e bênçãos virão para aqueles que depositam sua confiança em Deus. Se ele disse isso 77 vezes, significa que isso é importante demais para esquecermos.
Por isso o profeta exclamou: “Vocês sabem quem o Senhor prefere? Aqueles que confiam na sua misericórdia”. Ninguém jamais confiou em Deus e foi abandonado por Ele (cf. Ecl2,11).
O quarto e último remédio para alcançarmos, ao mesmo tempo, a desconfiança nas nossas próprias forças e uma grande confiança em Deus, é que quando nos propomos a fazer algum bom trabalho ou alcançar alguma virtude ou qualidade, fixemos a nossa atenção primeiro no nosso própria miséria, fraqueza e depois no enorme poder de Deus e no desejo infinito que ele tem de nos ajudar e assim equilibraremos o medo que vem da nossa incapacidade e da inclinação para o mal, com a segurança que a poderosa ajuda que o bom Deus quer nos enviar nos inspire e estaremos determinados a agir e lutar com bravura. "Eu, mais as minhas forças e as minhas capacidades, o mesmo: nada. Mas eu, as minhas forças, as minhas capacidades, mais a ajuda de Deus, o mesmo: sucessos incontáveis. "Não é que nós mesmos possamos fazer alguma coisa, diz São Paulo: toda a nossa suficiência vem de Deus".

A autossuficiência orgulhosa leva ao fracasso.

A confiança humilde em Nosso Senhor alcança sucessos formidáveis.
As três forças: com desconfiança em nós mesmos e confiança em Deus, juntamente com a oração constante, poderemos realizar grandes obras e alcançar vitórias maravilhosas. Vamos fazer o teste e veremos efeitos inesperados.
Mas se não desconfiarmos da nossa miséria e não depositarmos toda a nossa confiança na ajuda de Deus, e se negligenciarmos a oração, terminaremos em tristes derrotas espirituais. Quanto mais confiamos em Deus, mais favores receberemos dele.
Lembremo-nos sempre do que o Senhor disse a um grande santo: “Não esqueça que tenho poder e bondade para lhe dar muito mais do que você ousa pedir ou desejar”. Isto é o que São Paulo já havia ensinado há tantos séculos (Ef 3,20).

SENHOR: BEM-AVENTURADOS OS QUE CONFIAM EM TI (Sl 83)

CAPÍTULO 4

COMO PODEMOS SABER SE AGUIMOS COM DESCONFIANÇA EM NÓS MESMOS E COM CONFIANÇA EM DEUS

Muitas vezes, as almas que acreditam ser o que não são, imaginam que já o fizeram. alcançaram desconfiança em si mesmos e confiança suficiente em Deus, mas é um erro e um engano que não é bem conhecido exceto quando se cai em algum pecado, porque então a alma fica inquieta, desanimada, aflita e perde a esperança de poder progredir em vida, virtude; e tudo isso é um sinal de que ela não confiou em Deus, mas em si mesma, se o seu desespero e a sua tristeza são muito grandes, este é um argumento claro de que ela confiou muito em si mesma e pouco em Deus.

Diferença:

quem desconfia muito de si mesmo, de sua fraqueza e inclinação para o mal e deposita toda sua confiança em Deus, quando comete um erro não desanima, nem se preocupa muito, nem se desespera, porque sabe que suas faltas são efeito natural de sua fraqueza e do pouco cuidado que teve para aumentar sua confiança em Deus; antes, com esta amarga experiência aprende a desconfiar mais das próprias forças e a confiar com maior humildade na bondade de Nosso Senhor, odiando com toda a alma as faltas cometidas e as paixões desordenadas que levam a cometer esses erros; mas a sua dor e o seu arrependimento são suaves, pacíficos, humildes, cheios de confiança de que a misericórdia divina terá compaixão dele e o perdoará; volta novamente às suas práticas de piedade e pretende enfrentar os inimigos da sua salvação com maior coragem, mais força e sacrifício do que antes.

Uma causa enganosa:

nisso é importante que algumas pessoas espirituais pensem e considerem que quando caem em alguma falta ficam aflitas e desanimadas excessivamente, muitas vezes, querem mais se livrar da inquietação e da dor que o seu pecado lhes proporciona, do que recuperar outra vez a amizade plena com Deus; e se procuram rapidamente um confessor, não é tanto para agradar a Nosso Senhor, mas para recuperar a paz e a tranquilidade do seu espírito (por esta razão, um certo confessor disse a uma freira que lhe contou que ele tinha gritado ao seu superior que tarde: "Por hoje não se confesse ainda. Espere passar três dias e quando tiver pedido desculpas ao seu superior, venha pedir perdão através do seu confessor". em vez de procurar primeiro fazer a paz e a amizade com Deus e com a pessoa ofendida).

Perguntas muito importantes:

todos deveriam se perguntar de vez em quando: qual a causa da tristeza que sinto por ter pecado? Tendo desagradado ao bom Senhor? Tendo machucado outras pessoas? Tendo horrivelmente feia a minha alma que está sendo vigiada por Deus e seus anjos? Tendo perdido um certo grau de brilho e glória para a eternidade? Tendo-me trazido mais um castigo para o dia em que o Justo Juiz pagará a cada um segundo as suas obras e segundo a sua conduta? Ou será apenas que meu respeito próprio e meu orgulho foram feridos? Ou que minha aparência de santidade diminuiu? Importante se perguntar isso muitas vezes.

CAPÍTULO 5

O ERRO DE ALGUMAS PESSOAS QUE CONFUNDEM MEDO E PESSIMISMO COM UMA QUALIDADE OU VIRTUDE

Existe um erro muito comum que consiste em acreditar que é uma virtude, uma boa qualidade desanimar, desanimar, deixar-se vencer pela tristeza e pessimismo quando você comete um erro Pois bem, nestes casos acontece quase sempre que a amargura por ter pecado não provém principalmente da dor de ter ofendido e desagradado a Deus, mas sim que o orgulho foi ferido pela consciência da própria miséria e fraqueza, da confiança que se tinha nas próprias forças e capacidades para resistir ao mal, falharam totalmente.

Perigo de pessoas orgulhosas.

Normalmente, as almas presunçosas que se acreditam mais capazes de serem boas do que realmente são, não dão a devida importância aos perigos que lhes vão sobrevir e às tentações que podem sobrevir-lhes, então quando caem em alguma e reconhecem como experiência amarga quão grandes são sua miséria e fraqueza, elas se maravilham e se preocupam com sua queda como se fosse algo novo e estranho, porque vêem o ídolo do amor próprio e da falsa autoconfiança desabar no chão em que eles colocaram imprudentemente a esperança e, provando que são almas que confiam mais nas próprias forças do que na ajuda de Deus, deixam-se levar pela tristeza, pelo desânimo e podem até chegar ao desespero.

ALGO QUE NÃO ACONTECE COM OS HUMILDES

Isto não acontece com as almas verdadeiramente humildes que não confiam na própria força ou capacidade de resistir ao mal, mas apenas na ajuda e na bondade de Deus, porque quando caem em alguma falta, Embora sintam muita dor por terem ofendido o bom Deus, por terem manchado a alma e por terem feito mal a outros, não se surpreendem, nem se preocupam, nem desanimam, pois sabem muito bem que sua queda é um efeito natural de sua terrível fraqueza e da impressionante inclinação que sua natureza sente para o mal.
Estas almas repetem o que dizia aquele antigo santo: “Tudo temo desde a minha malícia, a minha fraqueza e a minha inclinação para o mal. Espero tudo pela bondade e misericórdia de Deus”. Todos os dias vemos a batalha entre a fraqueza humana e a onipotência de Deus.

Na verdade, cumpre-se o que dizem os santos: “A humildade produz tranquilidade”. A única coisa de que o humilde tem certeza é a sua fraqueza. Mas ele permanece feliz se ao mesmo tempo vive seguro de que a bondade de Deus nunca o abandonará. “Jamais te abandonarei”, diz diversas vezes o Senhor na Sagrada Escritura.
Não admira que um diretor espiritual tenha dito a alguém que lhe pedia conselho: “Você não é mais santo porque não é mais humilde”.
Como os três jovens no forno (de quem nos fala o profeta Daniel), devemos dizer: "Senhor: pecamos. É por isso que tantas humilhações nos sobrevieram com toda a justiça".
Santo Agostinho, ao recordar os terríveis e numerosos pecados da sua vida, não se dedicou a lamentar-se ou a desanimar, mas a proclamar a maravilhosa bondade de Deus que soube perdoá-lo.

CAPÍTULO 6

AVISOS IMPORTANTES PARA ADQUIRIR DESCONFIANÇA E CONFIANÇA EM DEUS

Como grande parte da força que precisamos para vencer os ataques dos inimigos da nossa salvação depende da autodesconfiança e da confiança em Deus, vamos lembrar alguns avisos que são muito útil para alcançar essas duas qualidades.

UMA CONDIÇÃO SEM A QUAL NADA SE OBTÉM

Em primeiro lugar, devemos ter em conta como verdade que não admite discussão nem dúvida, que mesmo que tenhamos todos os talentos e qualidades, sejam eles naturais, quer tenham sido adquiridos através do nosso próprio esforço, mesmo que tenhamos uma inteligência prodigiosa, mesmo que saibamos de cor a Sagrada Escritura, tenhamos servido ao Senhor durante muitos anos, estejamos habituados a servi-lo e a comportar-nos bem, seremos sempre absolutamente incapazes de obedecer devidamente ao Criador e cumprir plenamente nossas obrigações, se a força poderosa de Deus com proteção especial não fortificar nossos corações em todas as ocasiões que surgem em nosso caminho para fazer o bem e evitar o mal, para fazer algumas boas obras ou para vencer alguma tentação, para sair do perigo ou para poder suportar a cruz da tribulação.
É necessário gravar profundamente esta verdade na nossa memória, não deixar passar um dia sem meditá-la, considerá-la, e assim evitaremos gradualmente o defeito chamado presunção, que consiste em acreditar-nos mais capazes de ser bons e deixando de ser maus, do que na verdade somos, e assim evitaremos confiar de forma imprudente e imprudente em nossa própria força.

Algo fácil para Deus.

Quanto à confiança em Deus, lembremo-nos do que diz o Livro Sagrado: “É muito fácil para Deus nos dar a vitória contra todos os inimigos da nossa alma, sejam eles poucos ou muitos, sejam fortes ou fracos, sejam eles velho e experiente ou jovem e exaltado” (1S 14,6).
Deste princípio fundamental tiraremos a conclusão de que embora a alma esteja atacada por todos os pecados e vícios, cheia de imperfeições, maus hábitos e inclinações horrendas, mesmo depois de ter feito todos os esforços para reformar os costumes, não se nota nenhum progresso na virtude, um sente e reconhece em si uma maior inclinação para o mal e mais facilidade para pecar, não por isso se deve perder a coragem e a confiança em Deus, nem deixar de lutar, nem abandonar as práticas de piedade, mas antes dedicar-se com maior entusiasmo a tentar fazer o bem e evitar o mal, porque neste combate espiritual não são declarados derrotados aqueles que não deixam de lutar e de confiar em Deus, que nunca deixa de ajudar aqueles que O amam com a sua ajuda e alívio.
 saem vencedores, embora muitas vezes ele permita que eles sejam derrotados. Se você tiver a ajuda de Deus poderá perder batalhas, mas nunca perderá a guerra.

CAPÍTULO 7

COMO FAZER BEM USO DOS DOIS PODERES QUE RECEBEMOS: O ENTENDIMENTO E A VONTADE

Se no combate espiritual tivéssemos apenas duas armas: a confiança em Deus e a desconfiança em nós mesmos, muito provavelmente não conseguiríamos vencer nossas paixões e cairíamos em muitas e graves faltas. É por isso que é necessário acrescentar duas outras qualidades muito importantes a estas duas qualidades: fazer bom uso da nossa compreensão e fortalecer a nossa vontade.

OS DOIS VÍCIOS QUE ATACAM O ENTENDIMENTO

Existem dois grandes vícios que pervertem, causam muitos danos ao entendimento, e são a ignorância e a vã curiosidade. (Compreensão é a faculdade ou aptidão ou capacidade que temos para comparar, julgar, raciocinar ou tirar conclusões).
O primeiro defeito: ignorância. Isto consiste em não saber o que deveríamos saber, o que deveríamos saber. A ignorância impede o entendimento de possuir e conhecer a verdade, que é o objeto para o qual a inteligência foi feita. É de extrema necessidade que a alma que deseja alcançar a perfeição se esforce para adquirir cada dia mais conhecimento espiritual e procure saber cada vez melhor o que deve fazer para alcançar a perfeição e adquirir as virtudes, e o que deve ser evitado. para superar as paixões.

COMO SÃO OBTIDAS AS LUZES QUE AFASTAM A IGNORÂNCIA?

A escuridão da ignorância retrocede com duas luzes muito especiais. A primeira dessas luzes é a oração, pedindo frequentemente ao Espírito Santo que nos ilumine sobre o que devemos fazer, dizer e evitar. Jesus disse: “Meu Pai Celestial dará o Espírito Santo a quem lhe pedir” (cf. Lc 11,15). E depois acrescenta: “O Espírito Santo vos guiará para a verdade plena e vos lembrará tudo o que vos disse” (Jo 16,13). O Espírito Santo nos falará muitas vezes através das Sagradas Escrituras (se as lermos), especialmente dos Santos Evangelhos. Ele também nos falará através da leitura de livros piedosos (se quisermos reservar algum tempo para nos dedicarmos à leitura) e muitas vezes através dos pregadores e superiores religiosos que Deus colocou para nos guiar. Jesus disse sobre eles: “Quem os ouve, a mim ouve” (cf. Lc 10,16). É por isso que é tão importante mantermos o nosso julgamento e parecermos com os superiores e guias espirituais.
A remoção da nossa ignorância depende muito da intervenção do Espírito Santo. É necessário que nos deixemos programar pelo Espírito Santo. Devemos investigar o que o Espírito Divino quer de nós. Não se pode falar bem, pensar corretamente ou agir como Deus realmente deseja, sem a iluminação do Espírito Santo. Por isso é necessário dizer-lhe muitas vezes e todos os dias “Vem Espírito Santo”. Ele é a fonte inesgotável de imaginação e boas ideias. Ele nos dá uma nova maneira de olhar e apreciar as pessoas, o mundo, a história e a nós mesmos. Ele é o grande pedagogo ou professor que nos ensina a amar, a aproveitar bem a nossa liberdade, o tempo, os dons e qualidades que Deus nos deu e a saber em cada caso o que mais agrada a Deus e o que é que Nosso Senhor não gosta.
A segunda luz para afastar a ignorância é dedicar-se continuamente a considerar, analisar as situações que surgem e as coisas que queremos dizer ou fazer, para examinar se são boas e boas para nós ou más e podem nos prejudicar, qualificando o que valem, não pelas aparências ou segundo a opinião do mundo, pois diz a Escritura: “Deus não olha para o que aparece no exterior, mas na santidade do coração e no valor interior” (1S 16,7) e valorizá-los segundo a ideia inspirada pelo Espírito Santo. Esta forma de analisar e valorizar as coisas e situações nos fará saber com evidência que o que o mundo ama e busca com tanto ardor é ilusão e mentira; que as honras e os prazeres da terra nada mais são do que aflições e fumaça que o vento leva embora, como diz Eclesiastes: “Vaidade das vaidades, todo vazio e aflição de espírito” (Ecl 1).
A luz do Espírito Santo nos fará ver que as humilhações, ofensas e desprezos que nos fazem são ocasiões para alcançarmos a verdadeira glória para o céu; que perdoar e fazer o bem a quem nos ofendeu é sinal de que também nós seremos perdoados por Deus e que não seremos punidos com todo o rigor que os nossos pecados merecem; que ser bom para todos, mesmo para os maus e ingratos, é tornar-nos semelhantes ao Deus bom que faz chover sobre os bons e os maus e faz brilhar o sol até sobre os mais ingratos.
O Espírito Santo, se o invocarmos com fé, nos convencerá de que é melhor abrir mão dos prazeres do mundo do que viver desfrutando de tudo o que queremos.
Essa recompensa é muito maior por obedecer humildemente do que por dar ordens a muitos. Que conhecer e reconhecer humildemente o que somos é uma ciência que nos beneficia mais do que todas as outras ciências que podem nos encher de orgulho. Que vencer, dominar os maus desejos e as más inclinações e ir contra muitos pequenos desejos que não eram tão necessários, pode nos dar uma grande personalidade, e o que dizia o Livro Sagrado se cumprirá em nós: “Quem se domina, vale mais do que aquele que domina uma cidade" (Pr 16,32).

CAPÍTULO 8

AS CAUSAS QUE NOS IMPEDEM DE JULGAR E QUALIFICAR ADEQUADAMENTE AS SITUAÇÕES E A REGRA QUE DEVE SER OBSERVADA PARA CONHECÊ-LAS BEM

Uma causa muito importante pela qual não julgamos ou qualificamos adequadamente situações e coisas, é porque assim que elas nos são apresentadas a nossa imaginação é imediatamente levada pela simpatia ou antipatia por eles, simpatia e antipatia pela razão cega e assim desfigura pessoas, situações e coisas que nos parecem diferentes do que realmente são.

Um remédio.

Se quisermos estar livres deste grave perigo, é necessário estar alerta para não opinar sem mais delongas, precipitadamente, deixando-nos levar simplesmente porque gostamos ou não gostamos.
Quando uma situação, uma pessoa, um objeto, uma ação é apresentada à mente, é necessário dar-se tempo para julgar e examinar lentamente, sem paixão, sem muita simpatia ou antipatia, antes que a vontade determine amar ou odiar aceitá-lo ou rejeitá-lo, declarar que ele é agradável ou desagradável.
Se a vontade, antes de analisar e conhecer bem o objeto, está inclinada a amá-lo ou a odiá-lo, então o entendimento não é mais livre para conhecê-lo como verdadeiramente é em si, porque a paixão o desfigura de tal maneira que o obriga a formar uma ideia falsa e então ele se inclina a amá-lo ou odiá-lo veementemente e deixa de cumprir regras ou medidas ou de ouvir o que a razão aconselha.
E deixando-se levar pela inclinação natural, o entendimento escurece cada vez mais e representa para a vontade o objeto ou mais odioso ou mais amável do que antes, de tal forma que se a pessoa não se esforçar para não ser levada por preconceitos e inclinações, seu entendimento e sua vontade a farão caminhar num círculo vicioso que vai de erro em erro, de abismo em abismo e de escuridão em escuridão. É por isso que, embora estejamos apaixonados por alguma coisa, é melhor abster-nos de julgar a respeito até que a paixão se acalme.

Prudência.

É preciso ter muito cuidado para não ter um carinho desordenado pelas coisas antes de examinar ou conhecer o que elas realmente são em si mesmas, com a luz da razão, principalmente com a luz sobrenatural que o Espírito Santo envia a quem ora com fé. obtenha a luz da prudência que se consegue consultando quem conhece o assunto.

Também o que é bom.

Notemos que esta prudência para não se deixar levar pela mera inclinação antes de julgar, é necessária não só naquilo que pode ser perigoso, mas também naquilo que é bom em si, porque nestas obras, por serem dignas de admiração e apreciação, pode haver o perigo de se deixar levar mais pelo próprio gosto do que pela conveniência. Pois bem, basta que haja uma circunstância de tempo, ou de um local que não seja conveniente para estes trabalhos para que naquele momento não seja conveniente realizá-los.

Por isso é preciso saber consultar sempre quem sabe.

Nem tudo se pode dizer em todo o lado e nem sempre se pode fazer tudo, mesmo que sejam coisas muito boas, porque tudo tem o seu tempo e o seu lugar, se não forem seguidas as regras da prudência, mesmo dedicando-se a obras muito boas, muitas vezes pode se cometer absurdos. Por isso é tão necessário pedir ao Espírito Santo o Dom do Conselho através do qual sabemos quando, onde e como devemos fazer e dizer o que devemos fazer e dizer.

Pedido diário.

Um santo disse que todos os dias devemos pedir ao Espírito Santo que nos conceda a virtude da prudência, que é o que nos ensina quando, como e onde devemos dizer e fazer cada coisa. Será que pedimos de vez em quando ao Espírito Divino que nos conceda a virtude da prudência? Se não pedimos, comece hoje a pedir.

CAPÍTULO 9

OUTRO VÍCIO DO QUAL DEVEMOS LIBERTAR O ENTENDIMENTO PARA QUE ELE SAIBA E JULGUE BEM O QUE É ÚTIL

O segundo vício ou defeito que pode causar muitos danos ao nosso entendimento é a curiosidade vã, enchendo nossa mente com uma série de pensamentos e conhecimento inútil que nos faz mais mal do que bem.
Há muitas coisas e muitos acontecimentos que por não sabermos nada perdemos, mas descobrir enche a nossa mente de distrações inúteis. Deveríamos estar mortos para o conhecimento que não é útil para a nossa santidade e perfeição espiritual. Dizia o antigo provérbio: “Com notícias curiosas e novas você não se preocupará, elas ficarão velhas e você já as conhecerá”.
É necessário recolher o nosso entendimento para não deixá-lo espalhar-se em vão através de um amontoado de notícias e conhecimentos profanos e mundanos que só nos servirão para dispersar as nossas mentes e não nos permitirão recolher ou meditar com calma. Naquilo que não me serve para minha santificação, por que viver pensando?

A MELHOR CIÊNCIA

Cada um de nós deve repetir com São Paulo: “Não desejo nada senão conhecer Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado” (1Co 2,2). Conhecer a sua vida, a sua morte, ressurreição, ascensão e glorificação; compreender as suas mensagens, imitar os seus bons exemplos, lembrar o quanto ele fez e continua a fazer pelos seus seguidores, o que pede e quer de cada um de nós.

NUVENS SEM ÁGUA

Das outras coisas, especialmente daquelas que não são necessárias para alcançar a nossa santificação e salvação, que não nos ajudarão a ser úteis aos outros e a crescer na virtude, por que viver querendo conhecê-las? São tantas coisas que nada se perde em ignorá-las e, ao contrário, conhecê-las enche o coração de inquietação. Nisto se cumpre o que disse o sábio Sêneca no primeiro século: “Quanto mais curiosamente me dedicava a conhecer os detalhes da vida dos seres humanos, menos um bom ser humano me tornava”. São Judas Tadeu chama esse conhecimento de: “Nuvens sem água, árvores sem frutos, ondas que só trazem espuma” (Judas 12).
Quando quisermos saber alguma coisa, perguntemo-nos: isso será benéfico para a minha santificação ou para o bem que posso fazer aos outros? Se não for, dedicar-me a investigá-lo e querer conhecê-lo pode ser uma curiosidade prejudicial, ou mesmo uma armadilha para os inimigos da minha salvação, que querem encher meu cérebro de baratas que não permitem que o maná da sabedoria celestial seja bem preservado lá.
Se seguirmos esta regra, nos livraremos de muitas preocupações inúteis, pois quando o inimigo da alma vê que não pode nos obrigar a cometer faltas graves, pretende nos encher de preocupações para nos tirar a paz. E então, se ele não consegue que paremos de orar, pelo menos ele pretende nos encher de pensamentos e imaginações durante a oração, para que não concentremos nossa atenção em Deus, em sua glória, em seu poder e em sua bondade no graças e bênçãos que queremos alcançar, mas na infinidade de projetos fantásticos e lembranças de fatos que conhecemos. E assim ele consegue que, em vez de nos arrependermos de nossa maldade e odiarmos o pecado e tomarmos firmes resoluções para corrigir nossas próprias vidas, em vez de nos enchermos de atos de amor a Deus e desejos de perseverar em sua santa amizade até a morte, vamos nos dedicar a distraindo-nos em pensamentos vaporosos que podem até nos encher de orgulho e presunção, acreditando que já somos o que planejamos ser e que não precisamos mais de diretor espiritual ou de correções. E nos traz o grande erro de nos convencermos de que já somos bons, só porque planejamos ser. (E de pensar em ser até se tornar um, há um abismo imenso).

Doença incurável.

Esta doença é muito perigosa e quase incurável, porque quando os pensamentos estão repletos de novas teorias, ideias fantásticas e planos malucos, a pessoa se convence de que é melhor que os outros (só porque planejou ser, sem realmente ser, mesmo remotamente ainda).
Quem será capaz de desenganá-lo? Como você pode admitir seu erro? Como poderá deixar-se guiar por um diretor espiritual prudente se já se imagina uma autoridade espiritual? É um cego guiando outro cego; orgulho cego guiando o entendimento cego pela vaidade. Por outro lado, deveríamos repetir com o antigo sábio: “Em questões de espírito só sei que nada sei”, embora o orgulho queira nos convencer de que somos mais sábios que Salomão.

CAPÍTULO 10

COMO EXERCER A VONTADE. E O FIM PARA O QUAL DEVEMOS FAZER TODAS AS COISAS

Já vimos como evitar os defeitos que podem prejudicar o entendimento, e agora vamos estudar como evitar o que pode prejudicar a vontade, para que possamos assim chegar a tal grau de perfeição que renunciando às nossas próprias inclinações, o que buscamos é cumprir sempre a santa Vontade de Deus.

Uma condição.

É preciso ressaltar que não basta querer e procurar sempre fazer o que Deus manda e deseja, mas também é necessário querer e fazer essas obras para agradar a Nosso Senhor.

Uma armadilha.

É necessário dominar suas próprias inclinações. Porque a natureza, desde o pecado original, está tão inclinada a se entregar, que em todas as coisas, mesmo nas coisas mais espirituais e santas, a primeira coisa que busca é a sua própria satisfação e deleite. E daí um perigo, e é que quando nos é apresentada a oportunidade de fazer um bom trabalho, pode ser que nos dediquemos a fazê-lo e o amemos, mas não porque seja a vontade de Deus ou para agradá-Lo, mas agradar nossos desejos, inclinações e obter as satisfações que encontramos quando fazemos o que Deus ordena.
E mesmo no santíssimo, por exemplo no desejo de viver em comunicação contínua com Deus, pode ser que busquemos mais o nosso próprio interesse do que alcançar a sua glória e cumprir a sua santa Vontade, e esta última deve ser o único objeto que deve ser proposta a quem o ama, o procura e quer cumprir a sua Lei divina.

Remédio.

Para evitar este perigo, muito prejudicial para quem deseja alcançar a perfeição e a santidade, é necessário resolver, com a ajuda do Espírito Santo, não querer nem realizar qualquer ação, exceto com o único propósito de agradar a Deus. e cumprindo Sua Santíssima Vontade, para que Ele seja o início e o fim de todas as nossas ações. É necessário imitar o que fez o Papa São Gregório Magno, que enquanto escrevia as suas admiráveis ​​obras, de vez em quando suspendia a sua obra e dizia: "Senhor, é para Ti, é para a tua glória. É para o salvação das almas. Que nada que eu faça seja para agradar às minhas inclinações e afetos, mas para que a tua santa Vontade se cumpra sempre em mim".

Técnica.

É muito conveniente que quando nos surge a oportunidade de fazer um bom trabalho, primeiro elevemos uma oração a Deus para pedir-lhe que nos ilumine se é sua vontade que o façamos, e depois nos examinemos para ver se o que vamos fazer é por nós, agrade ao nosso Senhor. Dessa forma, a vontade se acostuma a querer o que Deus quer, e a agir com o único motivo de agradá-Lo e alcançar Sua maior glória. É conveniente proceder da mesma forma quando queremos rejeitar e deixar de fazer algo. Primeiro eleve o seu espírito a Deus para pedir-Lhe que o ilumine se Ele realmente quer que não façamos isso, e se ao deixarmos de fazê-lo estamos agradando-Lhe. É conveniente dizer de vez em quando: "Senhor: ilumina-nos o que devemos dizer, fazer, evitar e obrigar-nos a fazer, dizer e evitar”.

Decepções secretas.

É importante lembrar que os enganos que a natureza corrompida nos faz são grandes e muito pouco conhecidos, o que com pretextos hipócritas nos faz acreditar que o que buscamos com nossas obras não tem outro propósito senão agradar a Deus. E daqui vem que ficamos entusiasmados com algumas coisas e sentimos repulsa por outras apenas para nos agradar e nos satisfazer, mas enquanto isso continuamos convencidos de que esse entusiasmo ou repulsa se deve apenas ao nosso desejo de agradar a Deus ou ao temor de ofendê-lo. Para isso existe um remédio; retificar continuamente a intenção e propor seriamente dominar a nossa velha condição inclinada ao pecado e substituí-la por uma nova condição dedicada exclusivamente a agradar a Deus; ou como dizia São Paulo: "Renunciai ao homem velho com os seus vícios e concupiscências e revesti-vos do homem novo, conformado em tudo a Jesus Cristo" (cf. Col 3,9).

Um método.

São Bernardo dizia de vez em quando ao seu orgulho, à sua sensualidade, vaidade e amor próprio: “Não foi por ti que comecei este trabalho nem é por ti que vou continuar a fazê-lo”. E outro santo repetiu: “No dia do prêmio eterno, só as obras que eu tiver feito para Ele e para o bem dos outros me servirão para receber as felicitações de Deus. O que quer que eu tenha feito para agradar a minha vaidade ou a minha sensualidade, terei perdido para sempre. Meu fim seria muito triste se o Senhor tivesse que me dizer como aos fariseus: "Ele fez tudo para ser parabenizado e estimado pelo povo, ou para agradar seus gostos? Bem, ele já recebeu seu prêmio na terra. Não espere nada do céu."

O leme.
Quem dirige um navio precisa estar continuamente conduzindo-o na direção que se propôs ir, pois no primeiro descuido que tiver, as ondas e o vento jogarão o navio para uma direção totalmente diferente. Assim é com nossas ações. Precisamos reacender e reafirmar continuamente a intenção de fazer tudo por Deus e somente por Ele, porque o amor próprio é tão traiçoeiro, que ao menor descuido nos faz mudar de intenção, e o que começamos a fazer para Deus podemos facilmente parar de fazer, fazendo apenas o que nos dá gosto. E seria uma grande perda.

Um sintoma ou sinal de alerta.

Acontece frequentemente que quando uma pessoa se dedica a fazer uma boa obra, não só para agradar a Deus, mas sobretudo para satisfazer os seus gostos e inclinações, quando Deus a impede de progredir no seu trabalho com alguma doença, acidente ou carência financeira, por oposição de superiores ou vizinhos, fica zangado, irritado, inquieto, começa a murmurar, a reclamar e chega a dizer que Nosso Senhor deveria mostrar-se mais compassivo e generoso com o seu trabalho. E daí segue-se que o que o moveu não foi apenas agradar ao Criador, mas satisfazer os seus próprios interesses. Pois bem, se fosse apenas por Deus, eu permitiria calmamente que Ele levasse seu trabalho a um final feliz quando bem entendesse, se fosse para sua maior glória, e se não fosse, ele o deixaria desaparecer, porque então não merece continuar a existir.

Exame.

É por isso que todos deveriam se perguntar de vez em quando: fico muito preocupado se os trabalhos que realizo não funcionam rapidamente ou não acontecem de acordo com os meus planos? Fico chateado se o Senhor, com os acontecimentos que permite que aconteçam comigo, me diga: “Ainda não é a hora... temos que esperar mais um pouco?” Tenho que lembrar que o importante não é que minhas obras tenham muito sucesso terreno, mas que Deus esteja feliz com o que faço. Que não é a ação que tem valor, mas sim a intenção com que é realizada.

Algo que aumenta muito o valor.

A intenção de fazer tudo por amor a Deus e para sua maior glória aumenta tanto o valor de nossas obras que, embora tenham muito pouco valor em si mesmas, se forem feitas puramente para Deus, tornam-se mais valiosas e gratificantes do que outras obras, embora tenham maior valor em si mesmas, se forem realizadas para outros fins. Por exemplo, uma pequena esmola dada a um pobre (pequena, mas custa-nos. Porque o que não custa é lixo e não tem recompensa) se essa pequena esmola for dada por amor a Deus, porque o próximo representa Jesus Cristo, ela pode ter um preço mais elevado e obter um prêmio maior, do que os enormes gastos que se fazem em obras brilhantes, mas para aparecer e para ganhar a admiração dos outros.

Algo que não é fácil.

Não vamos nos enganar nem nos iludir. Essa coisa de sempre fazer tudo por puro amor a Deus não será fácil no início, mas nos parecerá muito difícil. Mas com o tempo isso se tornará não apenas fácil, mas até agradável, e gradualmente adquiriremos o hábito de fazer tudo por amor do bom Deus, de quem recebemos todas as coisas boas que temos.

Como a pedra filosofal.

Os antigos acreditavam na lenda de que havia uma pedra que transformava em ouro tudo o que tocava. Chamaram-na de “pedra filosofal” e procuraram-na em todo o lado e, como se pode supor, nunca a encontraram porque tal pedra não existe. Mas no espiritual existe, e consiste no que temos recomendado: oferecer tudo o que fazemos unicamente por amor a Deus e para agradar a Ele. A ação que oferecemos a Deus automaticamente se torna ouro para a vida eterna. Com um preço muito alto para a eternidade. Por isso é consensual que a partir de hoje comecemos a tentar adquirir o muito bom hábito de dirigir todos os anteriores para um único fim: o amor e a glória de Deus.

ALGO QUE PODE SER ALCANÇADO PEDINDO

É preciso lembrar que esse formidável hábito de fazer tudo para Deus e somente para Ele, não é algo que a criatura humana conseguirá alcançar somente através de seus esforços e propósitos. Isto é algo importado do céu, e se Nosso Senhor não nos conceder isso por sua graça especial, não o obteremos. É por isso que devemos pedir muito em nossas orações. E para nos encorajar a cumpri-lo, devemos meditar frequentemente nos inúmeros benefícios e favores que Deus nos fez e continua nos fazendo continuamente, considerando que tudo isso é feito por puro amor e sem qualquer interesse de sua parte.

“NÃO PODERÃO ACREDITAR SE O QUE PROCURAM É A GLÓRIA E O LOUVOR QUE VEM DOS OUTROS, E NÃO A GLÓRIA QUE VEM DO ÚNICO DEUS”. (Jo 5, 44) 31

CAPÍTULO 11

ALGUMAS COISAS QUE PRECISAMOS PENSAR PARA MOVER A VONTADE DE BUSCAR, EM TODAS AS COISAS, AGRADEÇA A DEUS

Existem algumas verdades que, se meditarmos e lembrarmos, moverão a vontade de querer em todas nossas ações e em todos os nossos comportamentos, busque que Deus se agrade no que fazemos, no que dizemos e pensamos. São os seguintes:

1° Considere o quanto o amor de Deus fez por nós. Por exemplo: ele nos criou do nada. Ele nos deu uma alma feita à imagem e semelhança Dele. Ele nos deu domínio sobre criaturas irracionais para que elas nos servissem. Quando estávamos em perigo de nos perdermos para sempre, ele não enviou um anjo para nos salvar, mas o seu próprio próprio Filho. E ele não nos resgatou nem pagou o preço da nossa libertação com ouro e prata, mas com o sangue precioso do seu Filho Santíssimo. E para que pudéssemos lutar com sucesso na vida, ele nos deixou o Corpo e o Sangue de Cristo como alimento.

2° Pensar que Deus vive nos defendendo em todos os momentos. O Salmo diz: “Teu guardião não dorme”. Aquele que cuida do povo escolhido não dorme nem deixa de vigiar por um momento. "O Senhor guarda-te à sua sombra, está à tua direita protegendo-te, pronto a defender-te de todo o mal" (cf. Sl120). E outro salmista exclama: "Ainda que o meu pai e a minha mãe me abandonem, o Senhor Deus nunca me abandonará" (cf. Sl27). Que melhor prova ou demonstração de amor o bom Deus poderia nos dar? É por isso que devemos amá-lo intensamente.

3º Lembre-se do quanto nosso Criador nos estima. Ele pode repetir-nos o que disse através do Profeta: “O que mais eu poderia ter feito por vocês e não fiz?” A sua estima por cada um de nós é tão grande e o seu desejo de nos salvar e de nos tornar santos é tão grande que nos enviou do céu o melhor tesouro que tinha: o seu próprio Filho. E permitiu-lhe morrer na cruz com a mais ignominiosa das mortes para que pagasse as nossas dívidas à Justiça Divina e nos conseguisse um lugar na glória eterna. E este Jesus tornou-se como nós em tudo, menos no pecado. E ele aprendeu através do sofrimento a compreender aqueles de nós que sofremos.
Devemos honrar aqueles que nos honram. Isto é o que os grandes da terra tentam fazer. E quem nos honrou mais em toda a existência do que Nosso Senhor? Ele nos fez seus filhos, irmãos de seu Filho Jesus Cristo, templos do Espírito Santo e herdeiros do céu. Esperamos que nos lembremos de vez em quando dessas demonstrações de apreço e carinho que Ele nos deu, para que, em vez disso, também ofereçamos amor e gratidão.

AMAMOS A DEUS PORQUE ELE NOS AMOU PRIMEIRO (São João)

CAPÍTULO 12

AS FORÇAS QUE FAZEM GUERRA, UMAS ÀS OUTRAS, DENTRO DE NÓS

Em cada um de nós existem duas grandes forças que fazem guerra sem cessar. Uma é a vontade superior, a força espiritual, que, guiada pela razão e pela fé, quer nos elevar a comportamentos típicos de um ser racional, de alguém que é Filho de Deus, e cujo destino é a vida eterna no céu. A outra grande força, que se chama inferior, é uma força material, guiada pelas paixões, pelas inclinações da natureza carnal, e muitas vezes pelas atrações do mundano, sensual e pelas tentações do diabo. Esta segunda força chamada “apetite sensível” não conseguirá levar-nos ao mal se a vontade guiada pela razão e iluminada pelo Espírito Santo o travar, dominar e guiar.

Uma guerra continua.

O santo Jó disse que a vida da pessoa humana nesta terra é como o serviço militar em tempos de guerra, ou como o dia do trabalhador em tempos de grande trabalho. A guerra espiritual entre a vontade superior guiada pela razão e a vontade inferior dirigida pelas paixões durará a vida toda. Desde o momento em que nos lembrarmos até ao último suspiro, essa guerra será total e sem tréguas. Haverá momentos de maior paz e outros de maior combate, mas a luta nunca cessará nesta terra. Aqui se cumpre o que Jesus anunciou: “Não vim trazer a paz, mas a guerra” (cf. Mt10,34).

Os quatro cavalos.

Um antigo autor disse que a pessoa humana viaja por este mundo numa carruagem puxada por quatro cavalos. Dois brancos e dois pretos.
Os dois alvos são a razão e a vontade. E os dois negros são paixões e más inclinações. E para saber onde cada um vai parar, temos que descobrir quem deixamos no comando, Deus ou o diabo, ou o egoísmo. Se for Deus quem nos dirige com suas santas inspirações, o fim será a glória e a santidade eternas.
Mas se deixarmos o diabo com suas tentações nos guiar, o fim será o mal e até a condenação eterna. Quem está dirigindo meu carro alegórico hoje?

O pior infortúnio.

Assim como ter recebido de Deus o prazer de orar e de pensar no celestial e no sobrenatural é um dom maravilhoso que nunca poderemos agradecer adequadamente, da mesma forma, o pior infortúnio espiritual que pode acontecer a uma pessoa é talvez contrair uma doença, um hábito, adquirir um mau hábito. Não há nada que escraviza tanto quanto um mau hábito. Não admira que Jesus tenha dito que: “Quem comete pecado torna-se escravo do pecado” (Jo 8,34). Aqueles que na juventude adquiriram algum mau hábito, uma facilidade para praticar alguma má ação, adquirida pela repetição, sofrem uma dor indescritível quando tentam corrigir sua má vida e quebrar as correntes que os escravizam ao mundo e à carne, mudar de vida e começar a consagrar-se inteiramente ao serviço de Deus. Porque a sua vontade é tão poderosamente combatida pelos seus maus hábitos e tão enfraquecida pela frequente repetição que têm feito de maus atos, que agora sentem como se tivessem uma segunda natureza e os golpes que recebem das suas más inclinações são tão fortes e violentos que sem uma graça especial ou ajuda de Deus não conseguirá resistir sem cair continuamente. Nisto se cumpre o que dizia São Paulo: “Faço o mal que não quero fazer e, por outro lado, o bem que gostaria de fazer, não posso fazer. inclinação que vai contra a lei da minha razão e me escraviza. É a lei do pecado. A inclinação para fazer o mal" (cf. Rm 7,18).

Uma felicidade e um fracasso.

Essa luta que acabamos de descrever não é tão sofrida por duas classes de pessoas:
1° aquelas que já se acostumaram a viver na graça de Deus e sem maus hábitos, e 2° aquelas que se acostumaram a viver no pecado e na escravidão aos seus vícios. Os primeiros são felizes porque vivem fazendo a vontade de Deus e gozam da sua amizade e da sua paz; os segundos têm uma paz aparente: a paz dos cemitérios, onde só há morte e decomposição.

Outra condição necessária.

Ninguém tenha a ilusão de que poderá adquirir virtude e perfeição para servir a Deus como deve ser, se não se dedicar a negar a si mesmo, a contradizer muitas de suas inclinações e desejos de uma vida fácil e confortável, se não o fizerem, não terão a firme resolução de sofrer e superar a antipatia que sentem em sua própria pessoa por abrir mão de muitos pequenos prazeres que surgem em seu caminho.
Jesus disse: “O reino dos céus sofre violência, e aqueles que praticam violência contra si mesmos o conquistam” (Mt 11,12). Na subida à perfeição encontramos muitos que estavam a meio caminho e não puderam avançar e progredir porque não tinham uma condição: negar-se a si mesmos, ir contra a vontade. E ficaram correndo atrás de borboletas enganosas de alegrias aparentes, e colhendo flores sem perfume de pequenos gostos que não satisfazem plenamente; e eles não conseguiram subir ao cume da santidade. Faltava-lhes a primeira condição que Jesus exigia daqueles que diziam querer segui-lo: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo" (cf. Mt 16,24). De quantos pequenos afetos e gostos terrenos renunciei para ser fiel a Jesus? Se neste dia eu desse um pequeno nó num fio por cada vez que recusei e ofereci um pequeno sacrifício, quantos nós conseguiria dar? No Dia do Julgamento esse relato parecerá muito claro e quanto maior o número de vezes que recusei e fui contra ele, maior será a minha recompensa no céu.

A CAUSA POR QUE HÁ TÃO POUCOS QUE TRIUNFAM

Por que, com tantas pessoas embarcando no caminho da santidade, tão poucos alcançam a perfeição? A causa é muito simples: eles não negaram a si mesmos. É verdade que muitos deles talvez tenham escapado de grandes quedas e de contrair terríveis vícios, mas depois, na subida à perfeição, perderam o ânimo e desanimaram porque viram que negar-se a si mesmo é um trabalho de todos os dias e em todas as horas e não se dedicaram dedicando-se a combater os resíduos da própria vontade e das más inclinações que ainda permaneciam em sua natureza, a dominar as paixões que cada vez se inflamavam e se renovavam em seus corações, permitiram que tudo isso tomasse conta de seu espírito e impediram sua ascensão à santidade. Faltava-lhes aquela qualidade que Jesus exige quando diz: “Quem perseverar até ao fim será salvo” (Mt 10,22).
Faltou-lhes perseverança na luta para obter a santidade.

Não basta não ser mau.

Há pessoas que imaginam que só alcançarão a santidade evitando fazer o mal. E isso não é suficiente. Assim, por exemplo, há pessoas que se contentam em não roubar, mas ao mesmo tempo são muito apegadas às suas riquezas, não distribuem esmolas e ajudam na medida que Deus quer que distribuam. Outros se dedicam expressamente a buscar honra e elogios, mas sentem grande alegria quando isso lhes é oferecido e nunca os rejeitam nem fazem nada para evitá-los. Há fiéis que não comem com avidez, mas preferem sempre os alimentos mais saborosos e deixam de lado os alimentos que lhes parecem menos agradáveis. Há crentes que não falam mal de ninguém nem mentem, e nisso são admiráveis, mas nunca conseguem silenciar as palavras inúteis que gostam de dizer. Contentavam-se em ser bons, mas não se esforçavam para ser perfeitos.

AS CONVERSAS QUE PARAM NO MEIO DO CAMINHO

Quando Jesus enviou seus discípulos para pregar, ele lhes disse: “Não parem para conversar no caminho” (Lc 10,4) porque os orientais costumavam parar para conversar por longos períodos no caminho com os viajantes que encontram e um tempo precioso é desperdiçado nessas conversas. É necessário que me pergunte de vez em quando: “O que digo é melhor do que o silêncio? Porque teremos que prestar contas de cada palavra inútil no Dia do Juízo” (cf. Mt 12,36). Que nunca tenham que dizer sobre nós o que alguém que acompanhavam em suas conversas disse sobre alguma pessoa piedosa: “Ele perdeu muitas ocasiões em que tinha que ficar calado”. Ou o que dizem que aquele santo exclamou quando lhe perguntaram o que pensava de uma certa pessoa muito piedosa mas muito falante: “Ele é gente boa, mas infelizmente não conseguiu colocar uma porta na língua para mantê-la um pouco mais fechada."
O que foi que fez você ficar assim? Na vida de uma santa, é narrado que um dia, quando ela estava diante da imagem de um Cristo chorando sangue, ela lhe perguntou: “Senhor, quem te deixou assim?” "Tu falas coisas inúteis” – o que será que esse exemplo ensina-me?

Perigo.

Quem não domina a sua língua corre o risco de não conseguir dominar também as suas outras paixões. Cumprir-se-á o que diz a Imitação de Cristo: “Por mais libertina e pouco mortificada que seja a sua língua, também o são as suas paixões e más inclinações”. Pelo contrário: o exercício de vontade que fizermos para tentar evitar que a nossa língua diga o que deve dizer, e dizer sempre o que é mais adequado, fortalecerá o nosso caráter de tal forma que, sem nos apercebermos, iremos gradualmente adquirindo a força dominar também as paixões e as más inclinações.

Uma ilusão.

Muitas almas que se dedicam à vida espiritual caem numa ilusão que não é fácil de descobrir à primeira vista (ilusão é imaginar que existe e é, o que na realidade não existe nem é como se imagina). E a sua ilusão consiste em pensar que está realmente progredindo na santidade e na perfeição, quando o que faz é seguir os seus próprios gostos e inclinações. Muitos acreditam que agem por amor a Deus, quando o que fazem é amar a si mesmos (se é que seguir os próprios caprichos pode realmente ser chamado de “amar a si mesmo”). E por isso escolhem os exercícios e práticas de piedade mais de acordo com os seus gostos, rejeitam e deixam de lado aqueles que lhes causam algum desconforto ou que não lhes agradam muito.

O remédio.

A solução para não cair nesta ilusão consiste em aceitar de bom grado as dores e dificuldades que nos são apresentadas todos os dias no exercício da perfeição, porque quanto maiores forem os esforços que tivermos que fazer, maiores serão as vitórias e os prêmios que alcançaremos, receberemos, Deus nos concederá e com maior segurança obteremos as virtudes que necessitamos. É por isso que um santo famoso, a alguém que lhe pediu um favor, mas depois lhe disse que era melhor não fazê-lo porque fazê-lo lhe custaria um sacrifício sério, respondeu: “E se não me custasse um sacrifício, o que recompensa eu receberia?" Nosso Senhor vai dar? O bom dos favores que fazemos é que nos custam sacrifícios".

O REINO DOS CÉUS EXIGE FAZER VIOLÊNCIA CONTRA SI, E AQUELES QUE SE DOMINAM CONSEGUEM. (Mt 11, 12)

CAPÍTULO 13

COMO COMBATER A SENSUALIDADE E QUAIS ATOS A VONTADE DEVE FAZER PARA ADQUIRIR O BOM HÁBITO DE TRABALHAR BEM

Lembremos o que dizia São Paulo: “Temos uma luta contínua, porque a parte espiritual da nossa personalidade nos convida a fazer o bem, mas a parte material e sensível nos inclina a fazer o mal”.
Para sair vitorioso neste combate que é de todos os dias e de todas as nossas vidas, é necessário utilizar algumas técnicas que vamos enumerar de imediato:

A primeira.

Quando os movimentos e excitações da nossa sensualidade aparecem tentando ir contra o que a razão aconselha, é necessário rejeitá-los resolutamente desde o início, sem parar para aceitá-los de forma alguma. Se consentirmos com eles, eles começarão a crescer e a nos escravizar.

A segunda.

Temos que praticar atos contrários àqueles que as paixões e más inclinações nos propõem. Por exemplo, se a raiva quer nos convidar à vingança, devemos orar pelo bem da pessoa que nos ofendeu. Se a tristeza tenta nos levar ao desânimo, devemos cultivar pensamentos de alegria e esperança. Se o orgulho nos encoraja a acreditar em algo e a desejar elogios, é preciso lembrar que não somos nada e que o elogio humano é fumaça que o vento sopra. Se é a impureza que nos move, convém lembrar o dilaceração interna que cada pecado impuro produz na alma e a perda da boa reputação e da paz que cada impureza traz à alma, etc.

Uma armadilha.

Os inimigos da alma quando veem que reagimos fortemente contra suas ciladas ou desejos de nos fazer mal, então param por um tempo de nos trazer tentações para que nós, acreditando-nos já fortes, deixemos de fugir das ocasiões e pensemos com orgulho louco que já somos capazes de resistir ao mal. Nisto convém cumprir o que aconselha São Paulo: “Trabalhem na vossa própria santificação com temor e tremor” (Flp 2,12) “E quem estiver de pé, tenha cuidado para não cair” (1Co 10,12). Porque assim que começarmos a acreditar que somos capazes de ser santos pelas nossas próprias forças, começaremos a ter quedas muito humilhantes. Deus resiste aos orgulhosos (Tg 4,6). É por isso que o profeta Isaías diz: “O que Deus quer é que você permaneça humilde diante dele”.

Terceiro ato.

Odeie o que é ruim. Muitas vezes acontece que depois de ter feito grandes esforços para resistir e rejeitar os ataques dos inimigos da salvação, depois de ter pensado e refletido que esta resistência é algo muito agradável a Deus, de um momento para outro nos damos conta de que não estamos nem seguros nem livre do perigo de ser derrotado numa nova batalha; Por isso, é conveniente que nos exercitemos em sentir um grande ódio e nojo pelo vício que queremos superar, e que procuremos adquirir em relação a ele, não só aversão, nojo, mas nojo e horror. O que mais deveria nos enojar é a feiúra do pecado.

Sala do meio. Para fortalecer a alma contra os vícios, os maus hábitos e as inclinações perversas, é necessário praticar muitos atos interiores que são diretamente contrários às nossas paixões desordenadas.

Por exemplo.

Se quisermos adquirir o bom hábito de ser pacientes, quando alguém faz ou diz algo que nos impacienta, nos enche de mau humor e raiva, é preciso amar, aceitar esse mau tratamento e até desejar que nos dêem aquele tratamento duro. novamente, para ter a oportunidade de exercitar a paciência. E isto por uma razão: porque não conseguiremos aperfeiçoar-nos e exercitar-nos numa virtude sem praticarmos atos contrários ao vício que desejamos corrigir. Assim, por mais que queiramos ser pacientes, se não agirmos contrariamente à impaciência, não conseguiremos arrancar do coração o vício de ficarmos impacientes e enojados com qualquer coisa, que vem do fato de não o fazermos. querer ser contrariado ou ferir nosso orgulho e amor próprio. E enquanto se conservar na alma essa raiz do orgulho, do desejo de que os próprios caprichos sejam cumpridos e que nada aconteça contrário aos nossos desejos e gostos, estaremos sempre em constante perigo de cair no defeito da impaciência.

Um remédio que não pode faltar.

Ninguém imagina que alcançará qualquer virtude se não destruir o vício oposto praticando atos contínuos e repetidos contra esse vício. Mil vezes você pode desejar se livrar de uma amizade ruim, mas se não praticar atos contrários a esse afeto pecaminoso, a amizade ruim continuará a te machucar. E já sabemos o que dizia São Paulo: “As más amizades corrompem os bons costumes”.

Alguns atos não são suficientes.

Já sabemos que para adquirir um mau hábito ou um vício são necessários muitos pecados repetidos, e da mesma forma, para alcançar uma virtude contrária a esse vício, são necessários bons atos repetidos e frequentes até alcançar o bom hábito que é capaz de enfrentar o vício e  afastá-lo.
E mais ainda: são necessários mais bons atos de virtude para formar um bom hábito, do que atos pecaminosos para formar um vício, porque as paixões e as más inclinações colaboram com o vício e, por outro lado, a virtude é combatida pela nossa natureza corrupta e imperfeita pelo pecado.

Faça isso mesmo que custe.

Tudo que vale a pena custa. Não vamos acreditar que praticar atos de virtude contrários aos vícios seja algo fácil e prazeroso. Nada disso!
Por exemplo, tratar alguém que nos humilha e nos ofende com gentileza e paciência. Isso ajuda muito a ganhar paciência, mas não é nada fácil. Vejamos outro exemplo: ser frio, até mesmo desdenhoso, demonstrar antipatia e horror e ser até “rude” diante de uma amizade que fere a alma; isso vai contra a nossa vontade e é algo muito caro. Mas por isso mesmo o prêmio que Deus nos dará será muito maior. Portanto, não deixemos de praticar atos contrários aos vícios, mesmo que pareça que nossos corações sangrem e que nossas almas morram de sofrimento. A coroa de glória que nos espera é muito grande.

Cuidado com pequenos inimigos.

O Livro do Cântico dos Cânticos diz: "Devemos caçar os pequenos roedores, porque podem destruir as nossas colheitas" (cf. Ct 2,15). Na vida espiritual devemos cumprir este conselho. Não nos contentarmos apenas em atacar e afastar os movimentos mais fortes e violentos das paixões, mas também os mais leves e mínimos. Porque esses pequenos movimentos ajudam os outros a nos atacar e a derrotar, assim como os meninos ajudam os grandes ladrões a arrombar as casas, os mais novos entrando primeiro pelas janelas para abrir a porta para os mais velhos entrarem. E é assim que se formam os maus hábitos e vícios, começando por deixar entrar pequenas imperfeições no dia a dia e estas abrem as portas para as maiores.

Um descuido perigoso.

Muitas pessoas foram descuidadas e não se mortificaram para evitar pequenas faltas, deixando-se levar pelas paixões e más inclinações em coisas fáceis e aparentemente sem grande importância e acreditavam que só deveriam mortificar-se nas paixões mais difíceis e graves, quando menos imaginaram sentiram o poderoso ataque dos inimigos da sua salvação e sofreram enormes danos espirituais. Assim, por exemplo, tendo feito voto de castidade, imagine alguém que possa viver de mãos dadas, dando pequenas carícias, lançando frequentes olhares afetuosos para o rosto, dizendo palavras de bajulação e carinho desnecessário, olhando cenas ou representações materialistas e até sensuais, aceitar muita familiaridade ao lidar com pessoas jovens ou sentimentais, etc. No momento eles parecem pequenos. Mas quando você menos espera, você pode se encontrar nos mais terríveis abismos do pecado e da sensualidade, e ser incapaz de reagir às suas inclinações perversas. E cumpre-se o que Jesus disse: “Quem não é fiel nas pequenas coisas, também não o será nas grandes” (Lc 16,10).

É preciso mortificar-se naquilo que é lícito.

Na vida espiritual existe um ditado muito antigo que sempre se torna realidade. E diz assim: “Quem não se mortificar no que é lícito, também não se mortificará no que é ilícito”. O que é permitido é chamado de lícito, o que pode ser feito ou dito sem cometer pecado. É necessário distinguir entre o que é simplesmente lícito e o que é necessário. O que é necessário deve ser feito e sempre dito. Mas o que é apenas lícito não é necessário, se for impedido de ser feito ou dito, produzirá grandes benefícios espirituais porque a pessoa se acostuma mais facilmente a dominar-se, e quando chegam os atrativos das paixões e do mal, os instintos já têm força de vontade e conseguirá vencer muitas tentações. Quantos e quantos são, que deixaram de dizer uma vividez que lhes ocorreu, e a silenciaram por mortificação. E então, quando, num momento de raiva, lhes veio o desejo de dizer algumas palavras ofensivas, eles não as disseram mais, porque haviam praticado manter silêncio sobre o que queriam dizer.


Revisão útil.

Esperamos que possamos rever estes remédios que temos aconselhado de vez em quando, porque se os cumprirmos obteremos uma verdadeira reforma em nossa vida interior e praticando-os alcançaremos vitórias espirituais gloriosas e em pouco tempo faremos grandes progressos na virtude e cresceremos na virtude e na santidade quase sem nos darmos conta. Por que não experimentá-los também?

O contrário é muito prejudicial.

A experiência tem mostrado que se deixarmos de cumprir essas dicas que acabamos de mencionar, mesmo que façamos belos planos para progredir espiritualmente, ficaremos sem um progresso real na virtude, porque o progresso no espiritual não consiste em fazer planos fantásticos pela santidade, mas em cumprir todos os dias o que pode nos levar a alcançar as virtudes, a evitar os vícios e a agradar o Redentor e Salvador Crucificado com o nosso comportamento.

Com pequenos atos se adquirem virtudes.

A experiência de milhões de pessoas tem mostrado que, assim como os maus hábitos e os maus costumes, eles se formam em nós a partir de atos repetidos com frequência, com os quais os apetites sensuais e as más inclinações se opõem às boas intenções da nossa vontade e os bons costumes são adquiridos com atos freqüentes e repetidos da vontade com a qual procura conformar-se ao que Deus deseja, ordena e se exercita na prática de uma ou outra virtude.
Assim como uma pessoa não pode ser definitivamente viciosa e corrupta por mais que suas más inclinações tentem corrompê-la e levá-la ao mal, se sua vontade persistir em querer se comportar de tal maneira que Deus goste de seu comportamento, da mesma forma, alguém nunca o fará alcançar a virtude e a santidade, por mais inspirações que a graça divina lhe envie, se a sua vontade não estiver seriamente decidida a dedicar-se a fazer o bem e evitar o mal.

CAPÍTULO 14

O QUE DEVE SER FEITO QUANDO A NOSSA VONTADE PARECER DERROTADA POR PAIXÕES E INSTINTOS MAUS

Muitas vezes nos acontece de a nossa vontade estar muito fraca e sem força suficiente para poder resistir aos ataques e assaltos das paixões e dos desejos perversos que convidam a fazer o mal. Nestes casos, não devemos desanimar nem parar de lutar, e embora os atrativos do mal sejam extremamente fortes, embora tenhamos caído muitas vezes, é necessário lembrar sempre este princípio encorajador: “Na luta pela santidade, o que conta não é só o número de vitórias ou derrotas que obtemos, mas o esforço que fazemos para permanecer sempre fiéis à vontade de Deus”. Perder uma ou dez batalhas não é perder a guerra. Aqueles que continuam lutando podem acabar triunfando.

Uma pergunta.

A alma deve perguntar-se frequentemente: Quero realmente superar esta paixão? Desejo triunfar sobre esta inclinação maligna? Pretendo seriamente tentar agir de tal maneira que meu bom Senhor fique satisfeito com meu comportamento? Faço esforços para não me deixar vencer por esse vício ou mau hábito? Quero preferir algum outro mal antes do pecado? Se a resposta for afirmativa, já há grande esperança de sucesso. Macabeu na Bíblia Sagrada disse: “Não importa a Deus conceder a vitória com muitas forças do que com poucas”. Embora a sua força seja muito pequena, a nossa própria fraqueza proporcionará mais uma ocasião para que a Onipotência e a misericórdia de Deus concedam vitórias.

E se a situação ficar desesperadora?

Muitas vezes pode acontecer que os inimigos da nossa santidade nos ataquem com tal violência que a vontade já enfraquecida e cansada se sinta impotente para resistir. Bem, neste caso também não devemos desistir. Você tem que dizer para si mesmo: “Eu não desisto. Eu não consinto.
Não entrego minhas armas". "Sei muito bem em quem depositei minha esperança e tenho certeza de que Ele é poderoso para defender meus tesouros" (2Tm 1,12). O pior derrotado é aquele que facilmente se declara derrotado. repetir com o salmista: "Meu Deus, vinde em meu auxílio. Senhor, apressa-vos em socorrer-me” (Sl 69).

"Olha, Senhor, como eles atacam. Não me abandones. Deus da minha salvação."
"Lembre-se, Senhor, que no caminho por onde estou andando, esconderam uma armadilha para mim." E se perseverarmos na confiança em Deus e na imploração da sua ajuda, poderemos repetir as palavras do Salmo: "Se o Senhor não nos tivesse ajudado, as águas espumosas teriam subido até ao pescoço, mas Ele não permitiu que fôssemos arrastados pela correnteza”.

Uma ajuda muito eficaz.

Para ajudar a vontade a não ser totalmente derrotada nos ataques que recebe das paixões e inclinações para o mal, produz-se um efeito muito bom ao pensar e meditar sobre como é útil e proveitoso resistir a essas tentações e alcançar a vitória. . Pensar que os prêmios que receberemos de Deus se formos vitoriosos serão muito grandes e que os males dos quais seremos livres se não aceitarmos as más insinuações são imensos.

Um exemplo.

Suponhamos que o inimigo que nos ataca seja a impaciência. Que alguma perseguição injusta nos aflija, ou que um trabalho é incômodo e cansativo, ou que o sofrimento é muito doloroso, ou que uma situação nos é desagradável e repugnante e queremos explodir em atos de impaciência e mau humor e começar a reclamar e protestar. Neste caso, é conveniente pensar no seguinte:

1o Considerar que merecemos este mal por causa dos nossos pecados, e no caso de nos ter acontecido por culpa nossa, com mais razão, já que devemos suportar o ferida que nós mesmos infligimos com nossas próprias mãos.

2º Se o mal não nos chegou por culpa nossa, considerai que nos serve para pagar pelos pecados cometidos, aqueles que a Justiça Divina ainda não nos castigou e pelos quais não fizemos a devida penitência. É muito melhor pagar aqui onde ganhamos mérito e glória através do sofrimento, do que ter que ir pagá-los no purgatório onde talvez as penas sejam mais rigorosas e com menos mérito. Pensando nisso, devemos receber os sofrimentos e os contratempos não só com paciência, mas com alegria e agradecendo a Deus por eles.

3o Lembremo-nos quando temos algo que nos faz sofrer e que nos convida à impaciência, que se aceitarmos as dores e os aborrecimentos de cada dia estamos cumprindo a condição que Jesus exige para podermos entrar no Reino dos céus, que é entrar pela porta estreita do sofrimento e da mortificação, e o que São Paulo tanto recomendou: “É necessário passar por muitas tribulações para poder entrar no Reino de Deus” (Ach 14, 21).

4º Não esqueçamos que quanto mais sofremos e mais somos humilhados nesta terra, mais nos pareceremos com Jesus cuja vida foi cheia de sofrimento e humilhação. E quanto mais formos semelhantes aqui neste mundo a Jesus Cristo, mais elevada será a nossa posição no céu.

5º Mas o que mais deve ser pensado em cada ocasião em que temos que sofrer, é que ao receber pacientemente nossos sofrimentos estamos cumprindo a vontade de Deus, pois Ele, que poderia muito bem ter evitado que tais sofrimentos chegassem até nós, tornou-os permitidos, e se ele os permite, é certamente para o nosso bem, já que a única coisa que ele quer para nós é o nosso bem maior. Aqui não entendemos porque ele permite tais contradições, pois nesta vida vemos o que Deus permite como quem olha um tapete de dentro para fora e só observa um grupo de trapos em desordem. Mas na outra vida veremos o tapete do lado direito e então teremos a convicção de que tudo o que Deus permitiu que nos acontecesse foi uma verdadeira obra de arte dedicada a nos santificar e a nos tornar dignos de grandes prêmios e de muita glória no paraíso. Quanto mais pacientemente aceitarmos o que Deus permite que aconteça conosco, mais feliz será o nosso Senhor.

CAPÍTULO 15

ALGUNS AVISOS IMPORTANTES SOBRE COMO DEVE SER APRESENTADO O COMBATE ESPIRITUAL. CONTRA QUE INIMIGOS VOCÊ TEM QUE COMBATER. E POR QUE MEIOS PODEM SER DERROTADOS

Antes de tudo devemos lembrar que o combate espiritual deve ser feito todos os dias e durante toda a nossa existência na terra. Nisto não podemos parar de lutar mesmo quando mal nos restam alguns minutos de vida. Este combate deve ser travado com constância e perseverança com a convicção absoluta de que por maiores e poderosos que sejam os inimigos da nossa santidade, e por mais mortíferos que sejam os seus ataques, muito mais poderoso é o Deus que nos protege e mais eficazes são as defesas que Ele quer nos fornecer. Cada um de nós pode repetir o que diz São Judas Tadeu em sua carta na Bíblia Sagrada: “Ao Deus Todo-Poderoso, que é capaz de nos manter vitoriosos na luta pela salvação e de libertar a nossa alma de toda mancha, a Ele glória e honra para sempre" (Judas 24-25).
O principal inimigo que deve ser combatido é o amor próprio, o orgulho, o desejo de satisfazer as próprias inclinações indevidas e de agradar as nossas paixões. E isso a tal ponto que as humilhações e os desprezos que as pessoas querem nos causar, e os retrocessos que vão contra os nossos gostos e inclinações já nos parecem agradáveis.
É preciso não esquecer que as vitórias neste campo são difíceis, imperfeitas, poucas e de curta duração. E não desanime se perceber que suas próprias forças já não são suficientes para alcançar a vitória, porque as energias que nos faltam serão dadas pelo bom Deus se lhe pedirmos com fé. Podemos sempre dizer com São Paulo: "Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece" (Fl 4,13).
Não devemos desanimar ao considerar quão grande é a multidão e a fúria dos inimigos da salvação, porque muito maior do que eles é o poder de Deus e a Sua bondade, e o amor que Ele tem por nós, e muito mais numeroso do que os adversários espirituais são os anjos do céu e as orações dos santos que se interessam por nós e nos acompanham no combate. Estas considerações têm encorajado tantas pessoas muito fracas e mal-inclinadas que, apesar das suas más inclinações e do ataque das suas paixões, conseguiram sair triunfantes na luta para permanecerem fiéis aos mandamentos do Senhor Deus.
Nem devemos desanimar ao perceber que os inimigos da alma são tão difíceis de derrotar e que a guerra espiritual é diária e de hora em hora, que não terminará até que a nossa vida na terra termine, e que nos encontramos ameaçados por todos os lados, e muitas vezes a ruína espiritual parece quase inevitável, porque, como diz Santo Agostinho: “Acontece com os inimigos da salvação como com um cão feroz amarrado a uma corrente: Ele não pode nos morder se não nos aproximarmos muito dele”. Podemos ter certeza de que nosso Divino Capitão não afrouxará tanto as correntes desses inimigos a ponto de permitir que nos destruam, se não nos aproximarmos deles de forma imprudente. Os inimigos do nosso Salvador nunca poderão dizer: “nós o derrotamos”. Deus luta conosco, e quando achar conveniente nos concederá vitórias se forem para o nosso bem e para sua maior glória, mesmo que muitas vezes acabemos feridos. Se decidirmos nunca parar de lutar, acabaremos recebendo a coroa que Deus reservou para os vencedores.

CAPÍTULO 16

A MANEIRA COMO NÓS, LUTADORES DE CRISTO, DEVEMOS PLANEJAR AS LUTAS TODAS AS MANHÃS

Todas as manhãs, depois de nos encomendarmos a Deus e dar graças por nos ter mantido vivos até hoje, e oferecer-lhe o que vamos fazer neste dia e confiar-nos à sua Divina Misericórdia para nos acompanhar em todas as horas do novo dia, devemos considerar imediatamente que estaremos num campo de batalha, na presença de numerosos inimigos da nossa salvação e com a necessidade absoluta de combatê-los e derrotá-los, se necessário, que não queremos ser dominados e cheios de infelicidade.

O teste de previsão.

Todas as manhãs, durante alguns minutos, devemos fazer o teste de previsão, que consiste em antecipar ou ver com antecedência quais são os inimigos que vão nos atacar hoje. Qual é o vício ou mau hábito que queremos dominar e evitar neste dia. Qual é a paixão dominante ou inclinação maligna que devemos rejeitar e refrear; que perigos serão apresentados hoje contra a nossa virtude. Que ocasiões podem surgir e nos colocar em risco de perder ou diminuir a nossa amizade com Deus. Imaginemos desde já que neste dia seremos acompanhados por um Grande Capitão, que é Jesus Cristo, o Amigo que nunca falha, e por alguns companheiros que nos ajudarão a lutar, como o anjo da guarda e os santos da nossa devoção a quem frequentemente imploramos e que nunca deixam de interceder por nós. Se temos medo de sermos atacados pelo diabo, que é o nosso inimigo mais feroz, invoquemos o glorioso Arcanjo São Miguel, que foi quem derrotou Lúcifer na batalha que ocorreu no céu (Ap 12).
Não esqueçamos que “somos templos do Espírito Santo” (1Co 3,16) e que o Espírito Divino nos conceda coragem e força para sairmos vitoriosos nas batalhas espirituais, se O invocarmos em nosso auxílio. O grito de guerra deveria ser as palavras do Salmo 69 que os antigos monges do deserto tantas vezes repetiam: “Meu Deus, vinde em meu auxílio. Senhor, apressa-te em ajudar-me”.
Quanto mais vezes os repetirmos, mais ajuda do céu chegará até nós.
Todas as manhãs deveríamos ouvir as palavras do Salmo 94 ditas a cada um de nós: “Espero que hoje você ouça a voz de Deus que lhe diz: “Não endureça o seu coração como os ex-rebeldes no deserto, que me enojaram e não os deixei entrar no meu descanso”.
Comecemos o dia invocando a Sagrada Família: “Jesus, José e Maria, entrego-vos o coração e a alma”, e ao nosso anjo da guarda: “Meu anjo da guarda, minha doce companhia, não me abandones nem de dia nem de noite”.
Todas as manhãs é preciso lembrar: “Qual é o meu defeito dominante?”. Qual é esse defeito que mais me faz cometer erros e que mais me causa derrotas espirituais? Cada pessoa tem uma falha dominante. É quase sempre um dos sete pecados capitais: orgulho, ganância, raiva, inveja, impureza, gula ou preguiça.
Qual é o defeito que pretendo combater este ano? Como vou enfrentar isso hoje? Se eu o derrotar obterei grandes prêmios de Deus, mas se ele me derrotar me encherá de tristeza e amargura. Tenho que me lembrar dos prêmios maravilhosos que Jesus Cristo prometeu aos vencedores. Ele diz no Apocalipse: “Eu venho e trago comigo o meu salário e darei a cada um segundo as suas obras. Farei dos vencedores herdeiros do meu Reino” (Ap 22). Mas é necessário que eu me lembre também que se me deixar dominar pelo meu defeito dominante, receberei o terrível dilaceramento interno que o pecado produz, e o sentimento humilhante de derrota e a amargura sem fim que toda derrota espiritual traz e o querer voltar atrás no relógio da vida para que a coisa ruim que pensei, disse ou fiz, nunca teria dito, pensado ou feito. Essa lembrança amarga leva a evitar novas quedas.

AO VENCEDOR SERÁ DADA A COROA DA GLÓRIA QUE NUNCA murcha

CAPÍTULO 17

COMO DEVEM SER SUPRIMIDOS OS MOVIMENTOS REPENTINOS DAS PAIXÕES

Há ataques imprevistos e traiçoeiros das paixões que, se a alma não for prevenida e preparada, podem trazer derrotas muito amargas. São como aquelas emboscadas que os bandidos armam às forças da ordem e que lhes causam baixas muito dolorosas, porque os surpreendem nos locais onde menos imaginavam e da forma que os militares não pensavam que iriam atacá-los. Assim é com a alma. Poderia ocorrer uma ofensa que não era esperada, uma humilhação da qual não se suspeitava, uma tentação impura inesperada, violenta e perigosa, uma depressão profunda depois de certos sucessos e de alguma alegria intensa, etc. O que fazer nestes casos?

1º Já falamos que o exame de previsão ajuda muito, ou seja, pensar com quem vamos lidar, onde estaremos, que ocasiões vamos nos apresentar, conjecturar e fazer cálculos do que pode acontecer a nós nesses casos. Assim, em qualquer ataque imprevisto dos inimigos da alma, estaremos preparados com cautela ou prudência para não nos deixarmos derrotar tão facilmente. “Soldado avisado não morre na guerra” ou se morrer custa mais para os inimigos eliminá-lo.

2º Nestes casos de ataques surpresa é muito conveniente elevar o coração a Deus e pedir a sua ajuda. Muitos sucumbiram à tentação porque naquele preciso momento se esqueceram de confiar em Nosso Senhor. Não há outro momento em que seja tão necessário, diríamos tão obrigatório, rezar, como nos momentos de tentação repentina e imprevista.

3º Se o ataque é a impaciência e a raiva: querer recorrer violentamente para defender os próprios direitos quando alguém se opõe a nós ou tenta impedir os nossos planos, e precisamos nesse momento sermos capazes de resistir ao mal sem nos deixarmos levar pela impaciência, então devemos pensar que esta decepção que nos chega certamente foi permitida por Deus porque com ela vai obter algum bem que por enquanto não entendemos o que é. Então você tem que dizer para si mesmo: “Mas por que não aceitar esta cruz que o Senhor me envia? Não é esta ou aquela pessoa que me traz esta decepção, é o Pai Celestial que permitiu e tudo permite que isso aconteça a mim para o meu maior bem. Quanto mais eu sofrer, mais me parecerei com o meu Redentor Crucificado, e quanto mais parecido eu for com Jesus, mais elevada será a minha posição na glória celestial. E fique pensando: o Divino Mestre disse que o Quem sofre pacientemente possuirá a terra. A raiva parece obter vitórias, mas o que consegue são derrotas espirituais. Por outro lado, a paciência tem a eficácia infinita de conquistar corações. A raiva deixa uma semente de ódio na alma do outro.
A mansidão fortalece a própria personalidade. A raiva a princípio parece justificada. A mansidão não aceita as falsas desculpas do mau humor. Se eu implorar a Jesus, Ele me enviará o Espírito Santo que me concederá a capacidade de dominar minha impaciência.

4º Um ótimo remédio. Para não sucumbirmos a ataques imprevistos, devemos gradualmente afastar e tentar diminuir o nosso carinho por aquilo que nos faz pecar. Assim, por exemplo, se for uma amizade prejudicial, lembre-se do que dizia São Paulo: “As más amizades corrompem os bons costumes” (1Co 15,33) e diga a si mesmo: “Esta amizade me faz muito mal de qualquer forma". Se o ataque de raiva é porque querem tirar algo que nos pertence, devemos nos convencer de que quanto menos apegados nossos corações estiverem aos bens da terra, mais livres seremos e mais nosso espírito se elevará em direção a Deus.

CAPÍTULO 18

FORMAS MUITO IMPORTANTES DE LUTAR CONTRA O VÍCIO DA IMPUREZA

Todos podemos repetir as palavras de São Paulo: “Sinto em mim uma lei da carne que luta continuamente contra o espírito que tem inclinações contrárias à carne” (Gl 5,17).
Contra o vício da impureza devemos lutar mais fortemente do que contra todos os outros porque é o mais traiçoeiro e aquele que nunca para de nos fazer guerra. Aonde quer que formos, levaremos nosso corpo, e ele sempre terá inclinações pecaminosas que, se forem negligenciadas, podem nos levar a cair no pecado no momento menos esperado. Na luta contra as impurezas é necessário utilizar certas técnicas que produzem resultados muito bons. Por exemplo:

ANTES DA TENTAÇÃO.

Devemos lutar contra as causas que nos inclinam para a impureza e evitar lidar com pessoas que possam ser ocasião de tentações pecaminosas. Lembremos que nesta questão da castidade são vencedores aqueles que sabem fugir a tempo, porque se nos expormos à ocasião, sempre se cumprirá aquela advertência repetida pelos antigos mestres espirituais: "Quando chegar a ocasião, e quando quiser, você cairá todas as vezes." .
É inútil levar um pedaço de papel ao fogo e dizer: “Não quero que queime”. Não importa quanto propósito tenhamos para que não queime, ele queimará.
Se por obrigação tivermos que tratar certos exemplares humanos que nos atraem muito fortemente, é necessário fazer o sacrifício de nos mostrarmos frios e quase indiferentes no tratamento, porque qualquer que seja a liberdade que dermos ao nosso sentimentalismo, ele explodirá como as águas do uma represa quando as comportas se abrirem, arrastará e levará para o abismo todas as nossas boas intenções de preservar a santa pureza.

Você nunca pode confiar em si mesmo.

Embora sirvamos a Deus há 25 anos ou mais, lembremo-nos de que o espírito de impureza geralmente faz em uma hora o que não foi capaz de fazer em muitos anos. E quando menos suspeitamos ele pode tomar uma atitude traiçoeira e nos derrotar. Mesmo que tivéssemos a força de Sansão, a coragem de Davi e a sabedoria de Salomão, pode acontecer que, se nos expormos à ocasião, caiamos tão miseravelmente em pecados impuros como aconteceu com aqueles personagens famosos. Nisto não há quem possa afirmar: “Não vou beber desta água”. E é o esgoto mais podre e venenoso que existe.

Cuidado com certas amizades espirituais.

A experiência mostra todos os dias que o perigo nunca é tão traiçoeiro como quando se contraem certas amizades que não são temidas porque parecem tão inofensivas que não se pode suspeitar que o inimigo da salvação esteja ali em busca da nossa ruína. Por exemplo amizades entre primos, entre tios e sobrinhas, entre cunhados; ou amigos por motivos de gratidão, porque essa pessoa nos fez um favor (ou pretende fazê-lo) ou porque as suas qualidades são muito apreciadas ou a sabedoria e os bons conselhos que sabe dar, ou precisa receber, etc. Começam as visitas frequentes. As longas conversas, os pequenos presentes, e entretanto o veneno do deleite do sentimentalismo e da alegria dos sentidos infiltra-se nestas amizades, e a alma excita-se sensivelmente, a razão cega, aos poucos desaparece o nome de tio, primo, cunhado, benfeitor, amigo, conselheiro, etc., restando apenas o nome “pessoa do outro sexo”, “pessoa cuja presença agrada à sensibilidade e ao sentimentalismo”. E agora em vez de poder dizer: “eu te amo” o que se pode dizer é “eu gosto de você”, “me sinto atraído por você”... e as quedas graves estão se aproximando perigosamente.
Não devemos confiar nas resoluções e nas boas intenções que foram tomadas, porque mesmo que tenhamos proposto morrer antes de ofender a Deus, se acendermos o amor sensual com conversas doces, melosas e frequentes, a paixão assumirá tal forma que o nosso coração que não se importará mais com o fato de a outra pessoa ser um parente, familiar ou espiritualmente direcionado ou aspirando a um grau especial de santidade e enquanto a inclinação pecaminosa for satisfeita, todos os deveres serão esquecidos e até mesmo a santa lei de Deus, estamos interessado em dar escândalo e perder uma boa reputação perante os outros. E nestes casos, todas as exortações dos amigos, os propósitos e planos que foram feitos para preservar a santa virtude serão inúteis e vãos, esqueceremos o medo de ofender e desagradar a Deus, e mesmo que estivéssemos diante do fogo do inferno não deteríamos os impulsos aos quais nos conduzem as chamas impuras da nossa paixão sensual. Então só nos resta uma solução: fugir, fugir, como se foge de uma cobra venenosa ou de alguém com uma infecção altamente contagiosa ou de um cachorro louco, ou de um louco que ataca com um facão afiado ou de um touro feroz que ataca tudo que encontra. Fujamos, se não queremos perder a vida da alma, a paz do coração e as bênçãos de Deus.

CAPÍTULO 19

OUTROS MÉTODOS EFICAZES PARA EVITAR CAIR NA IMPUREZA

1o Devemos evitar a ociosidade. Em águas estagnadas, todos os insetos nocivos e infecções mortais se multiplicam. É necessário estar sempre tão ocupado que possamos responder ao que aquele discípulo disse ao seu santo diretor espiritual que o aconselhou que para evitar tentações impuras deveria estar sempre dedicado a ocupações que ocupassem todo o seu tempo. Quando o Padre lhe perguntou se naqueles dias ele havia sido tentado, ele respondeu: “E com que tempo?” Um grande mestre espiritual exclamou: “Pode causar mais dano a uma alma não fazer nada do que sofrer tentações do diabo”. O que realmente vale a pena ponderar.

2o Não julgue mal os outros. Casiano conta que um monge se dedicou a julgar os outros com tanta severidade que o Senhor permitiu que tentações quase enlouquecedoras o atingissem e ao consultar o Padre Abade, este lhe disse: “É a consequência de ter se dedicado a condenar os outros no tribunal do seu cérebro. Não condene ninguém e você verá que o fogo de suas paixões se apagará". Ele o fez e descansou dos ataques tão terríveis.
Quando sabemos que alguém caiu em pecados escandalosos, pensamos: “Se eu estivesse naquele caso com os sentimentos e as fraquezas que me dominam, talvez tivesse pecado igual ou ainda pior”. E repitamos o que dizia Santo Agostinho: “Não há pecado que outro ser humano tenha cometido que eu não possa cometer”. E em vez de desprezar o outro ou fofocar ou criticar ou publicar as suas faltas, rezemos pela sua conversão, peçamos a Deus que lhe conceda a força de vontade para não continuar caindo, e caminhemos com maior prudência para que a próxima vítima seja que os inimigos da alma consigam derrotar, não sejamos nós.
Lembremo-nos que se tivermos facilidade em julgar e condenar os outros e em desprezá-los, Deus nos corrigirá às nossas próprias custas, permitindo-nos cair nas mesmas faltas que condenamos, para que reconheçamos o nosso orgulho e, assim, cheios de humildade, corrigir-nos do mau hábito de sair por aí condenando e depreciando os outros. Porque pode cumprir-se o que dizia São Paulo: "Por que condenais os outros, se fazeis o mesmo que condenais?"
(Rm 2).
Se vivermos condenando e desprezando os outros, estaremos sempre em perigo de cair nas mesmas faltas que condenamos e publicamos.

E TENHA MUITO CUIDADO COM OS PENSAMENTOS DE ORGULHO

Um diretor espiritual muito experiente afirmou: "Quando vejo que alguém aceita de bom grado pensamentos de orgulho, tenho certeza de que lhe sobrevirão terríveis tentações de impureza e quedas humilhantes. Porque "Deus resiste aos orgulhosos "(Tg 4,6).
Se alguém está convencido de que já atingiu tal perfeição que os inimigos de sua pureza não estão em condições de fazer a guerra e derrotá-lo, e ele os olha com desprezo, sob a ilusão de que já tem bastante antipatia por eles por nojo e horror por não aceitar suas sugestões, pode acontecer que ele caia com mais facilidade.

E O QUE FAZER QUANDO CHEGA A TENTAÇÃO?

A primeira coisa a fazer nestes casos é descobrir de onde vem a tentação, seja de fora ou de dentro. Se vem de fora pelos olhos, pelos ouvidos, pelas amizades perigosas, pelas ideias vergonhosas que se espalham entre as pessoas, ou pelas modas indecorosas. Ou se, em vez disso, vem de dentro: da nossa imaginação, dos desejos sensuais que nos assaltam, dos maus pensamentos ou das memórias indevidas, ou dos maus hábitos que adquirimos.
Se vem de fora é absolutamente necessário frear os sentidos para poder controlá-los. “Olhos que não veem, coração que não sente”, diz o ditado.
Mas olhos que veem, um coração que sente e provavelmente também consente. É preciso fazer o pacto que São Jó fez com os olhos. Ele diz: “Concordamos em não olhar para corpos atraentes” (Jb 31,1). Certas canções não têm “letra”, mas sim “latrina”, e se as ouvimos com prazer ficamos entusiasmados com o mal. Conversas impuras às vezes causam mais excitação do que tateios, e isso é um desastre para a alma. Há certos “exemplos” humanos cuja proximidade nos torna tão inclinados ao pecado, que se não evitarmos o seu tratamento e a sua amizade e não nos afastarmos da sua presença a tempo, iremos diretamente para a nossa ruína espiritual. Mais tarde lamentaremos as quedas, mas será tarde demais. Temos que repeti-los com coragem (mesmo que apenas em pensamento). "Sua amizade faz mal à minha alma. Sua companhia me traz muito mais mal do que bem." Se o ataque vem de dentro, devido aos nossos maus desejos ou pensamentos impuros ou maus hábitos adquiridos, é absolutamente necessário fazer algumas pequenas mortificações de vez em quando. Deixar de comer alguma coisa, parar de beber de vez em quando quando tivermos vontade, etc., porque a mortificação fortalece a vontade. E encher a mente de bons pensamentos através de leituras piedosas e lembranças de fatos edificantes como os narrados na Bíblia Sagrada ou os que são lidos nas Vidas dos Santos ou nos livros formativos. Duas ideias não podem existir no cérebro ao mesmo tempo. Portanto, se, com boas lembranças e leituras proveitosas, enchermos o cérebro de ideias santas, elas ocuparão espaço das ideias pecaminosas e estas terão que ir embora. Mas se descobrirem que o cérebro está vazio de ideias úteis, aproveitarão a oportunidade para se aninhar ali e causar danos terríveis à alma e à personalidade.

Como orar em tentação.

No Evangelho há uma advertência de Jesus que nunca devemos esquecer ou deixar de cumprir. Diz assim: “Orai, para não cair em tentação. Porque o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 27,41) e o Divino Mestre acrescenta uma advertência de enorme importância: “Certos espíritos impuros não afastam-se, exceto com a oração" (Mc 9,29). Quando a tentação chega até nós, é necessário levantar muitos pequenos pedidos a Deus para que venham em nosso auxílio. O que diríamos de um capitão que, ao ver seu batalhão atacado por forças que o superam em número e peso, não enviou mensagens ao comando superior pedindo reforços? E nós, sentindo o ataque do mundo, do diabo e da carne, ficaremos sem pedir ajuda ao Senhor Deus dos Exércitos?
É necessário dizer-lhe com o Salmo: “Olha, Senhor, eles me atacam e não tenho para onde fugir. Luta, Senhor, contra aqueles que me guerreiam, e dize à minha alma: “Eu sou a tua vitória” (Sl 34). “Não entregues à fúria dos falcões assassinos esta pomba indefesa que é a minha pobre alma” “Não me abandones, Deus da minha Salvação” “Não abandones a obra das tuas mãos” etc.

Um remédio muito útil.

Muitas pessoas têm experimentado com grande proveito alcançar a vitória contra as tentações, olhando fixa e afetuosamente para o crucifixo, e pensando em cada uma das feridas de Jesus, as das mãos, dos pés e do lado, dizendo-lhe com São Bernardo: "Senhor: quando o falcão traiçoeiro das minhas tentações me ataca para tirar minha vida da graça e da amizade com Deus, eu, como um passarinho tímido, voo com meus pensamentos para me esconder naquelas fendas salvadoras da minha Rocha, naquelas suas cinco feridas, e ali consigo me ver livre do inimigo traiçoeiro”. "Jesus: você morreu por mim, e eu, que sacrifício farei para preservar a sua santa amizade? Rogo-lhe que imprima em minha alma os mais vívidos sentimentos de fé, esperança e caridade, tristeza pelos meus pecados e resolução de nunca mais ofender-te, enquanto que com o maior amor possível estou considerando as tuas cinco feridas, lembrando-me daquelas palavras tuas, meu Deus, disse o santo profeta Davi: "Traspassaram-me as mãos, os meus pés e todos os meus ossos podem ser contados."

"Algo para não pensar."

Há um erro em muitas pessoas que pode lhes causar grandes danos, consiste em acreditar que para fugir da tentação, principalmente da tentação da impureza, devem se dedicar a pensar o quão ruim e feio é esse pecado. Isso é extremamente prejudicial porque produz a “fixação” da mente no que é impuro, o que aumenta e excita mais as tentações e inclinações pecaminosas, e coloca a vontade em perigo de se deliciar com essas lembranças e então consentir com o que a deleita. O oposto disso é verdade. O adequado nestes casos é separar completamente a imaginação, o pensamento ou a memória dos objetos impuros e dedicar-se a pensar em outras coisas. Porque se você parar de pensar em querer repeli-los e considerá-los prejudiciais e perigosos, o que você consegue é ficar mais obcecado com essas questões e registrá-las em sua mente. E como o cérebro é quem dirige toda a sexualidade humana, se for infectado e envenenado com essas memórias e ideias fixas, todo o organismo se perverte e vai diretamente para o mal.
Lembrar dessas coisas é uma artimanha do diabo que se disfarça de anjo de luz.
Por outro lado, se nos dedicarmos a pensar na Paixão e Morte de Jesus, esta memória benéfica conseguirá afastar pensamentos nocivos. Não nos dediquemos a lembrar as impurezas que tivemos, nem mesmo para nos arrepender e rejeitá-las, mas considerando-as como obras do diabo, procuremos nunca pensar nelas. E nestas situações de dificuldade mostremos que sabemos dirigir-nos à Santíssima Virgem. Ela sempre ajuda admiravelmente.

CAPÍTULO 20

A MANEIRA DE LUTAR CONTRA O VÍCIO DA PREGUIÇA

O Livro dos Provérbios diz: “Passei pelo campo dos preguiçosos: todo mato, todo descuido. e a pobreza chegará como uma correspondência, sem destinatário errado" (Pr 24,30). É necessário tentar combater o vício da preguiça porque este defeito não só nos impede de alcançar a santidade, mas também nos entrega gradualmente nas mãos dos inimigos da nossa salvação.

A abelha.

Salomão em Provérbios diz: “Olha a abelha como ela trabalha continuamente. É um exemplo digno de imitação”. (Pr 6,6). E o fabulista Esopo contou que a cigarra que passa o tempo bom cantando, quando chega o mau tempo, vai até a formiga pedir-lhe um pouco de comida e a formiga responde: "Enquanto eu trabalhava, você descansou e cantou. Agora enquanto eu aproveito minhas provisões, você morre de fome e sofre." É um retrato do que espera tanta gente que se dedica à preguiça.

Um inimigo.

Em primeiro lugar, devemos fugir da vã curiosidade. De querer ficar por dentro das últimas notícias que aconteceram perto ou longe. Já dissemos que os antigos repetiam o provérbio: “Para saber novidades, não se preocupe, porque quando envelhecerem serão facilmente conhecidas”.
Quantas coisas e novidades existem que por não sabermos não perderemos nada e teremos mais paz.

Cumprir o dever.

Os romanos diziam que o melhor remédio para vencer a preguiça é “fazer sempre o que deve ser feito, e fazê-lo bem”. E uma santa recomendou aos que ela orientava: “Que Deus, ao nos ver trabalhar, diga: ‘Muito bem’”.

Cuidado com um mau hábito.

Também dissemos anteriormente que quem dirige as almas afirma que a pior coisa que pode acontecer a uma pessoa neste mundo é adquirir um mau costume, um mau hábito. Isto se torna uma nova natureza e escraviza completamente a alma. Assim, se adquirirmos o mau costume ou hábito de nos deixarmos levar pela preguiça, isso tornará a nossa personalidade atrofiada e paralisará a nossa vontade.

Deixe o funeral continuar. Lendas antigas dizem que uma jovem ficou tão preguiçosa que não queria mais fazer nenhum trabalho doméstico.
"Você me dá eles já amassados ​​e transformados em pão torrado?" "Não, não é mais assim sem amassar ou torrar." E a preguiçosa muito calma deitou-se novamente no caixão e exclamou: “Então: deixe o enterro continuar”. Quantas pobres vítimas da preguiça dizem a mesma coisa no mundo de hoje. Contanto que você não precise trabalhar ou fazer esforço, que o funeral continue! E continuam a caminhar em direção ao fracasso e à miséria final. Que fatalidade!

Tenha cuidado com a precipitação.

Uma das especialidades em que a preguiça se manifesta é que as coisas são feitas às pressas, a toda velocidade, de forma descuidada e mal feita. É melhor fazer pouco e bem feito e com cuidado do que fazer muitas coisas levianamente e descuidadamente. O que Deus recompensará não será apenas o número de obras que fizemos, mas sobretudo o cuidado e a dedicação com que as fizemos. É melhor fazer menos obras mas bem feitas, do que dedicar-se a muitas coisas e deixá-las cambonticamente pela metade.

Um aviso assustador.

Deus diz no Apocalipse: “Tenho algo contra alguns, e é que perderam o entusiasmo que tinham no início. são mornos, indiferentes, vou vomitá-los de minha "boca" (Ap 3,16).

DEUS TIRA O QUE NÃO É USADO

É preciso lembrar que Deus tira aos poucos seus dons a quem se deixa vencer pela preguiça e pela tibieza, e os concede em abundância a quem se dedica com diligência e fervor fazer bem o que fazem. Eles têm que fazer. Existem carismas ou dons celestiais que se perdem porque não foram utilizados. Por que o Criador vai dar ajuda especial àqueles que não fazem esforço para usá-la e tirar vantagem dela?

Divida-os e você os conquistará.

Os antigos guerreiros romanos, quando enviaram um novo líder para combater os inimigos, deram-lhe este conselho tático: "divida-os e você os derrotará. Não ataque todos quando estiverem em um único grupo, mas em setores e desta forma você será capaz de derrotá-los mais facilmente." Algo semelhante deve ser aconselhado na luta espiritual. Não digamos: “Vou vencer de uma vez por todas todos os meus defeitos”. Isso é o mesmo que não dizer nada. Por outro lado, se dissermos: “Este ano vou combater tal defeito que tenho”, então vamos concentrar todas as nossas energias de combate num único ponto, conseguiremos boas vitórias e o que a Imitação de Cristo diz que se cumprirá: “Qualquer ano que lutar arduamente contra um dos seus defeitos, conseguirá atingir uma perfeição muito especial.

Apenas um dia todos os dias.

Algo semelhante ao acima deve ser avisado em relação ao tempo. Não digamos: “Vou passar a vida inteira lutando contra esses defeitos”. Uma afirmação como essa pode nos desanimar porque a luta parece muito longa. Mas se dissermos: “Hoje, mesmo que seja só por hoje, durante estas 12 horas vou lutar contra o meu defeito dominante”, então a luta nos parecerá mais suportável, porque um dia seremos capazes de lutar. Amanhã tentaremos dizer o mesmo e assim cumpriremos o que Jesus aconselhou: “Não vos preocupeis com o amanhã. Pois cada a dia bastam as suas preocupações” (Mt 6.3.4). Perguntaram a uma grande santa por que não desanimava na sua luta para alcançar a santidade e para superar os seus defeitos e superar as dificuldades que encontrava e ela respondeu: "Acontece que só vivo um dia por dia. Durante 12 ou 24 horas Atrevo-me sim a lutar, confiando na poderosa ajuda de Deus, mas se pensasse na luta de todos os 365 dias do ano e nos dias que me restam de existência na terra, ficaria cheio de desânimo. e preguiça. Mas apenas um dia por dia, quem não é capaz de resistir e lutar?"

Ore por pequenas parcelas.

Essa mesma técnica deve ser utilizada na oração, para evitar que a preguiça nos domine. Não tente prestar muita atenção durante uma hora inteira, nem mesmo meia hora. Mas, em vez disso, diga a si mesmo: “Vou orar com amor e fervor nos próximos cinco minutos”.
Mais tarde, se a preguiça e a decepção me vierem, suspendo a oração. E assim por diante nos próximos cinco minutos. E assim depois de 20 minutos ou meia hora você já se sente cansado e desanimado de orar, então suspenda a oração para não aumentar o descontentamento e o desgosto, pois essa interrupção, ao invés de nos causar mal, pode servir de descanso e depois voltar para a oração com maior fervor. Os antigos monges do deserto, quando sentiram que a preguiça e a relutância em orar estavam chegando, dedicavam-se a fazer apenas pequenas orações que erao como uma flecha que era enviada com uma mensagem. E a pequena oração é uma pequena flecha espiritual que enviamos ao céu com uma mensagem pedindo ajuda ou agradecendo). Quantas pequenas orações envio ao céu todos os dias? Houve santos que disseram até mil por dia.
Quantos direi? E com quanto amor ao bom Deus, ou à Santíssima Virgem, ou ao meu anjo, ou aos santos?

Uma lista muito benéfica.

A experiência tem mostrado que quando você tem muitas coisas para fazer, é de grande benefício e utilidade fazer uma lista das dez principais coisas a fazer, listá-las em ordem de importância e tentar fazê-las nessa ordem. E se tivermos diversas ocupações, elas nos parecem muitas e até difíceis, isso pode nos trazer inquietação, ansiedade, desgaste nervoso e até mau humor. Mas se nos propusermos a realizar apenas os dez mais importantes e fizermos uma lista de acordo com a ordem de importância que têm, e os realizarmos um a um, como se cada um fosse a única coisa que temos que fazer na vida, sem nos dedicarmos a pensar em um trabalho enquanto fazemos outro, nosso desempenho será admirável, a paz e a tranquilidade nos acompanharão e o desgaste nervoso será muito menor. Cada trabalho deve ser feito como se fosse o único que temos que fazer na vida, e com todo o cuidado possível. Este é um grande segredo para adquirir perfeição e santidade.

Aviso.

Se não cumprirmos os conselhos acima, pode acontecer que a preguiça nos domine e que ao deixar muitos deveres por cumprir, as obrigações e comissões se acumulem até acabarmos com grande perturbação ou inquietação na alma, nervosismo e pressa no que fazemos. e negligenciar nas tarefas diárias. E o que Cristo narrou sobre as cinco virgens loucas que deixaram até o último minuto para pegar o óleo para suas lâmpadas pode acontecer conosco e quando quiseram entrar no banquete da santidade as portas já estavam fechadas e elas ficaram do lado de fora (cf. Mt 25,1-13).
Lembremo-nos todos os dias que quem nos deu a manhã não nos promete que nos dará a tarde e que quem nos deu hoje não prometeu nos dar amanhã.
Aproveitemos este dia como se fosse o último das nossas vidas e não esqueçamos que na hora da morte teremos que prestar contas a Deus da forma como passamos todos os momentos da nossa vida.
Por fim, convençamo-nos de que podemos considerar perdido o dia em que não cumprimos bem os nossos deveres e não fizemos o que deveríamos fazer naquele dia, ou o fizemos de forma descuidada e mal. Ao dia em que não obtivemos vitórias contra a nossa preguiça e contra a relutância que sentimos pelo trabalho, podemos dar-lhe este título: “Dia perdido”.
Que não passe um dia de nossas vidas sem vencer nossas más inclinações, sem dar graças e louvor a Deus por seus benefícios e bondade, e sem lembrar a maravilhosa obra que Jesus Cristo fez ao oferecer sua vida, paixão e morte para alcançar a salvação da nossa alma A Ele seja a glória junto com o Pai e o Espírito Santo por séculos infinitos. Amém.

E O SENHOR DIRÁ: 'PORQUE FOSTE FIEL NO POUCO, TE CONSTITUIRÁ ACIMA DO MUITO' (Lc 19,17)

CAPÍTULO 21

COMO DEVEMOS GOVERNAR OS NOSSOS SENTIDOS E USÁ-LOS PARA CONTEMPLAR AS REALIDADES DIVINAS

Um dos cuidados mais delicados o que devemos ter sempre é saber governar bem os nossos sentidos, porque a natureza corrupta os inclina e os incita incontrolavelmente a dedicar-se aos deleites e aos excessos, e a tentar obter o gozo sensual excessivo e assim prejudicar a vontade, enganar o entendimento e manchar a alma.

OS MEDICAMENTOS

Os autores espirituais experimentaram alguns remédios que produziram efeitos muito bons para poder governar bem os sentidos e mantê-los voltados para o sobrenatural. São os seguintes:
A primeira coisa a fazer é não dar muita liberdade aos sentidos e saber controlá-los de tal forma que se dediquem apenas ao necessário e não às falsas delícias, ou aos gostos exagerados, porque se lhes dermos muita liberdade, eles vão causar danos muito graves à alma e vão impedi-la muito no caminho da perfeição. Toda pessoa que se dedica a tentar alcançar a santidade deveria poder repetir o que dizia aquele santo: “Nunca concedi aos meus sentidos uma delícia que Nosso Senhor não gostasse”.

As cinco cabras.

Santo Agostinho disse que temos que percorrer os caminhos desta vida guiando cinco cabras extremamente inquietas, o que ao mesmo tempo nos ajuda muito a tornar mais agradável e prazerosa a nossa caminhada rumo à eternidade. elas vão para onde quiserem, podem nos mergulhar em abismos muito perigosos. E que essas 5 cabras são os cinco sentidos. Os santos sempre tiveram muito cuidado para não alongar muito o vínculo com o qual mantinham os sentidos e assim conseguiam mantê-los disciplinados, isso os ajudava muito a alcançar a perfeição.

Como sublimar a vista.

Chamamos de sublimação aquele esforço que fazemos para elevar nossos pensamentos a esferas superiores. De vez em quando devemos pensar que os olhos foram feitos para ver Deus e que “o veremos como ele é” (1Jo 3,2). Quando Natanael ficou maravilhado com as maravilhas que via, Jesus disse-lhe algo que agora diz a cada um dos seus seguidores: “Vereis mais tarde maravilhas muito maiores” (Jo 1,50) e na sua oração sacerdotal na Última Ceia pediu ao Pai celeste para todos aqueles que amamos, um imenso favor: “Que um dia possam contemplar a glória que me deste” (Jo 17,24).
Pensemos de vez em quando: “Meus olhos foram feitos para que eu pudesse ver Deus e os seres celestiais, e não quero turvar ou manchar minha visão parando de gastá-la para ver o que poderia me prejudicar aqui na terras." Os antigos repetiam um lema latino que diz: “Ad maiora nati sumus”: “Nascemos para ações muito mais elevadas”. Por que ficar como galinhas vasculhando as latas de lixo da terra, se podemos olhar para o céu como águias?

Uma comparação que impressionou muito.

Uma santa que escreveu livros belíssimos sobre o misticismo, ou seja, a arte de elevar a alma a Deus e ao celestial, narra o que lhe aconteceu quando iniciou sua vida de ascensão espiritual. Seu principal defeito era sentir muito afeto sensível por pessoas que possuíam uma beleza física especial, e isso o impediu de forma prejudicial em seu caminho para a santidade. Depois dedicou-se a pedir a Nosso Senhor com especial fé que a curasse dessas paixões prejudiciais e lhe foi concedido, por um breve momento, um vislumbre do rosto glorioso de Jesus Cristo no céu. E ela diz que desde então as belezas das criaturas humanas da terra pareciam-lhe tão pouco atraentes como se fossem baratas e em vez de sentir paixões sensíveis pelos belos seres deste mundo, o que ela começou a ter foi uma “santa indiferença”. "antes de toda beleza que deve morrer e virar pus e vermes. Se o Senhor nos concedesse tal favor, obteríamos uma impressionante liberdade espiritual que nos permitiria subir muito alto em nossa vida espiritual.
Pensemos que toda beleza que existe nesta terra foi criada por Deus. E se essas belas criaturas são tão agradáveis ​​à nossa vista, quanto mais o Criador de toda beleza deveria nos atrair? Por isso um santo exclamou: “Ó Deus, se neste mundo que passa e morre há tanta beleza, quão maior será a tua beleza infinita, se o Criador de toda beleza do mundo és Tu? "Se eu puder antes elevar minha mente e meu coração a Deus, o autor de toda beleza, cuja beleza e bondade serão meu santo deleite por toda a eternidade?"

O GOSTO

Ao comermos alguma comida agradável, pensemos no banquete celestial onde saborearemos para sempre as mais deliciosas iguarias, e façamos nossas as palavras do evangelho: “Bem-aventurados aqueles que conseguem chegar ao banquete do Reino de Deus”. (Lc 14,15). Quando sentirmos uma sede forte, lembremo-nos daquela sede ardente que Jesus sofreu na cruz. Conta-se de uma santa que na parte mais quente do verão, quando era atormentada pela sede, se dedicou a pensar na terrível secura da garganta que Jesus sofreu quando foi crucificado, tão forte e terrível que o forçou gritar “Tenho sede” e meditando neste tormento do Redentor foi encorajada a sofrer também o martírio da sede, pela salvação das almas. Que a memória da sede de Jesus no Calvário nos leve a nunca beber mais do que o necessário.

O OLFATO

Quando sentirmos um cheiro suave e agradável, e saborearmos o aroma das flores e dos perfumes refinados, que segundo o Livro dos Provérbios, “alegram o coração” (Pr 27,9), lembremo-nos que o Livro do Apocalipse anuncia que todos os dias “os seres celestes trazem diante do Trono de Nosso Senhor alguns cálices muito suaves e aromáticos, cheios de perfumes e esse incenso são as orações dos fiéis na terra” (cf. Ap 5,8). E quando tivermos que experimentar o nojo de algum fedor desagradável, especialmente aquele que vem de algumas pessoas gravemente doentes ou de certos corpos em decomposição, não esqueçamos que é assim e muito pior, o fedor de uma alma em pecado, o que é verdadeiramente desagradável diante da presença de Deus e de seus santos. E aquela alma em tão grave estado de decomposição pode ser nossa se vivermos em paz com algum pecado, porque então as palavras do Livro Sagrado podem ser repetidas para nós: Você parece estar vivo, mas está morto” ( Rev3,1). Digamos a Nosso Senhor: "Espero que na nossa vida possamos repetir o que São Paulo afirmou a alguns dos seus fiéis: "O seu sacrifício sobe até Deus como um aroma suave que Ele aceita com prazer" (Fl 4,18).

O OUVIDO

Quando ouvirmos uma música muito agradável, lembremo-nos de que toda melodia verdadeiramente bela é inspirada pelo Espírito Santo. Quando os artistas compõem algumas peças musicais famosas, podem afirmar o que disse um autor de fama universal: “enquanto componho a minha música, só me resta escrevê-la, porque ela chega ao meu cérebro e aos meus ouvidos, como se viesse do céu. E ao ouvir algumas peças musicais que nos emocionam e trazem alegria à nossa alma, dizemos: “Se isto é aqui no exílio, como será lá na verdadeira Pátria onde a inspiração será total?" Em uma catedral, enquanto orquestras e coros cantavam belas composições musicais, um famoso arcebispo, tremendo de emoção, disse à pessoa que estava ao seu lado: 'Meu irmão: se é assim que é aqui, Como será no céu?' “Isso é o que se chama sublimar o que entra pelos sentidos.”

CAPÍTULO 22

COMO PODEMOS USAR OS SERES VISÍVEIS PARA ELEVAR O NOSSO CORAÇÃO A DEUS

Certos santos como São Francisco, Santo António de Pádua, São Domingos de Guzmán, Santa Gertrudes e muitos mais, receberam do Espírito Santo o dom da piedade que consiste em sentir por Deus um carinho como aquele que as crianças mais gratas do mundo sentem pelos pais mais gentis que existem. E este dom de piedade fez com que recorressem aos mais diversos seres sensíveis para elevar o coração ao bom Deus.

Assim, São Francisco ouviu o canto dos pássaros e exclamou: “Passarinhos da floresta, com o seu canto vocês me ensinam a nunca parar de louvar ao meu Deus e de cantar em sua homenagem”. E vi as lindas flores do campo e disse-lhes: “Por favor: continuem me lembrando que eu também devo viver sempre orientado para o céu, para o meu sol que é Jesus Cristo e exalar continuamente o perfume das minhas orações”. Santo Antônio de Pádua caminhava pelos campos cantando alegremente e dizendo: “Quero unir-me à voz dos pássaros e ao perfume das flores e ao ressoar das correntes das águas, para louvar e abençoar o meu Criador”. São Domingos fez algo semelhante.

Conta-se que uma santa, no meio das mais terríveis tempestades, enquanto os outros se escondiam com medo dos raios, olhou para a varanda de sua casa e exclamou sorrindo: "Quão poderoso é meu Deus Pai. Que maravilhoso ter como Pai e amigo s o ser mais poderoso que existe!"
Um menino que em muito pouco tempo alcançou grande santidade disse ao pai numa noite estrelada olhando para o céu: “Pai, se o céu é tão lindo deste lado, como será do outro lado?” E se emocionou pensando no Paraíso que nos espera.

O Salmo 8 diz: “Ó Senhor, quando olho para o céu, obra das tuas mãos, para a lua e as estrelas que criaste, pergunto-me: O que é o homem para que te lembres dele?”
São Francisco de Assis, quando viu no campo um cordeirinho branco, lindo, inocente, manso e pacífico, pegou-o nos braços e disse com entusiasmo: “Ó cordeirinho imaculado, que se deixa levar ao matadouro sem oferecer a menor resistência; quanto “você me lembra o caríssimo Cordeiro de Deus que foi levado ao Calvário sem oferecer a menor oposição, e que morreu sem causar dano a ninguém e demonstrando a mais admirável mansidão e a mais perfeita inocência”.

Quando sentirmos cair um forte aguaceiro ou uma garoa contínua, pensemos que estas são as graças e a ajuda que Deus nos envia do céu, às vezes grandes e vistosas como as águas de um forte aguaceiro, e outras vezes pequenas mas contínuas como as de um forte aguaceiro. uma garoa suave.
Quando virmos algumas árvores frutíferas, perguntemo-nos: "Estarei produzindo frutos de vida eterna em minha vida? Ou serei uma árvore que não dá frutos ou dá frutos ruins e o machado da justiça divina virá para me despedaçar e me jogar no fogo?"

Às vezes, quando ouvimos um galo cantar, pensemos: “O que esse galo a cantar me está me dizendo? Será que me dirá como São Pedro: “Você negou o seu Senhor. Pede-lhe perdão?"
Se nos aproximarmos da margem de um rio, pensemos: "Nossas vidas são as águas que correm em direção ao mar, que é a morte. Lá encontraremos o oceano infinito que é o Poder e a Bondade de Deus...
Quando virmos uma imagem da Santíssima Virgem, lembremo-nos que esta boa Mãe nos espera no céu e está pronta a vir ajudar-nos na terra sempre que pedimos a sua poderosa proteção. Pensemos o mesmo quando vemos a imagem de um anjo ou de um santo.

Quando virmos uma pomba voar, pensemos no Espírito Santo, e quando contemplarmos uma mãe abraçando seu filho, lembremo-nos do que Deus diz na Sagrada Escritura: “Assim como uma mãe consola seu filho, assim eu consolarei meus fiéis." (Is 66,13).

QUE A NOSSA MENTE SEJA DIRECIONADA PARA ONDE NOS ESPERAM AS VERDADEIRAS ALEGRIAS Cf. “REZEMOS” de uma Santa Missa.

CAPÍTULO 23

DO MODO DE GOVERNAR A LÍNGUA

O Salmo 18 faz um importante pedido a Deus: “Ó Senhor, que as palavras da minha boca te sejam tão agradáveis, e por isso também os pensamentos do meu coração te sejam agradáveis." Para que a linguagem humana esteja contida nos limites da prudência, deve ser governada com cuidado, porque todos estamos inclinados a falar mais do que deveríamos e a dizer o que não é apropriado. Ou como diz o apóstolo Tiago: “Os seres humanos são até capazes de domar eles próprios os animais selvagens. Mas a única coisa que não podemos dominar completamente é a nossa própria língua” (cf. Tg. 3).
Falar demais quase sempre resulta da falta de autocontrole. E assim como não se pode controlar a própria língua, também não se pode controlar outras inclinações indevidas da natureza. Falar muito também vem do prazer que sentimos em nos ouvir, esquecendo que os outros não sentem ao nos ouvir a mesma satisfação que sentimos quando falamos.
Não se deve confiar muito nesses sacos cheios de palavras, dizem os psicólogos. Falar demais pode vir do fato de sermos muito apaixonados pela nossa própria opinião e querermos impô-la aos outros, tentando dominar a conversa e fazer com que todos nos ouçam como professores.
A loquacidade ou o hábito de falar demais tem consequências prejudiciais.
Isso leva à preguiça (A pessoa loquaz tem a língua mais comprida que a mão, diz o ditado, o que significa que suas obras não equivalem às suas palavras). Em muita conversa não faltará pecado, afirma o livro de Provérbios. Acontece que a tagarelice leva a mentir, a murmurar, a dizer o que não deveria ser dito, a proferir palavras inúteis e até prejudiciais. São Bernardo recomendava com razão: “Devemos comprar de Deus com a oração a graça de falar para fazer muito bem e nunca o mal”.
Não vamos ter conversas muito longas com pessoas que mostram que se cansam de conversarmos muito. E mesmo com aquelas pessoas que são muito educadas e nos ouvem com aparente atenção, procuremos não cansá-las com palavreado exagerado. Espero que todos que lidam conosco fiquem com vontade de nos ouvir novamente e que ninguém tenha que sair da nossa presença com indigestão intelectual de tanto nos ouvir falar.

Tenha cuidado com a ênfase.

hama-se ênfase, dar muita força às expressões que dizemos. Isto de falar em voz muito alta produz desagrado em quem nos ouve porque mostra que temos uma confiança exagerada no que dizemos e que queremos impor o que dizemos. E isso é vaidade.
Você nunca deve falar sobre si mesmo, ou sobre suas coisas ou familiares, exceto quando houver real necessidade de fazê-lo, e nestes casos você deve proceder com grande moderação e ser o mais breve possível, porque aqui o orgulho leva facilmente ao exagero e ao aumento da própria vaidade. Se ouvimos que alguém gosta de falar de si mesmo, de sua família e de suas ações, não o desprezamos, mas tomamos cuidado para não imitá-lo nisso. E nem falemos de nós mesmos para nos desprezarmos e nos diminuirmos, porque o amor próprio é tão traiçoeiro, que para nos fazer falar da nossa própria pessoa não se interessa que seja com o pretexto de nos desprezarmos, que no final o que se busca é aparecer e ser protagonista, mesmo que tenha que usar o disfarce do próprio desprezo.

Ou você fala bem do seu vizinho ou não.

Nisto, como em todas as nossas conversas, devemos praticar esta regra ou norma que aconselhavam os antigos diretores espirituais: “Se falarmos, que seja para dizer algo que seja melhor que o silêncio”. Uma santa pareceu ouvir em uma visão que seu anjo da guarda lhe deu este conselho: “Nunca pronuncie um julgamento negativo contra ninguém”, o que equivale a essa ordem de Jesus: “Não condeneis e não serão condenados por Deus " (cf. Mt7,1).
E quando ouvirmos falar mal de outras pessoas, façamos o que recomendava o antigo sábio: “Faça uma cara tão triste que pareça que vamos chorar”. Quem fala contra o próximo perceberá em nosso rosto que sua conversa nos desagrada e talvez não ouse mais continuá-la. Um padre que tinha fama de ser um verdadeiro homem de Deus, ao ouvir um dia um colega falar mal de outro, disse-lhe: “E o que você ganha dizendo isso?”

O outro entendeu e permaneceu em silêncio. Façamos essa pergunta a nós mesmos quando sentirmos vontade de falar contra alguém. "E o que eu ganho dizendo isso?"
Falemos com prazer de Deus e de suas obras e favores, e cumpramos o que disse o anjo Rafael a Tobias: “Jamais devemos ter vergonha de contar os favores que foram recebidos de Deus”. Mas como somos pessoas bastante ignorantes nestes assuntos, preferimos ouvir outros que falam melhor do que nós, quando há quem queira proclamar as maravilhas do nosso Criador.
Assim cumpriremos o que aconselha o Livro do Eclesiástico: “Ouçamos com prazer toda boa conversa sobre Deus”.

Os temas mundanos e prejudiciais, nem vamos nomeá-los.

Nisto é necessário cumprir o que ordenou o apóstolo São Paulo: “Impurezas, males, questões que levam à ganância, não deixem que sejam nomeados entre nós”, porque queremos alcançar a santidade. A grosseria, as piadas duras e as mentiras não são aceitáveis ​​nos nossos lábios, mas sim ações de graças (cf. Ef5,4). Palavras imodestas, mesmo que sejam ditas sem más intenções, podem ferir as pessoas fracas que nos ouvem. Os lábios dedicados a louvar e abençoar a Deus não deveriam ser dedicados a falar coisas más ou prejudiciais. É por isso que o apóstolo Tiago exclama: “Nunca deve acontecer que a língua com a qual bendizemos a Deus se dedique a amaldiçoar os outros.

Cuidado: antes de falar: conecte seu cérebro. Os sábios sempre recomendaram que aqueles que desejam alcançar a perfeição se habituem a que cada palavra que chega aos seus lábios passe primeiro pelo cérebro, para que aí possam julgar se deve ser pronunciada ou se deve antes ser calada. Muitas coisas que no calor da conversa parecem à primeira vista passíveis de serem ditas, se você raciocinar com calma chegará à conclusão de que seria melhor enterrá-las no silêncio e, em vez de dizê-las, suprimi-las. Muitas vezes é necessário calar-nos sobre aquelas coisas vívidas que nos acontecem, porque a impulsividade nem sempre é a melhor e muitas vezes é a menos conveniente. Os diretores espirituais freqüentemente perguntam às pessoas que lideram: “Quantas abstinências de palavras você fez nestes dias para a salvação das almas e como penitência pelos seus pecados?” Porque sabem muito bem que se alguém dominar a língua, será mais fácil dominar também os impulsos. Infelizmente, muitos de nós muitas vezes teríamos que ouvir: “Hoje você perdeu a oportunidade de ficar calado sobre algo que não deveria ter dito”.

O SILÊNCIO

Um dos remédios mais benéficos para formar uma verdadeira personalidade é habituar-se a calar o que não é necessário dizer: “Falem menos e serão mais felizes”, disse um mestre espiritual aos seus discípulos. Quem se habitua a disciplinar e a refrear a língua para não dizer o que não convém, adquire com este exercício de vontade a capacidade de posteriormente alcançar grandes vitórias espirituais. Seu primeiro biógrafo diz de São Domingos de Guzmán: “Ele falava poucas palavras quando falava de temas mundanos. Mas quando falavam de Deus, de temas religiosos e espirituais, ele falava com entusiasmo”.

Remédios para alcançá-lo.

Para se habituar a permanecer em silêncio, é muito útil pensar e meditar nas grandes vantagens que se consegue permanecer em silêncio e nos males que advêm de falar mais do que o necessário. O silêncio ajuda muito a obter a meditação na oração. O apóstolo Tiago disse: “Quem sabe refrear a sua língua saberá também refrear as outras inclinações do seu corpo” (Tiago 3:2). Mas acrescenta imediatamente: “A língua não mortificada é como uma faísca que incendeia todo um canavial, ou como um veneno que contamina toda a existência de quem a possui”.
Se os pecados que eles cometeram com a língua fossem removidos da vida de algumas pessoas, o número de falhas e a quantidade de problemas que eles tiveram e que causaram a outros diminuiriam enormemente.

Ele aprende a calar a boca ficando em silêncio.

Alguns estudantes universitários pediram a um monge famoso que os aconselhasse sobre um método para aprender a controlar suas próprias inclinações, e sua única resposta foi fazer uma cruz nos lábios. Queria dizer-lhes que se conseguissem dominar a sua língua, também conseguiriam dominar as outras inclinações mais tarde. É necessário manter algo quieto todos os dias. Algo que não dizer não faz mal a nós ou aos outros. Cumpramos o que recomenda o livro do Eclesiastes: "Sejam poucas as tuas palavras" (Ec 5,1-2). Mas que sejam poucos e gentis; poucos e agradáveis; poucos e felizes. Poucos e úteis. Para que o que acontece conosco não aconteça com certos pequeninos que falam pouco, mas quando abrem os lábios é para repreender, para criticar, para amargar a vida dos outros. Eles dão uma má impressão com esse jeito de falar.

CUIDADO COM O MUTISMO

Há indivíduos que confundem ser de poucas palavras com ter uma mudez desagradável no trato com os outros. Um mutismo educado, artificial e exagerado que os faz parecer muito informados sobre tudo o que os outros dizem, ou como se não estivessem nem um pouco interessados ​​na conversa que as pessoas ao seu redor estão tendo. Mas felizmente também há pessoas que falam muito pouco, mas dão tanta importância ao que os outros dizem que o seu tratamento se torna verdadeiramente agradável e amigável. Quem transforma em ouro o que os outros dizem ganha a sua simpatia. Mas alguém que se comporta nas conversas como uma estátua que não fala nem parece prestar atenção ao que os outros dizem, torna-se indesejável. Uma pergunta a tempo. Apoiar o que o outro diz. Mostrar interesse no tópico que estão discutindo, etc.
Ao pé de uma imagem numa estrada havia esta bela inscrição: “Senhor: ensina-nos a rezar e a ouvir. A falar e a calar”. Linda oração, digna de ser repetida muitas vezes ao longo de nossas vidas.

QUE A NOSSA CONVERSA SEJA CHEIA DO SAL DO AGRADO E DA BONDADE (Mc 9,50)

CAPÍTULO 24

COMO FUGIR DA PREOCUPAÇÃO E EVITAR AS PREOCUPAÇÕES DO CORAÇÃO

Quando os inimigos da alma não conseguem fazer uma pessoa viver cometendo pecados graves, Eles pelo menos tentam fazê-la viver cheia de preocupações e preocupada com mil coisas. E é necessário recordar que quando se perde a paz do coração, devemos fazer todos os esforços possíveis para recuperá-la e tentar garantir que nada no mundo possa fazer com que vivamos cheios de anseios ou preocupações. Devemos considerar como ditas a nós aquelas palavras que foram ditas no tempo do profeta Elias: “O Senhor não está em comoção e agitação” (1 Reis 19,9) e fazer à nossa alma a reprovação que Marta recebeu de Jesus: "Tu te preocupas com muitas coisas, porém somente uma é necessária".

Arrependimento, mas não remorso.

Quando cometemos erros, devemos sentir uma leve tristeza por ter ofendido um Deus que é tão bom e que foi tão generoso conosco. Sentir pela nossa alma manchada e derrotada a mesma comiseração que teríamos por uma pessoa que muito estimamos e que vemos ter caído em faltas e pecados. Mas o arrependimento deve ser tranquilo, sem preocupações exageradas ou falta de coragem. Porque este último não seria mais um verdadeiro arrependimento ou contrição por ter ofendido a Deus, mas sim remorso ou desgosto porque nos fez mal ao pecar.

PACIÊNCIA NO AMBIENTE

A paciência, segundo São Tomás, é a virtude pela qual, diante do mal, não nos deixamos vencer pela tristeza ou pelo desprazer. Jesus estabeleceu como condição para segui-lo suportar pacientemente a cruz do sofrimento diário. E estes nunca falharão com ninguém. Às vezes será uma doença, outras vezes uma situação econômica grave, ou um acidente, ou a morte de um ente querido, ou uma pessoa que nos trata sem caridade ou com severidade ou humilhação, ou um trabalho que é cansativo e ingrato, ou viagens chatas, ou situações imprevistas que põem fim a todos os nossos planos, etc.

TRÊS ATITUDES

Diante desses contratempos podemos tomar uma destas três atitudes:
1a. A de Jesus no Jardim das Oliveiras: clamando: “Pai, se não for possível que este cálice de amargura se afaste de mim, que seja feita a tua santa vontade”. Esta atitude traz paz na terra e imensas recompensas no céu. E como Jesus, o Pai nos enviará um anjo para nos confortar.

2a. Atitude: A dos antigos estóicos. Suportar o mal sem vacilar, pelo único prazer de mostrar que o mal não pode comover ou perturbar você. Essa atitude admira as pessoas, mas por lhes faltar o detalhe de oferecer tudo pelo amor de Deus, podem ficar sem muita recompensa para o céu.

3a. Atitude: A dos renegados. Eles sofrem amaldiçoando e negando. O Apocalipse diz sobre eles que os sofrimentos que lhes sobrevêm não os aproveitam para se tornarem melhores e pagarem pelos seus pecados, mas antes os tornam piores e mais malditos.
Um exemplo clássico é o do mau ladrão que, mesmo sofrendo na cruz, ainda zombou de Jesus em vez de pedir perdão e oferecer-lhe seus sofrimentos (bem ao contrário do que fez seu companheiro, que aproveitou aqueles tormentos para oferecê-los a Cristo e fazê-lo levá-lo naquela mesma tarde para o Paraíso).

Por que Deus permitirá que soframos?

O sofrimento que chega até nós não é a vingança de Deus. Ele é grande demais para se dedicar a se vingar de gorgulhos tão pequenos quanto nós. Para cada ofensa ele impõe uma pena, mas não como vingança, mas por estrita justiça. Os sofrimentos que chegam até nós não significam que Deus não nos esteja ouvindo ou que esteja descontente conosco. Não. Ele permite sofrimentos para que possamos pagar-lhe as dívidas que lhe temos por tantas faltas que cometemos e para que com elas possamos ganhar grandes recompensas para o céu.

Antecipe o que vai acontecer.

Para não ficar impaciente quando chegam os contratempos, é aconselhável habituar-se a antecipar as dificuldades que surgirão durante o dia. Que numa viagem que vamos fazer vão ter atrasos muito chatos? Pois bem, se os antecipamos, quando chegarem já não nos irritarão tanto porque nos preparamos para suportá-los. E assim teremos menos ansiedade.

Lembre-se de que tudo acaba dando certo.

Convençamo-nos de que os reveses e as dificuldades que surgem em nosso caminho não são realmente males, mas sim uma oportunidade de alcançar coisas boas para a alma e para a eternidade. Os propósitos pelos quais Deus permite que esses sofrimentos cheguem até nós podem permanecer ocultos e desconhecidos para nós, mas podemos ter certeza de que no final de nossas vidas, ao chegarmos à eternidade, poderemos repetir o que José lhes disse no Egito. aos irmãos que o venderam como escravo: “Foi Deus quem permitiu isto que parecia um grande mal. E permitiu-o porque disso resultaria um grande bem” (Gn 45). Lembrar disso o liberta de muitas preocupações.

Vamos tentar ser sempre felizes.

A tristeza causa grande dano ao coração e não traz nenhum benefício à alma, e quase sempre vem da lembrança das poucas coisas desagradáveis ​​que nos aconteceram e do esquecimento de muitas coisas agradáveis ​​e benéficas que Deus nos permitiu fazer. É conveniente aos inimigos da nossa santidade que vivamos tristes porque a tristeza extingue o entusiasmo e nos desencoraja de fazer o bem. Mas viver triste (se não é porque você sofre de alguma doença que produz tristeza, e então tem que tentar curar essa doença com medicamentos porque pode levar a outras doenças muito graves e prejudiciais) viver triste é uma ingratidão para com Deus, porque para cada acontecimento desagradável ou prejudicial que nos acontece, dez ou mais acontecimentos agradáveis ​​e benéficos chegam até nós.

TENHA CUIDADO COM OS DESEJOS EXAGERADOS OU INSTANTÂNEOS

Outra armadilha que causa inquietação na alma é encher-se de desejos e planos exagerados e dedicar-se a tentar colocá-los em prática rapidamente. Os orientais dizem que uma pessoa tem maior paz quanto mais sabe moderar os seus desejos. Quando um desejo nos ocorre ou um plano nos ocorre, peçamos ao Espírito Santo que nos ilumine se isso vem de Deus e é para o nosso bem maior.
Esperamos que também possamos consultar alguma pessoa prudente e espiritual. E então procuremos mortificar a nossa demasiada vivacidade que quer nos levar a tentar colocar em prática imediatamente o que nos ocorreu. Esta mortificação torna o nosso trabalho mais perfeito e mais agradável a Deus do que se o tivéssemos feito precipitadamente e com demasiada rapidez. Pessoas prudentes deixam as ideias fermentarem aos poucos em seus cérebros, cozinhando-as com o fogo da oração e o combustível chamado “pedir conselhos a quem sabe”. Jesus disse que se você começar uma obra sem fazer cálculos sobre se conseguirá terminá-la, e depois não conseguir terminá-la, as pessoas vão zombar de nós e dizer: “Ele começou e não conseguiu terminar”. Vamos devagar e iremos mais longe.

Tenha cuidado com lembranças amargas.

Para evitar o mal nocivo que é a inquietação, é aconselhável tirar de nossa mente aquelas lembranças amargas e tristes que ali querem se aninhar como roedores nocivos. Vivendo pensando nisso, o que você consegue é que eles ficam gravados na mente de tal forma que depois não conseguiremos sair dali. E são lembranças que, em vez de nos ajudar a melhorar, o que fazem é encher a alma de preocupações vãs e de amarguras inúteis. Que alguém nos humilhou e nos atacou injustamente? Pois bem, com isso ele fez crescer a nossa humildade e nos exercitou a paciência. Que cometemos muitos pecados graves no passado? Mas já os confessamos e já pedimos muitas vezes perdão a Deus? Por que continuar lembrando deles?
Antes, mergulhemo-los no imenso oceano da bondade e da misericórdia de Deus e assim se cumprirá o que o profeta Miquéias prometeu: "Tu, ó Deus, lançarás todos os nossos pecados no fundo do mar, para que nunca mais nos lembremos deles. novamente" (Mt 7,19).
Por que continuar nos atormentando com essas lembranças de um passado que, por mais angustiados que estejamos, não podemos mudar ou deixar de ser assim?
Confiemos o passado nas mãos de Deus e nos dediquemos a viver o presente com alegria e otimismo, esforçando-nos para agradá-Lo com o nosso bom comportamento.
Que tivemos uma tremenda imprudência que nos causou enormes prejuízos? Aproveitemos esta experiência amarga para aprender lições para o futuro, mas não nos tornemos amargos chorando pelo leite derramado, porque chorando não conseguiremos recolher nada. Vamos recomeçar com coragem, porque há muitas pessoas que, de forma imprudente, perderam todas as economias de uma vida e depois com a ajuda de Deus conseguiram se recuperar e reerguer-se. Mas se nos deixarmos levar pela preocupação e pela depressão destruiremos a nossa saúde nervosa, encurtaremos a nossa vida, e com estas preocupações não poderemos remediar nada, diz São Pedro: “Coloquemos as nossas preocupações no mãos de Deus, que se interessa por nós." (1P 5,7).

Vamos analisar nossos arrependimentos.

Se nos levam a confiar mais na misericórdia divina de Deus, a pedir perdão e a começar uma vida mais virtuosa, a ser mais humildes e mais compreensivos com os outros, então são benéficos.
Mas se apenas nos enchem de amargura e desânimo, rejeitemo-los como provenientes de um espírito maligno, porque podem ser sugestões do inimigo para nos fazer viver cheios de inquietações inúteis.
Quando nos lembramos de acontecimentos dolorosos, vamos analisar se a lembrança desses acontecimentos nos ajuda a atacar nosso orgulho e amor próprio, que é o inimigo mais temível que temos. Se a sua memória nos leva a ter mais gratidão a Deus e menos confiança nas nossas próprias forças. Se ao relembrarmos esses acontecimentos somos movidos a pedir mais a ajuda e o perdão de Deus. Nesses casos, são memórias úteis. Mas se, pelo contrário, ao recordarmos esses acontecimentos amargos ficamos inquietos, ficamos desanimados, ficamos com mais medo de fazer o bem e mais pessimistas, e ficamos cheios de ressentimento e desejo de vingança, a impaciência, a amargura e a rejeição raivosa vêm para nós pelo que ele nos fez sofrer, então sim, tenha muito cuidado, Que por lá caminha o anjo das trevas que fica triste todos os dias e minutos de sua vida e quer nos contagiar com sua tristeza e amargura. Deus é paz, e seus pensamentos são de paz e não de amargura.
Repitamos as palavras que dizia um santo: “Tristeza e melancolia, saiam da minha alma”.

Viver relembrando o passado com nojo é uma tristeza inútil.

Nem um milímetro mudará mais. Por outro lado, como é consolador lembrar o que diz o livro do Apocalipse, que no final do nosso tempo será aberto o Livro da Vida onde está escrito tudo o que sofremos e cada um será pago de acordo com os seus méritos. Que consolo pensar que nenhum dos nossos sofrimentos terá sido esquecido por Deus. Ele permitiu que eles viessem até nós, saberá recompensá-los muito bem e sua recompensa será eterna e maravilhosa. Uma lembrança como essa beneficia a alma e a enche de entusiasmo.

COLOQUEMOS NOSSAS PREOCUPAÇÕES NAS MÃOS DE DEUS, QUE SERÁ O ENCARREGADO DE NOS FORNECER SOLUÇÕES (Salmo 55)

CAPÍTULO 25

O QUE DEVEMOS FAZER QUANDO SOFREMOS UMA DERROTA NO COMBATE ESPIRITUAL

"Sete vezes o justo cai, mas como muitas vezes ele se levanta." O Livro dos Provérbios diz e como o mais sério é não cair na fraqueza e na miséria, mas permanecer caído e não se levantar a tempo, acrescenta: "Por outro lado, o imprudente permanece afundado na sua miséria espiritual" (Pr 24,16).
Quando cometemos um erro, seja por imprudência ou surpresa, seja por maldade e premeditação, o importante é não desanimar, não deixar de lutar para reconquistar a amizade com Deus, a paz e a pureza da alma. Quando nos acontece fazer, dizer ou pensar algo que vai contra a lei de Deus, devemos dizer humildemente a Nosso Senhor: “Oh meu Deus: acabo de mostrar o que sou: miséria, fraqueza, má inclinação. O que mais se poderia esperar de uma criatura tão miserável e fraca como eu, senão quedas, infidelidades e pecados?"
Então, passemos alguns momentos considerando quão fracos e mal-inclinados somos e quão vil e miserável é a nossa natureza pecaminosa, e sem desanimar, tornemo-nos santos irados com as paixões e os maus costumes, e exclamemos: "Eu não teria parado se a tua infinita bondade, meu Deus, não me tivesse ajudado, mas teria cometido ofensas ainda mais graves”.
E demos graças a Deus por nos ter perdoado tantas vezes para que se cumprisse o que Jesus disse: “A quem muito é perdoado, muito se ama” (Lc 7,47).
Admiremos a sua infinita bondade que nos suportou com tão admirável paciência até hoje e peçamos-lhe que nunca nos solte da sua mão santa, porque se nos deixar ir afundaremos no abismo de todos os vícios.
Rezemos frequentemente a oração do publicano do Evangelho: “Misericórdia Senhor, porque sou pecador” (Lc 18,13). E acrescentemos: “Ó Senhor: não permitas que eu me afaste jamais de Ti. Pecamos e cometemos iniqüidades, mas Tua misericórdia é maior que nossa miséria, e Teu poder é muito maior que nossa fraqueza na infidelidade, e no desejo que temos de recuperar a tua amizade divina”.

Algo que não é conveniente.

Não paremos para pensar se Deus nos perdoou ou não. Isso pode nos causar preocupação e perda de tempo. Se lamentamos. Se tivermos a firme intenção de não continuar a cometer estas faltas, se pedirmos humildemente perdão ao Senhor e confessarmos no devido tempo, não continuemos a duvidar se Deus nos perdoou ou não. Ele continua a repetir-nos as palavras que pronunciou através do Rei Davi: “Um coração humilhado e arrependido, Deus nunca despreza” (Sl 51,19).
Coloquemo-nos com confiança nas mãos da bondade divina e, embora tenhamos cometido muitas faltas, lembremo-nos do que disse o Senhor por meio do profeta:  “Embora por causa das tuas faltas a tua alma seja vermelha como o pano mais vermelho, eu a tornarei branca como a neve" (cf. Is 1,18). Cultivemos um verdadeiro medo de nossa total fraqueza, inclinação ao mal, um santo horror e desgosto por tudo que é pecado e ofensa a Deus, esforcemo-nos para nos comportarmos daqui em diante com maior prudência e mais cuidado. E se fizermos o que pudermos, Deus se encarregará de nos conceder o que não podemos alcançar com nossas próprias forças.
Não esqueçamos das quedas, pois sua memória pode ser útil para caminhar com mais cuidado no futuro. E lembremo-nos sempre de quão grande é a bondade de Deus que apesar de tantas infidelidades que tivemos, ele continua a nos amar com um amor tão imenso. Ele continua a repetir-nos: “Eu te amei com amor eterno” e “Eu te darei mais uma vez a beleza espiritual que você já teve” (Jr 31,3).

CAPÍTULO 26

OS QUATRO TIPOS DE AÇÕES ERRADAS QUE EXISTEM NAS PESSOAS EM RELAÇÃO AO PECADO

Na luta contra o pecado, muitas pessoas podem ter e realmente têm algumas dessas quatro ações, que são extremamente erradas e perigosas:

1a Existem aqueles que se escravizaram ao pecado e não pensam em sair dessa escravidão.

2a Outros querem sair dessa escravidão, mas nunca começam seriamente a tentar libertar-se dessa opressão.

3a Muitas pessoas imaginam que já fizeram muito progresso no caminho da perfeição e não percebem que a sua fraqueza e preguiça face ao pecado os manteve enormemente longe da santidade e da perfeição.

4a Outras pessoas, depois de terem alcançado um alto grau de virtude, tornam-se descuidadas e caem em terrível ruína espiritual e grande perigo de se perderem.
Vamos estudar essas quatro ações erradas para ver se estamos em alguma delas e tentar sair dali.

PRIMEIRA AÇÃO ERRADA:
SER ESCRAVOS DO PECADO E NÃO PENSAR EM SAIR DESSA ESCRAVIDÃO.

Os inimigos da nossa salvação nada mais desejam do que nos deixar em paz e tranquilidade em relação aos pecados. Quaisquer pensamentos ou desejos de conversão que venham a nós tentarão desligá-los e afastá-los, e se alguém quiser aconselhar que seria melhor mudar de vida e começar a se comportar mais de acordo com a lei de Deus, imediatamente mudam de assunto e tentam não se falar sobre o tema.
E os três inimigos da santificação: o mundo, o diabo e a carne ou paixões carnais, se esforçam para nos proporcionar continuamente novas oportunidades de pecar, armam-nos armadilhas e laços traiçoeiros para que continuemos novamente em velhas faltas; e tentam endurecer a nossa consciência de tal forma que não nos movamos mais pela bondade que Deus tem para conosco, nem pelas sanções que Sua Justiça Divina enviará contra os nossos males, nem pelas perdas e danos que advirão para nós pecando. E assim a alma pecadora corre continuamente para a sua perdição, cai de abismo em abismo, e se afasta cada vez mais da perfeição e da santidade, e se Deus não intervir com um milagre da sua graça, ela será arruinada totalmente.

Existem dois remédios para parar esta corrida rumo ao abismo do pecado.

O primeiro é prestar atenção às inspirações e aos remorsos que sentimos na consciência. Dizia o poeta: “A consciência corrige tão rápida e bem o culpado que são poucos os que não estão enforcados na alma”, afirmou Santo Agostinho: “O pior perigo para um pé ferido é que já não dói, porque então não tem a circulação sanguínea e a gangrena se instalarão. O mal terrível e assustador para uma alma pecadora é que ela não sente mais remorso por ter pecado. Se não sentir, estará irremediavelmente perdida. Mas se sua consciência a machucar e ela ouvir sua consciência, ainda terá esperança de emenda e salvação.

O segundo remédio é clamar muito a Deus, pedindo sua ajuda e perdão.
Olhemos para o crucifixo e peçamos-Lhe que nos dê a verdadeira contrição pela nossa maldade. Elevemos o olhar para a pintura da Virgem Maria e para Ela, que é refúgio dos pecadores, digamos: “Vem, minha Mãe, em meu auxílio, pois eles estão me derrotando”. E Deus cumprirá o que prometeu no Apocalipse: “Ele derramará gotas curativas nos olhos da sua alma para que você veja a feiúra das suas faltas e as odeie e possa evitá-las”.

TENHO CONTRA VOCÊ, QUE VOCÊ PERDEU O SEU FERVOR DE ANTES.
PERCEBA ONDE VOCÊ CAIU. ARREPENDA-SE E VOLTE AO BOM COMPORTAMENTO. SE VOCÊ NÃO SE ARREPENDER, EU IREI E RETIRAREI VOCÊ DO IMPORTANTE LUGAR ONDE VOCÊ ESTÁ (Ap 2,4)

CAPÍTULO 27

A SEGUNDA AÇÃO ERRADA. NÃO COMEÇAR SÉRIO A TENTAR SE LIVRAR DA ESCRAVIDÃO DO PECADO

Muitos têm consciência do mau estado de sua consciência e até querem melhorar seu comportamento, mas se deixam enganar por uma armadilha extremamente perigosa: deixar para mais tarde  para começar reformar-se seriamente. Esquecem-se que quem sempre diz: “Depois”, acaba dizendo: “Nunca mais”. É necessário que decidam não deixar para amanhã os esforços que não queriam fazer ontem.
Porque a desculpa complicada consiste em dizer: “Vou focar primeiro em alguns assuntos que tenho em mãos e depois verei como tentar melhorar meu comportamento”. E o “depois” se torna “nunca” para eles.

O "Sr. Mais Tarde".

Chamavam Antígono, rei da Macedônia, de “o senhor mais tarde”, porque sempre que lhe pediam um favor ele respondia com aquela pequena frase: “mais tarde” e então não concedia os favores que lhe haviam sido solicitados. O mundo está cheio de homens e mulheres que poderiam adotar um segundo sobrenome, depois daquele com o qual as pessoas os conhecem e seu segundo sobrenome poderia ser: "Mais tarde", porque é o que sempre dizem que uma voz na alma propõe a eles: “Comece a se comportar melhor, converta-se, comece uma vida de virtude, fervor e santidade”. Os camponeses repetem um ditado que diz: “Quem guarda para depois, guarda para o cachorro”, que é como dizer: “Deixar para depois é abrir mão do que deve ser feito agora”.

Hoje é meu dia.

Os psicólogos recomendam criar um lema muito útil: “Hoje é o meu dia”. Se vou começar a tratar as pessoas com gentileza, por que não começar hoje? Por que deixar para depois? Vou começar a ficar calado sobre o que não devo dizer? Desde quando? Desde manhã? E por que não a partir de hoje? Quero controlar meus olhos para que não persigam o que não convém à minha alma? A partir da próxima semana? E não seria melhor de agora em diante? Quem me garante que o amanhã chegará para mim? O apóstolo Tiago diz: “Não digas ‘amanhã farei isto e aquilo’, porque não sabemos se o amanhã chegará para nós”. Desejo fazer alguma pequena penitência pelos meus pecados e pela salvação das almas? Muito bem. Mas o melhor seria começar hoje, para que amanhã você não tenha mais vontade ou vontade de fazê-lo. Cada um de nós deveria repetir o que um pecador respondeu a um santo pregador que lhe perguntou: E quando você quer se converter? -e o outro respondeu: “Quero me converter hoje”. Senhor, deixe-me ver. Quando um cego quis que Jesus acabasse com sua terrível cegueira, ele gritou: “Senhor, deixa-me ver”. Também deveríamos implorar-lhe muitas vezes algo semelhante: “Senhor, que eu veja o que há em mim que devo corrigir e como corrigi-lo”. E lembrando-nos da nossa terrível fraqueza e preguiça para poder atacar o mal, repetimos a Deus as palavras que disse o herói Balak na Bíblia Sagrada: “Se vieres comigo, irei ao combate; se não vieres, não não ousarei."

Agora eu começo.

Os mestres espirituais recomendam que seus discípulos digam a si mesmos de vez em quando: “Agora começo”, “a partir de hoje quero mudar”, “Não vou deixar para depois os esforços que até agora não quis fazer. "

O inferno está cheio de bons propósitos.

Os santos padres dos tempos antigos repetiam um ditado: “O inferno está cheio de boas intenções”, para significar que muitos estavam perdidos porque, embora se propusessem a fazer as pazes, nunca se arriscaram seriamente a começar a fazê-lo. Hoje poderíamos exclamar: “O número de fracassados ​​está cheio de pessoas que tomaram decisões para serem melhores, mas nunca começaram a cumpri-las”. Não estará a minha alma entre aqueles que não se arriscaram a começar agora mesmo a lutar decisivamente contra a escravidão do pecado? Se for, tenho que gritar o meu grito pela independência a partir de agora e começar a lutar contra um opressor tão terrível.

HOJE: SE ESCUTARMOS A VOZ DE DEUS (QUE NOS CHAMA À CONVERSÃO) NÃO ENDUREÇAMOS O NOSSO CORAÇÃO (NEM DEIXEMOS A CONVERSÃO PARA DEPOIS) (Salmo 94)

CAPÍTULO 28

A TERCEIRA AÇÃO ERRADA IMAGINAR QUE JÁ ESTÁ PERTO À SANTIDADE, QUANDO ESTÁ ENORMEMENTE LONGE DELA

Há outro erro grave em relação ao pecado: esquecer as paixões, os vícios, os maus hábitos e as inclinações perversas que temos e nos dedicar a fazer planos quiméricos e fantásticos sobre uma santidade que já não imaginamos ter, só porque o imaginamos e desejamos. E se cumpre o que dizia o poeta: “Enquanto o pomar seca, o rio desce.” Enquanto vivemos pensando numa santidade idealista e imaginária, deixamos de lutar contra as más inclinações que nos levam ao pecado e a seguir belas borboletas voando pelo ar, esquecemos de caçar os ratos que devoram os produtos do nosso jardim.

DANDO DO QUE NÃO TEM

E acontece que fazemos projetos fantásticos sobre o que não possuímos ou temos em mãos e, por outro lado, sobre o que temos que fazer e responder, isso negligenciamos. Acontece-nos como aquele que disse: “Se eu tivesse duas carruagens luxuosas daria uma aos pobres”. E um amigo lhe perguntou: “E se eu tivesse dois carrinhos de mão, também daria um aos pobres?” -Não. Não não Isso! - E por que? Porque eu tenho os dois carrinhos de mão. Como é fácil propor heroísmo com o que não se tem, mas como é difícil ter generosidade com o que se tem.

CORAJOSO NO QUE ESTÁ LONGE, E PREGUIÇOSO NO QUE ESTÁ PERTO,

Quem os conhece diz de certas pessoas: “Diante do perigo, muita coragem.
Quando chegar a hora: muito medo." Algo semelhante acontece com tantas pessoas em seus projetos espirituais e de santidade; Eles imaginam que se a perseguição vier eles darão sua vida em meio a terríveis tormentos para defender a santa religião, e com essa imaginação, eles já se consideram pessoas santas. Mas se  lhes impõe a menor ofensa, eles irrompem em protestos, e à menor dor de uma doença já vivem reclamando. Eles facilmente desejam a santidade brilhante e a distante, mas rejeitam a santidade humilde que lhes é oferecido dia após dia.

Remédios.

Para evitar estes enganos da nossa imaginação, é necessário que pensemos concretamente sobre quais inimigos espirituais nos atacam e quem devemos combater. Em vez de viver imaginando situações fantásticas para o futuro, situações que certamente nunca nos acontecerão, analisemos com calma quais são os perigos e oportunidades que podem nos fazer falhar agora no presente: aquelas explosões de mau humor, esses pensamentos de orgulho, aquela vontade de aparecer e ganhar a estima dos outros; aquela amizade que rouba dos nossos corações o amor que deveríamos dirigir apenas a Deus e às almas; aquela vontade de possuir cada vez mais, aquela tristeza que tanta timidez nos traz... etc.

CUIDADO PARA NÃO CONFUNDIR O SONHO COM A REALIDADE

O erro de tanta gente é imaginar que por já ter tomado a decisão ou resolução de se comportar muito bem, isso significa que na realidade já está perto da santidade. Nada mais errado. Alguém pode saber muito bem o que deve fazer e que bem deseja alcançar e como deve se comportar, mas se se lembrar de suas paixões, de suas más inclinações, da fraqueza de sua vontade e dos ataques ferozes que tentariam lhe dar o inimigos de sua alma, em vez de imaginar que já está próximo da santidade, o que sentirá será um grande medo da própria fraqueza e uma tremenda vontade de implorar a ajuda do Deus Todo-Poderoso e pedir-lhe a graça de não cair cair em tentação e perseverar no bem até a morte.

ESTEJA ALERTA, VIGILANTE E ORE, PORQUE O ESPÍRITO ESTÁ PRONTO, MAS A CARNE ESTÁ FRACA (Mc 14,38)

CAPÍTULO 29

A ÚLTIMA E MAIS PERIGOSA AÇÃO EM RELAÇÃO AO PECADO: PARAR DE LUTAR, E CAIR NA RUÍNA ESPIRITUAL

A quarta armadilha que se apresenta a nós pelos inimigos da nossa santidade é fazer com que paremos de lutar contra o pecado e permaneçamos calmos em nossos maus hábitos, vícios e conduta defeituosa.

Um engano: se alguém sofre de impaciência e de mau humor por causa das doenças que lhe sobrevêm, existe o perigo de que ele gaste seu tempo pensando em quantas boas obras mais ele faria se estivesse em perfeita saúde, e como muito melhor ele poderia servir a Deus e ao próximo se essas doenças desaparecessem. E assim, em vez de lutar contra a impaciência e o mau humor, o que você está fazendo é apoiar a sua rebelião interior e fomentar a sua repulsa pelo que você sofre. E ele fica inquieto, aflito e impaciente porque sua saúde não é perfeita. E em vez de lutar contra a impaciência, o que ele faz é alimentá-la e fortalecê-la, considerando a sua doença como um impedimento para realizar boas obras (como se Deus tivesse tanta necessidade das boas obras que vamos realizar) e ele imagina que por causa da doença seu progresso na virtude cessa (embora o que aconteça seja o contrário, se ele sofrer suas enfermidades com paciência e pelo amor de Deus). E em vez de lutar contra o vício do mau humor e da impaciência, o que acontece é que ele cai imperceptivelmente nesses dois grandes defeitos e se deixa vencer por eles.

Um remedio.

Quando nos vêm estas imaginações de que se estivermos curados das doenças que sofremos, serviremos melhor a Nosso Senhor, pensemos que provavelmente não será assim, porque quando a nossa saúde estiver completa, os nossos sentimentos de piedade e o fervor desaparecerão e serão provavelmente muito menos forte do que aqueles que tivemos enquanto sofríamos. É por isso que um santo disse a uma mulher doente que implorava uma bênção para ser curada de uma doença longa e dolorosa: "Se ela for curada, nunca será santa. Mas se continuar a sofrer, poderá alcançar um alto grau de perfeição na terra e um maravilhoso grau de glória no céu”.
Ela aceitou de bom grado continuar sofrendo e, na verdade, alcançou uma santidade admirável. Há pessoas que não se santificam com plena saúde, mas nas doenças e enfermidades adquirem um notável grau de fervor.
E se ainda nos vem a preocupação de que com saúde perfeita faríamos mais boas obras, pensemos que Deus em sua sabedoria provavelmente determinou que não somos nós que fazemos essas boas obras e em vez disso com nossos sofrimentos conquistamos a conversão de muitos pecadores e a salvação de numerosas almas, e obtemos o perdão dos nossos próprios pecados.

Cuidado com a tristeza.

Existe um pecado que se formos descuidados e pararmos de combatê-lo, ele criará raízes em nossos corações e nos causará enormes danos. É a tristeza. O Livro Sagrado diz: “A tristeza é inútil e só traz danos à pessoa”. É necessário que nunca deixemos de lutar contra a má inclinação que temos de lamentar aquilo que não é pecado nem ofende a Deus. Por exemplo, quando alguém fica doente começa a ficar triste pelos transtornos que causa a quem cuida dele, mas quando melhora não se lembra mais da caridade que fez por ele. O que o entristeceu foi seu orgulho.
Outros se deixam levar pela tristeza, dizendo que esses sofrimentos chegam até eles como castigo pelos seus pecados, mas quando recuperarem a saúde verão quão pouco arrependimento sentem pelos males de sua vida. Sua tristeza não veio do arrependimento, mas da impaciência. Quantos são os que suspiram de tristeza porque não têm maiores riquezas para se dedicarem a fazer muitas obras de caridade, mas se tivessem, também não fariam tais obras. Portanto, é muito perigoso deixar de lutar contra a tristeza e deixar-se dominar por aquela terrível inclinação de viver triste. E o mesmo deve ser dito de qualquer outro vício ou pecado.

SE ACEITAMOS OS BENS DE DEUS, POR QUE NÃO ACEITAR TAMBÉM OS MALES? (Jb 2)

CAPÍTULO 30

UMA ARMADILHA MORTAL QUE DEVE SER EVITADA: QUE AS PRÓPRIAS VIRTUDES SÃO A CAUSA DE DEIXAR-NOS VENCER PELO ORGULHO

Uma das armadilhas mais traiçoeiras que nos podem ser apresentadas no caminho da santidade é que ao considerarmos as virtudes e qualidades que possuímos, nos dedicamos a sentir uma auto-estima complacente e exagerada e, assim, nos deixamos dominar pelo orgulho, pela vaidade e pela vanglória.
Os santos aconselham: “Devemos nos lembrar das misérias e fraquezas do passado para evitar o orgulho presente e futuro”. Temos que dizer com Santo Agostinho: “Tudo o que tenho de bom é um dom totalmente gratuito de Deus. A única coisa que possuo são as minhas fraquezas e o que criei são os meus males”.
É necessário ter presente uma verdade dita por São Paulo, que pode nos libertar de muitos orgulhos e vanglórias. É mais ou menos assim: “O que você tem que não recebeu? E se você recebeu, por que está cheio de orgulho como se não tivesse recebido?” (cf. 1Co4,7).

Avalie-se adequadamente.

Cada pessoa deve valorizar-se, separando claramente o que é seu e o que recebeu gratuitamente de Deus. E de acordo com isso, leve em consideração quantos motivos você pode ter para se orgulhar. Se você se qualificar dessa forma, em vez de viver com a alma cheia de orgulho e vaidade, o que você fará é viver humildemente dando graças ao bom Deus.

Um olhar para o passado.

Tenho que pensar no que eu era há cem anos.
Puro nada. E não havia nada que eu pudesse fazer sozinho para me tornar alguma coisa. É necessário que eu me pergunte: o que seria de mim se a misericórdia e o poder de Deus não tivessem preservado a minha vida? Se Nosso Senhor me abandonar por um momento, retornarei imediatamente ao nada. O apóstolo Tiago diz: “Somos fumaça que aparece por um momento e depois desaparece” (SM, 14). E o santo Jó afirmou: “O ser humano é como uma flor: brota e logo murcha e desaparece como uma sombra que desaparece” (Jó 14,2). Se é isso que sou, como posso me envolver no orgulho e na vaidade?
E quanto às obras espirituais devo pensar no seguinte: Que boas obras eu poderia fazer sem a ajuda de Deus? São Paulo afirmou: A memória dos erros cometidos.
Se eu começar a me lembrar da multidão de pecados que cometi, e mesmo daqueles que poderia ter cometido se a bondade de Deus não tivesse me defendido e ajudado, eu não encontrarei em mim nada além de fraqueza, infidelidade, maus hábitos e pérfidas inclinações. E esta memória deve me levar e manter-me humilde e a dar infinitas graças a Deus que tanto me perdoou e que me libertou de tantos outros males.

A verdade e apenas a verdade.

Mas nestes julgamentos que fazemos sobre nós mesmos é necessário não exagerar nem afirmar nada que não esteja de acordo com a verdade.
Não quer dizer que fizemos o mal que realmente não fizemos, nem que cometemos o que realmente não cometemos. Mas se estivermos contentes com a verdade, com isso teremos o suficiente para nos humilharmos e não nos enchermos de orgulho vão. E não acreditar que somos superiores aos outros, bem, não somos.

Cuidado com uma escravidão.

Como realmente não merecemos elogios, mas sim humilhações, é necessário viver muito alerta para não nos deixarmos dominar por uma escravidão extremamente prejudicial que consiste em viver pensando "o que os outros dirão de mim? Que bom nome será que tenho aos olhos dos outros?" O que eles pensarão do meu comportamento? Tudo isso pode ser orgulho e vaidade, e o desejo de parecer bom.

Mas não pareça humilde por orgulho.

É preciso aceitar as humilhações e não querer aparecer diante dos outros, mas não é para que nos considerem pessoas humildes, porque então nos pareceria que demonstramos humildade, mas por puro orgulho. “Túmulos caiados”, Jesus chamou essa classe de indivíduos, e acrescentou que sua aparência é bela como lápides de cemitério brilhantes, mas seu interior é horrível como a podridão de uma tumba.

E se eles nos concederem honras?

Às vezes pode acontecer que as pessoas nos parabenizem e nos elogiem em nosso nome. Nestes casos devemos repetir a frase do salmista: "Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome seja a glória" (Sl 115,1). Ou o que repetiu o profeta Daniel: “O Senhor Deus merece toda a honra, e nós merecemos a confusão e a humilhação”. E voltando o pensamento para quem nos elogia e nos felicita, repitamos internamente o que Jesus disse: “Só Deus é bom” (Lc 18,19) e pensemos: “Essas pessoas me elogiam porque só conhecem externamente minhas aparências de bondade”, mas se me conhecessem como realmente sou, certamente não falariam assim a meu favor. Posso repetir com São Bernardo: “Sou especialista em me disfarçar de boa pessoa, e por isso me elogiam.

E se a memória das boas obras que fizemos vier até nós?

Às vezes, quando nos lembramos das boas ações que conseguimos realizar, podem surgir pensamentos de vaidade. Então devemos fazer este raciocínio: “Tudo de bom que pude fazer é um dom do bom Deus, uma generosidade de sua infinita bondade. Não entendo como deste abismo de corrupção e iniquidade que é a minha pessoa, estas boas obras poderiam ter surgido. Só posso repetir a frase do Livro Sagrado: "Foi o Senhor quem fez isso." E com humildade e com uma linguagem de louvor repitamos as belas frases da Virgem Maria em sua Cântico: “O Senhor fez em mim maravilhas. Glória ao Senhor” (Lc 1,49). Além disso, devemos pensar que as boas obras que praticamos ao longo da nossa vida, Não só não correspondem à imensa quantidade de luzes e ajudas que recebemos de Nosso Senhor, mas têm sido acompanhadas de grandes defeitos e imperfeições, e talvez em numerosos casos faltou-lhes aquela pureza de intenção de fazê-las apenas para a glória de Deus e o bem das almas. E se os examinarmos bem, talvez em vez de nos orgulharmos, eles nos confundirão ao vermos como poderíamos tê-los feito melhor e como os manchamos com tantas imperfeições.

Uma comparação útil.

Quando alguém acredita ter atingido um elevado grau de perfeição numa arte, por exemplo a música, basta-lhe ir a um concerto onde um grande professor dá demonstrações das suas mais elevadas qualidades artísticas. Ouvi-lo diminui muito a crença do iniciante de que atingiu um nível muito elevado nessa arte. Isto pode acontecer conosco se compararmos nossas boas ações com as dos santos. Teremos então que repetir o que disse aquele grande pregador: “Comparados em santidade e boas obras com os grandes santos, não somos nada mais do que galinhas molhadas e burros mortos”. E o que diremos se compararmos a nossa virtude e as nossas boas obras com as de Jesus Cristo? Seria como comparar um gorgulho insignificante com uma montanha muito alta.
E se nos compararmos com Deus? Com sua infinita santidade. Com as suas obras maravilhosas e o seu trabalho contínuo em favor de todos e a sua generosidade ilimitada e a sua capacidade inesgotável de perdoar e a sua pureza total? Quem pode sentir orgulho comparando-se a Deus?

Não exponha os tesouros.

A Sagrada Escritura conta que certa vez o rei Ezequias mostrou aos embaixadores da Babilônia todos os tesouros que havia em Jerusalém, e o profeta Isaías o avisou que os babilônios, ao conhecerem tantos tesouros, iriam se encher de ganância, viriam e roubariam todos eles e eles os levariam para a Babilônia. E assim aconteceu (cf. 2R 13,20). Algo semelhante pode acontecer com quem vive revelando aos outros as graças e os dons que recebeu de Deus, mas ostenta isso não para fazer o bem às almas, mas para inflar o seu próprio orgulho. Os inimigos da alma vêm e roubam todos os seus méritos e ganhos que ela poderia ter guardado para o céu.

A base de tudo.

Santo Agostinho repetiu: “Se alguém quer alcançar a santidade, deve começar a cultivar a humildade. Não porque seja a virtude principal (já que a virtude número um é a caridade), mas porque a humildade é o fundamento mais seguro sobre o qual construir o edifício da perfeição." E quanto mais cavarmos, lembrando nossas misérias e fraquezas, e quanto mais descobrirmos as profundezas do nosso próprio nada, mais o Arquiteto Divino colocará em nossas vidas as pedras mais sólidas para construir o edifício da perfeição. Nunca acredite que já conhecemos perfeitamente nossa própria miséria e fraqueza. Pois se o infinito pudesse ocorrer em alguma coisa na criatura humana, seria na nossa fragilidade e fraqueza.

Um segredo.

Para que Deus venha e conceda muitos triunfos é necessário permanecer muito humilde, porque Ele se distancia de quem se eleva mais do que deveria e se aproxima de quem se rebaixa humilhando-se. Seus favores e graças são como a água da chuva que não permanece nos picos altos, mas desce para repousar nos vales profundos. Cumprir-se-á sempre o que Jesus disse, que quem é colocado no último lugar do banquete, o Senhor vem e o faz subir a um dos lugares principais (cf. Lc 14,10).

Um favor que deve ser apreciado.

Se Deus, na sua infinita bondade, nos concede a graça de nos habituarmos a permanecer sempre num bom grau de humildade, não deixemos de lhe agradecer o grande favor, pois assim nos assemelhamos a Jesus Cristo, que, sendo Filho do Altíssimo, e Senhor dos Senhores, tornou-se humilde até lavar os pés dos seus apóstolos e até a morte e uma morte de cruz. E é por isso que Deus lhe concedeu uma imensa glória e um nome diante do qual os céus, a terra e os abismos dobram os joelhos. E todo aquele que se humilha será exaltado.

CAPÍTULO 31

PEQUENOS COMBATES QUE DEVEM SER FEITOS TODOS OS DIAS

Quem deseja conquistar a santidade não pode jamais deixar de lutar contra tudo que se opõe à perfeição. A primeira e mais frequente batalha que você terá que travar no dia a dia será atacar suas paixões, principalmente aquelas que mais atacam sua alma, e tentar alcançar, aos poucos, mas sem se cansar ou desanimar, as virtudes contrárias aos seus sonhos, maus hábitos, paixões e inclinações impróprias. E não esqueçais que as virtudes e as paixões estão tão ligadas entre si que quando se avança numa virtude, as outras também crescem, e quando se combate um vício, os outros também diminuem.

Não estabeleça prazos.

Algo que pode te encher de preocupações e sonhos é estabelecer prazos para adquirir uma virtude ou para superar um vício ou mau hábito. Nisto o importante não é quanto tempo leva para alcançar a vitória, mas sim não parar de lutar, mesmo que os sucessos alcançados não sejam muito rápidos ou perceptíveis. Deus não recompensa apenas as vitórias alcançadas, mas sobretudo os esforços feitos para obtê-las. Nosso dever não é alcançar a perfeição, mas lutar continuamente por ela.

Não pare.

Na luta contra as más tendências é necessário não deixar um só dia sem fazer algo para progredir na virtude, porque nisso acontece como quem rema contra a corrente: se largam os remos por um momento, a corrente os leva embora .

Nunca acredite que já chegamos.

Se alguém imagina que já atingiu o grau de perfeição e santidade que Deus deseja de cada pessoa, está totalmente enganado. Isto levaria a não aproveitar as novas oportunidades que surgem todos os dias para praticar a virtude e rejeitar o mal, pois se imagina que isso já é o que se deve fazer.

Uma figura ideal.

Uma pessoa muito espiritual viu em sonho um personagem maravilhoso, praticando as mais excelentes virtudes e lutando bravamente contra tudo que se opunha à santidade, e com uma alma verdadeiramente bela e admirável. E com grande emoção perguntou: "Quem é? Quem é?" E uma voz celestial lhe disse: "Isso é o que Deus queria que você se tornasse. É uma pena que você ainda esteja tão longe do que Nosso Senhor quer que você seja." Acordou suspirando de decepção, mas resolveu não parar de trabalhar dia após dia para alcançar sua perfeição, porque percebeu o quão longe ainda estava da verdadeira santidade. E eu, pessoalmente, a que distância estarei? Ficaria aterrorizado se soubesse.

Não perca nenhuma oportunidade.

De alguém que, ao sofrer uma ofensa, explodiu em gritos e reclamações, seu diretor espiritual afirmou: "Que pena. Perdeu a oportunidade de ficar calado e ganhar um grande prêmio para a eternidade!" Que isso não seja dito sobre nós em nenhuma ocasião. Pelo contrário, aproveitemos ao máximo todas as oportunidades que se nos apresentam para praticar qualquer uma das virtudes, seja a paciência, o silêncio, a humildade, a caridade, a alegria, a piedade, o perdão, etc.
E fujamos com medo de qualquer oportunidade de pecar. Fuja, fuja sempre, porque a sedução ou atração pelo mal é a que mais arrasta todas as forças, e até as pessoas mais fortes são levadas como uma folha pelo vento.

Pratique as pequenas virtudes.

Existem algumas virtudes ou costumes de fazer o bem que não são grandes na aparência, mas se forem praticados todos os dias progridem de forma admirável na santidade, a sua prática e exercício não prejudicam o corpo. Por exemplo, ser gentil e tratar os outros com gentileza, falar bem de todos e nunca mal de ninguém, fazer pequenos favores, prestar serviços humildes; pontualidade em acordar de manhã e chegar pontualmente a todos os lugares e tentar não se atrasar em nenhuma de nossas obrigações; dedicar alguns minutos todos os dias à leitura de algumas páginas de um livro espiritual, mesmo que nos custe algum pequeno sacrifício (sacrifício que Deus saberá recompensar muito bem nesta vida e na eternidade) saber calar nas horas em que é melhor calar do que falar; mostrando sempre o rosto feliz, mesmo que haja sofrimento na alma ou no corpo; orar para que Deus abençoe aqueles que nos ofenderam; recordar frequentemente os favores de Nosso Senhor e agradecer-Lhe; parar de comer algo que nos atrai e que gostamos muito, etc. São pequenas virtudes talvez, mas pode acontecer-lhes como as areias do mar que são tão pequenas mas unidas que todas formam um muro que não deixa passar as ondas destrutivas que tentam inundar a terra. E essas ondas podem ser nossas paixões e tentações.

Concentre todos os esforços no mesmo ponto.

Um antigo sábio afirmou: “Espero muito daqueles que concentram todos os seus esforços na conquista de uma única virtude ou na derrota de um único vício. Obterão resultados admiráveis”.
Concentremos todos os nossos pensamentos, todos os desejos, esforços e orações que fazemos, na tentativa de combater um determinado defeito e alcançar a virtude ou qualidade oposta. Isto é extremamente lucrativo e muito agradável a Deus.
Assim como dizia São Paulo: “Quer comais, quer bebais, quer vos dediqueis a qualquer outra coisa, fazei tudo para maior glória de Deus” (1Co 10,31) assim digamos sobre isto que estamos recomendando: se trabalhamos, quer descansemos, quer rezemos, quer meditemos, quer estejamos em casa ou fora, tenhamos sempre um fim diante dos nossos olhos e das nossas intenções, para podermos mover a vontade: lutar contra algum defeito que nos domina e alcançar a virtude ou qualidade oposta.

SACRIFICANDO DESEJOS INDEVIDOS

Aquele filósofo oriental chamado Buda, que teve tanta influência sobre os povos da Ásia, repetia sempre aos seus discípulos: “Se queres ter paz na alma e progresso no espírito, tens que lutar sem compaixão contra todos os desejos impróprios ou moderados." e contra isso está apenas buscando o prazer. (O prazer é o que produz satisfação aos sentidos. Por outro lado, a alegria é o que produz satisfação ao espírito.) Os vícios recebem sua força e vigor de tudo que produz prazer e deleite. Portanto, ao evitar este último, os vícios necessariamente enfraquecem e perdem poder sobre a vontade e o espírito.

CUIDADO COM PEQUENAS DELÍCIAS

Um princípio que nunca falha na espiritualidade é que quem não se mortifica em pequenas delícias não conseguirá se controlar quando chegarem os mais impressionantes atrativos de prazer. Aqui se cumpre o que Jesus disse: “Quem não é capaz de ser fiel nas pequenas coisas, também não poderá ser fiel nas grandes” (Lc 19,17). Embora os pequenos prazeres não sejam faltas graves nem ofendam a Deus, é evidente, porém, que não poder fazer o sacrifício de abster-se deles enfraquece a vontade e a prepara negativamente para que, quando chegarem as grandes batalhas, ela não seja mais capaz de resistir. Por exemplo, certas demonstrações de afeto muito sensíveis: olhares excessivamente afetuosos, apertos de mão, pequenas carícias no rosto, comer doces com frequência durante o dia, andar por aí olhando com curiosidade os arredores, viver com curiosidade ouvindo notícias do mundo e fofocas sobre os outros, não conseguir silenciar certas coisas vívidas que vêm à mente, etc. Tudo isso não será uma grande ofensa a Deus, mas contribuirá muito para enfraquecer a vontade. Nunca esqueçamos a advertência de São Paulo: “Se vivermos entregando-nos às inclinações da carne, acabaremos muito mal. Mas se com a ajuda do Espírito Santo refrearmos os desejos do corpo, acabaremos tendo vida plena." (Romanos 8,13)

Conselhos muito úteis.

Se alguém não fez uma confissão geral de toda a sua vida, saiba que será de grande benefício para o seu avanço espiritual e para a paz do seu espírito adquirir um livrinho que fale sobre como fazer uma boa confissão e lê-lo devagar. ... duas ou três vezes, e então encontre um padre compreensivo e muito espiritual e faça uma confissão de todos os pecados que você lembra em sua vida.

Você verá que alegria profunda sentirá.

É iniciar uma nova etapa da sua vida com zero pecados. É uma “lousa em branco”. E peça ao confessor que também lhe conceda a absolvição de todos os pecados que você esqueceu ou deixou de confessar. Então se cumprirá o que Jesus disse: “Aquele cujos pecados são perdoados, está perdoado” (Jo 20,23).
Pedir isto é como repetir o que o salmista implorou ao Senhor: "Ó Deus, perdoa-me os pecados que me estão ocultos" (Sl 18). E Cristo nos dirá o que disse ao paralítico e ao pecador: “Os teus pecados estão perdoados”. O que melhor você pode nos contar? Será a mais consoladora de todas as suas notícias.

QUEM É FIEL NO POUCO, TAMBÉM SERÁ FIEL NO MUITO (LC 16,10)

CAPÍTULO 32

DEVEMOS CONTENTE-NOS EM ADQUIRIR AS VIRTUDES A POUCO A POUCO E EXERCITAR PRIMEIRO UMA VIRTUDE E DEPOIS EM OUTRA

Um erro de principiante.

Quando muitas pessoas iniciam os seus esforços para adquirir a santidade e lutar contra os inimigos da sua perfeição, caem num erro que lhes pode causar muitos danos, e consiste em partir com um indiscreto e exagerado fervor de espírito para adquirir todos os virtudes de uma vez por todas e abandonar para sempre todos os defeitos e vícios. E como isso não é possível para eles, então o desânimo se instala e eles ficam desanimados. Esqueceram-se do que o sábio Salomão tanto repetia: “Quem abrange muito, pouco alcança”.

Pouco a pouco.

Os camponeses dizem: “De grão em grão a galinha enche o seu papo” e algo semelhante acontece na alimentação da alma para obter a santidade.
É preciso contentar-se em crescer pouco a pouco na perfeição. É assim que crescem as plantas, os animais e os seres humanos: quase sem que ninguém perceba, mas se esse crescimento for contínuo conseguem-se resultados muito satisfatórios.

Por exemplo: alguém quer ter paciência.

Não é que hoje você vá para a cama rabugento e amanhã acorde já possuindo a paciência do santo Jó. Não.
Fingir isso seria querer colher maçãs de um arbusto de cebola. Havia um homem que estava com tanta raiva que até matou um inimigo. E diz-se deste indivíduo que após 40 anos de intenso trabalho para obter paciência, ele se tornou o homem mais manso e humilde de seu tempo. Seu nome era: Moisés, o libertador de Israel. Mas ele não era paciente há uma semana ou um mês. Aqui continua a cumprir-se o que Jesus disse: “Com a tua perseverança sereis salvos”. Aqueles que perseverarem, esses serão os vencedores (Mt 24,13).

Uma única virtude de cada vez.

Muitos tentaram se dedicar a cultivar todas as virtudes ao mesmo tempo e acabaram sem forças e sem coragem. Eles não se lembraram daquele princípio de combate que os famosos guerreiros romanos tinham: “Divida-os e os conquistará”. Um por um, os inimigos da santidade podem ser derrotados. Uma por uma as virtudes são alcançadas. Mas todos eles juntos são um peso demais para nossos ombros fracos.

Repita, repita, algo permanece.

Temos que nos propor a cada mês e a cada ano cultivar alguma virtude especial e específica de que necessitamos. O Espírito Santo, se lhe pedirmos, nos esclarecerá sobre qual deve ser a virtude que pretendemos adquirir com maior cuidado que as outras. E sobre essa virtude ou qualidade temos que repetir e repetir boas ações até que se tornem um hábito. Porque isso é uma virtude: o hábito de praticar certas boas ações. Assim como se cria uma vala no cérebro ao repetir tantos ensinamentos e fica para sempre registrado o que foi aprendido através da repetição, também na vontade de repetir tantos bons atos se forma o gosto e a facilidade de repetir esses mesmos atos. E digamos novamente: é nisso que consiste possuir uma virtude: adquirir o hábito de praticar certas boas ações.

Ficar motivado.

Os santos dizem para não dizer que as pessoas não querem fazer certas boas obras, mas sim para dizer que o que acontece com essas pessoas é que elas não foram suficientemente motivadas para se envolverem nessas boas obras. Isto é o que acontece com a nossa vontade. Pode ser que seja necessário motivá-la mais sobre o quanto ganharemos se nos dedicarmos à virtude que queremos praticar. Veremos que se motivarmos a vontade ela se inclinará mais ativamente a adquirir essa virtude.

CAPÍTULO 33

PARA PODER ALCANÇAR UMA VIRTUDE É NECESSÁRIO AMAR E ESTIMAR MUITO.

Na filosofia se ensina este princípio: “Ninguém ama o que não conhece. Ninguém se entusiasma com o que não aprecia”. Portanto, se queremos ter alguma virtude ou excelente forma de agir, é necessário que fomentemos em nossos corações um grande amor por essa virtude e que em nosso cérebro procuremos formar uma verdadeira admiração por essa qualidade. Se conseguirmos isso, a vontade se moverá e tentará resolutamente alcançá-lo, e se esforçará para superar as dificuldades que surgirem e suportar com coragem as dores e os reveses que a realização dessa virtude exige.

Lucro duplo.

Acontece que se tivermos entusiasmo por uma virtude e trabalharmos para alcançá-la, junto com ela alcançaremos outras virtudes, pois elas estão extremamente ligadas entre si e o que é feito em favor de uma resulta em favor de outra, e o o trabalho que é feito serve para alcançar uma virtude, serve muito como preparação para adquirir diversas outras qualidades. Assim, por exemplo, quem se esforça para obter paciência com isso também obterá bondade, e quem exerce humildade obterá ao mesmo tempo mansidão.
E praticando a mortificação adquire-se de modo admirável a virtude da castidade. Cada virtude que cresce e se aperfeiçoa, por sua vez aperfeiçoa outras virtudes. E, portanto, ganhamos enormemente cada vez que tentamos crescer e progredir em alguma virtude.

CULTIVAR O AFETO E A ADMIRAÇÃO

É especialmente importante que procuremos aumentar o nosso afeto e inclinação para a virtude que desejamos alcançar ou aumentar. Este carinho e admiração são alcançados pensando frequentemente em quão agradável é essa virtude a Deus, quão bela e excelente ela é em si mesma, e quão útil e proveitosa é para quem a pratica. Para isso, ajuda muito ler alguns escritos que enaltecem esta virtude. Assim, São Bernardo entusiasmou-se muito com a virtude da generosidade em dar esmola ao ler os maravilhosos sermões de São João Crisóstomo e de São Basílio sobre os enormes frutos que se conseguem ajudando os necessitados.
Milhares, e diríamos mesmo, milhões, de pessoas conseguiram preservar a santa virtude da pureza, ou recuperá-la caso a tivessem perdido, ouvindo a grandeza e as maravilhas dessa virtude explicadas, ou lendo escritos que a elogiam e apresente seu grande valor.

Faça um plano de combate.

Todas as manhãs você deve se perguntar: o que vou fazer hoje para crescer nesta virtude que me propus alcançar este ano? Que perigos poderiam ser apresentados para mim hoje? Como posso derrotá-los ou evitá-los? É necessário concentrar todas as forças (físicas, emocionais e espirituais) e direcioná-las para a conquista dessa virtude. Isso produz uma força irresistível. É muito conveniente colocar todo o nosso coração, ou seja, toda a nossa personalidade ao serviço da realização da virtude que desejamos obter. Torna-se impossível que as pessoas adquiram certas virtudes, não porque não tenham capacidade para obtê-las, mas porque lhes falta dedicação total e perseverante no esforço para possuí-las.
Aquilo que desejamos intensamente, se for para o nosso bem, mais cedo ou mais tarde poderemos obtê-lo da bondade de Deus. Os sábios dizem: “Cuidado com o que você quer, porque se lhe convém, você vai conseguir”, se não se cansar de tentar conseguir.

Modelos de pesquisa.

Para adquirir uma virtude é muito conveniente procurar exemplos de pessoas que a praticaram. Qualquer pessoa que queira ter sucesso em uma profissão se beneficia lendo biografias e estudando a vida de pessoas que exerceram essa profissão com sucesso. E a mesma coisa acontece com as virtudes. E que modelos melhores do que a vida de Jesus e dos santos? Portanto, se a virtude que você deseja alcançar é a pureza ou a castidade,
E se se trata de alcançar a virtude da paciência, pensemos nos exemplos do santo Jó que, ao perder todos os seus bens e a sua saúde, não pecou com a língua e disse: “Deus me deu”, Deus tirou isso de mim, bendito seja Deus”. E sobretudo no admirável exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo na sua Santíssima Paixão e Morte, que aceita todos os sofrimentos, oferecendo-os pela salvação das almas, e cala-se quando eles inventam as mais terríveis calúnias contra ele, e quando cometem as mais terríveis afrontas contra ele, injustiças mais terríveis. Quem não se surpreenderia em sofrer pacientemente em silêncio, depois de meditar em exemplos tão sublimes?

UM REMÉDIO PRODIGIOSO

A experiência de muitos séculos ensinou que um dos meios mais benéficos que existem para se apaixonar por uma virtude e entusiasmar-se por praticá-la é lembrar as frases da Bíblia Sagrada que falam a favor dessa virtude. Grandes professores espirituais aconselham copiar várias dessas frases e, com sorte, aprender algumas de cor e recitá-las com frequência até que se tornem parte de nossas posses intelectuais.
Por exemplo: se a virtude que desejamos possuir é a fé, podemos recordar frases como estas: “Como é a tua fé, assim serão as coisas e acontecer-te-ão” (Mt 15,28). Se tivessem fé como um grão de mostarda, diriam a esta montanha que saísse daqui e fosse para o mar, e ela lhes obedeceria (Mt 17,20). Tenha fé em Deus.
Tudo o que você pedir em oração, acredite que já o obteve e o obterá (Mc 10, 24).Tudo é possível para quem tem fé (Mc 9, 23). Por que ter medo, gente de pouca fé? (Mt 8,26). É um exercício verdadeiramente proveitoso e agradável continuar buscando nas Sagradas Escrituras outras frases que falem de fé ou de outras virtudes. Encontraremos tesouros e progrediremos espiritualmente.
Se o que procuramos é paciência, lembremo-nos, por exemplo, destas frases: “Vale mais quem tem paciência do que quem consegue dominar uma cidade” (Pr 16,32). Com a sua paciência poderão salvar a sua alma (cf. Lc 21,19). Um dos sinais para ser um bom apóstolo é ter muita paciência (cf. 2Co12,12): A caridade é paciente. (cf. 1Co13).

PEQUENAS ORAÇÕES

Nas guerras antigas eram chamadas de “jaculas” ou algumas flechas flamejantes que eram lançadas para espalhar incêndios ou levar mensagens no meio do combate. Espero que estas pequenas frases da Sagrada Escritura sirvam como flechas flamejantes que enviamos ao céu para levar nossas mensagens a Deus, pedindo Sua ajuda e proteção para garantir que um verdadeiro fogo de amor e entusiasmo por Ele seja aceso em nossos alma, as virtudes que queremos alcançar.

CAPÍTULO 34

QUE NO COMBATE ESPIRITUAL NÃO AVANÇAR É VOLTAR, E NÃO CRESCER É DECLINAR.

Na luta pela aquisição de virtudes devemos ter sempre presente o lema dos grandes formadores de personalidade: "No espiritual, não avançar é voltar atrás." e aqueles que não crescem tornam-se anãs."
O Papa São Gregório Magno repetiu: “Lembremo-nos que na luta para sermos melhores, se não avançamos, recuamos para o abismo, e se paramos no caminho, acontece-nos como à mulher de Ló: “nós tornam-se estátuas que não crescem mais."

Cuidado para não serem múmias.

As múmias ou cadáveres secos encontrados no Egito e em outros lugares não cresceram um centímetro durante séculos e séculos. Como os deixaram quando foram embalsamados, assim estão agora depois de tanto tempo. Algo semelhante pode acontecer com quem deixa de lutar para progredir na virtude e para reduzir os seus defeitos e pecados. Há pessoas que parecem ter jogado fora suas virtudes, seus defeitos, suas qualidades e suas más inclinações, e depois de anos e anos permanecem como eram no início de sua vida espiritual. Que pena! Aconteceu com eles como com as múmias. É verdade que não apodreceram, mas também não cresceram. E espiritualmente, não crescer é diminuir.

O FUNCIONÁRIO QUE NÃO USOU O TALENTO

O que Jesus disse que aconteceu com o funcionário preguiçoso que recebeu um talento pode acontecer com as pessoas que param de lutar e não se esforçam para ser melhores e crescer na virtude. Aquela parábola do empregado preguiçoso é um convite à atividade, à ousadia. Quando Jesus diz que o funcionário que não trabalhou seu talento foi punido, ele não anuncia nenhuma injustiça da parte de Deus, mas antes alerta seriamente que cada pessoa será requisitada de acordo com sua capacidade de agir. Mesmo que alguém acredite que as habilidades que recebeu são muito poucas (apenas um talento), lembre-se que o empregado do talento também teria ouvido como o empregado dos 5 talentos: “Venha e entre no Reino do seu Senhor”, se ele tivesse trabalhado duro para produzir o que recebeu. Mas ele deu desculpas. Ele amava mais o seu próprio conforto do que o bem que poderia ter feito e alcançado. Ele demonstrou muito pouco interesse em produzir o que havia recebido do Senhor, e Jesus o chamou de: “Funcionário mau e preguiçoso”. E esse mesmo Jesus será nosso Juiz.

Que você não precisa nos contar algo assim.

Quem deixa de trabalhar para ser melhor deixará de receber muitas graças e ajudas espirituais que lhe viriam do céu se se esforçasse para lutar com entusiasmo para melhorar sua forma de trabalhar.

Quem pára esfria.

Quando estamos subindo uma montanha íngreme e começamos a nos acomodar na beira da estrada para descansar, o guia nos diz: “Cuidado, se você parar, vai ficar com frio e perder o entusiasmo”. A mesma coisa acontece no caminho espiritual. Parar de ascender traz muita perda de espírito e um resfriamento muito prejudicial do espírito.

A prática produz felicidade.

Um grande ator disse que se ele parasse de ensaiar por alguns dias seus ouvintes perceberiam ou pelo menos ele mesmo perceberia, e por outro lado muitos artistas declaram que trabalhar todos os dias para progredir em sua própria arte lhes dá prazer ou, uma facilidade e um progresso que os admira. A mesma coisa acontece na virtude. Se trabalharmos dia a dia para fazer algo a favor da virtude que procuramos alcançar e contra o vício que queremos evitar, conseguiremos uma facilidade muito consoladora para crescer no bem e poder fazê-lo com maior prazer. e benefício. Muitas dores e dificuldades que foram encontradas no início deste árduo trabalho espiritual irão diminuindo gradativamente até desaparecerem, através da prática.
Será que realmente faremos isso de agora em diante?

VOCÊ JÁ VIU ALGUÉM QUE SE ESFORÇA PARA FAZER BEM O QUE TEM QUE FAZER? VOCÊ NÃO ESTARÁ ENTRE OS ÚLTIMOS.
VOCÊ ESTARÁ ENTRE OS PRIMEIROS (Provérbios)

CAPÍTULO 35

VOCÊ DEVE SE EXPOR AO COMBATE PARA ADQUIRIR CORAGEM, AGILIDADE E FORÇA DE VONTADE

Nenhuma qualidade cresce sem exercício, e muitas qualidades diminuem e enfraquecem devido à falta de exercício. Por isso é necessário não perder nenhuma oportunidade que surja para exercer qualquer virtude. E tenhamos cuidado para não fugir daquelas ocasiões contrárias às nossas más inclinações, porque através destas ocasiões podemos alcançar um grande crescimento e perfeição nas qualidades e virtudes que queremos cultivar e alcançar.

Uma exceção.

A única coisa a que não podemos e nunca devemos nos expor é o que diz respeito à santa virtude da pureza ou da castidade. Nisto cai inevitavelmente quem se expõe. É inútil segurar um pedaço de papel perto de uma chama acesa e dizer: “Não quero que queime”. Não importa quanta força de vontade tenhamos, o papel acende. As paixões impuras são tão escravizadoras e cegantes que nos derrotam sempre que nos expomos à oportunidade de pecar. Neste campo só há uma solução: fugir, fugir, fugir do perigo. Mas em outras virtudes podemos nos expor ao ataque. Por exemplo.

Com paciência.

Contam sobre uma santa muito famosa que, quando ia aos hospitais para cuidar dos enfermos, pedia permissão para cuidar dos mais ingratos, nojentos, rudes e mal-humorados, porque assim poderia exercitar-se mais na virtude da paciência. E ninguém crescerá em paciência se não houver ninguém que o ofenda e o contradiga. Aqueles que o insultaram, esbofetearam, cuspiram nele, o chicotearam e o crucificaram fizeram Jesus crescer mais em santidade do que aqueles que lhe cantaram o “Hosana”. Porque aqueles que o ofenderam permitiram-lhe praticar a santa virtude da paciência em grau heroico.
Se não aceitarmos lidar com pessoas que nos tratam mal, como vamos adquirir a virtude da paciência?

Os trabalhos cansativos.

Uma das formas mais práticas de crescer na paciência é aceitar trabalhos cansativos e monótonos, ocupações incômodas, com superiores ou colegas que nos tratam mal, e nos dedicarmos a essas tarefas com alegria e perseverança. Ter que fazer todos os dias os mesmos trabalhos exaustivos, nos mesmos horários que não têm atrativos, é o que o Evangelho chama: “A cruz de cada dia” (Lc 9,23). E se não nos resignarmos a aceitar estes empregos, nunca aprenderemos a sofrer com paciência.

As humilhações.

Ninguém alcança a humildade a menos que tenha alguém que o humilhe. Por isso uma grande mística disse que tinha compaixão pelas pessoas que eram extremamente bem tratadas por todos e ninguém as tratava mal, pois, como poderão então ser humildes se não recebem humilhação de ninguém? Oh, quanto o nosso Redentor cresceu em humildade quando foi comparado ao assassino Barrabás e o povo preferiu esse criminoso a Jesus, e quando foi coroado rei da zombaria, e desfilou pelas ruas vestido de louco, e crucificado entre dois ladrões, esbofeteado, cuspido e desprezado com a pior zombaria. Santo Inácio de Loyola disse com razão: “Se no lugar onde moro ninguém me humilhar, me vestirei como um louco e sairei pelas ruas para que as pessoas me humilhem e me insultem e para que eu possa praticar a virtude de humildade." Não fujamos daqueles que nos humilham. Seu tratamento nos santifica.

O lutador novato.

Quando um soldado começa a treinar para a guerra ou um lutador olímpico começa a se preparar para suas futuras lutas nos estádios, eles são colocados para treinar com outros lutadores mais velhos que eles e com mais técnicas e habilidades. Sofrem quedas, derrotas, golpes e até lesões e às vezes lhes parece que nunca conseguirão sair vitoriosos: mas treinam e treinam e adquirem tanta facilidade na luta que quando menos pensam tornam-se vencedores. Então em virtude: se não cansarmos e pararmos de treinar, um dia faremos parte do grupo dos vencedores.

NEM QUEM SEMEIA NÃO É NADA, NEM QUEM CULTIVA.
É CRISTO QUEM DÁ OS FRUTOS E A COLHEITA (São Paulo)

CAPÍTULO 36

QUE PARA APRENDER A TRIUNFAR DEVEMOS ACEITAR AS OCASIÕES QUE CHEGAM PARA LUTAR E NÃO TER NOJO DE COISAS QUE VÃO CONTRA AS NOSSAS INCLINAÇÕES

Aprender a triunfar em termos de Virtude não basta expor-se ao combate, mas devemos também aceitar e até com alegria aquelas coisas que se opõem às nossas inclinações, sabendo que quanto mais difíceis e dolorosas forem para nós, mais benéficas se tornarão para o nosso avanço espiritual.
E se implorarmos constantemente a graça e a ajuda de Deus, nada parecerá impossível de suportar e tudo contribuirá a favor da nossa perfeição.

Duplo efeito da oração.

Quando pedimos a Deus que nos conceda uma virtude estamos também pedindo-lhe que nos conceda os meios para obtê-la, se ficamos chateados porque ele nos envia esses meios então já estamos inutilizando a oração, porque por um lado pedimos uma virtude e por outro não a queremos. Que nos seja concedida a maneira de colocá-la em prática. Assim, por exemplo, quando pedimos a virtude da paciência, o mais provável, talvez (ou talvez não), será que Deus nos envie sofrimentos, contratempos, ofensas das pessoas, dureza na forma como nos tratam, decepções e outros meios que aumentam muito a nossa paciência. E se pedirmos a Nosso Senhor que nos conceda a virtude da humildade, certamente Ele permitirá que nos cheguem humilhações e tratamentos duros e até fraquezas que nos desacreditem um pouco. Acontece que sem humilhações nunca seremos humildes e sem contratempos nunca adquiriremos paciência. Muitas das virtudes mais admiráveis ​​são frutos de adversidades que Deus permite que cheguem até nós, que se sofridas aceitando a vontade do Senhor, contribuem maravilhosamente para formar em nós as virtudes que mais necessitamos.

Domine-se no pequeno.

Todo diretor espiritual verdadeiramente sábio insiste que as grandes virtudes se alcançam mortificando a vontade nas pequenas ocasiões em detalhes quase insignificantes, porque as vitórias que obtemos contra nós mesmos nas grandes ocasiões são mais gloriosas, mas aquelas que alcançamos nas pequenas ocasiões são incomparavelmente mais frequentes.

Aceite o que acontece.

Devemos partir de um princípio ensinado por São Paulo e que não nos cansaremos de repetir: “Tudo acontece para bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28). Todas as coisas que acontecem neste mundo são permitidas por Deus para nosso benefício, utilidade e benefício. No final da nossa existência veremos como Deus escreveu certo por linhas tortas, e o que nos parecia ser para o nosso mal, acabou sendo para o nosso bem.

Aceite o que Deus permite.

Alguém dirá: mas como pode o que é mau e pecaminoso vir de Deus, se Ele odeia a iniquidade e o mal? É claro que isso não vem de Deus, mas Deus permite. Ele poderia muito bem garantir que isso não acontecesse. Mas ele permitiu que isso acontecesse conosco e nos ama imensamente, há uma razão pela qual ele permitiu que isso acontecesse conosco. Aqueles que tomaram os bens de Jó eram ladrões e aqueles que mataram seus empregados eram assassinos, mas ele não os culpou, mas exclamou: “Deus os deu para mim, Deus os tirou de mim, bendito seja Ele”. Aqueles que crucificaram e açoitaram Jesus eram ímpios, mas Ele disse: “Pai, caso contrário é possível que estes sofrimentos sejam removidos de mim, que não seja feito o que eu quero, mas o que tu queres”. Ele não diz: “O que Pilatos quer, ou o que Caifás quer, mas “o que Tu queres”. Porque foi Deus Pai quem permitiu que isso acontecesse, e foi para a glória de Jesus e para a nossa salvação.

E SE OS ATAQUES vierem DAQUELES QUE FAVORECEMOS?

Alguns dizem: “Aceitaria pacientemente ser ofendido e tratado com severidade por pessoas a quem não fiz nenhum favor. Mas o que não posso tolerar é que ofensas e desprezos sejam feitos a mim por pessoas a quem favoreci e ajudei”. Nesta situação devemos lembrar quem foram alguns dos que ofenderam Jesus. Por exemplo, Judas, que durante três anos o viu fazer o coxo saltar, o mudo cantar, o cego ver e o endemoninhado ser libertado. Ele tinha ouvido de Jesus os sermões mais lindos e comoventes que já foram proferidos no mundo e testemunhou dia após dia e hora após hora o que é a vida e o comportamento de um ser totalmente santo. E o que fez este homem que recebeu do Redentor a maior honra da terra: ser um dos seus 12 apóstolos? Pois bem, vendeu-o por 30 moedas e entregou-o com um beijo traidor.
E Pedro? Ele negou três vezes com juramento. E quando foi isso? A noite em que recebeu a Primeira Comunhão das mãos do próprio Jesus; na mesma noite em que foi ordenado sacerdote. Ele, que recebeu a imensa honra de ser nomeado chefe da Igreja e substituto visível do próprio Cristo, quando já não era visível ao povo. E o que Jesus disse diante de tamanha ingratidão? Pois bem, nada menos que este sublime: “Pedro: Rezei por ti... Se me amas... Apascenta as minhas ovelhas. Apascenta os meus cordeiros”.
Nestes dois casos Jesus poderia repetir o que diz o Salmo 55: “Se fosse um inimigo que me atacasse, eu tentaria esconder-me dele. Mas tu és meu companheiro, meu amigo e confidente, a quem me uni por uma doce intimidade." "Juntos caminhamos em meio à agitação pela casa de Deus." Se aconteceu ao Filho de Deus que seus amigos mais íntimos falharam com ele, o que diremos nós, pecadores miseráveis? Merecemos muito mais, pelos nossos males!
O que me perturba é que as ofensas são cometidas contra mim por pessoas muito pecadoras.
Há pessoas que protestam porque o sofrimento lhes vem de pessoas muito inimigas de Deus, e exclamam que isso não pode vir da Vontade de Nosso Senhor, pois Ele odeia aqueles que vivem fazendo o mal. Mas lembramos quem foram os que atacaram Jesus: o mesmo Satanás que o levou à parte mais alta do templo para lhe propor que saltasse dali por orgulho e vaidade.
Herodes, impuro e escandaloso, que o vestiu de louco e zombou dele. Caifás e Anás que eram invejosos e gananciosos, que odiavam de toda a alma. Se Jesus aceitou o sofrimento que lhe veio de pessoas tão más, não aceitaremos também o sofrimento que nos vem de pessoas que são mais fracas que o mal?
E as tentações? Algo que certamente não gostaríamos de ter de forma alguma e nunca são as tentações, principalmente aquelas que mais nos humilham. Aqueles sentimentos indescritíveis que não conseguimos evitar que nos alcancem. Neste caso é preciso coragem, paciência e resignação para não protestar contra o que nos acontece. E lembre-se do que Deus lhe respondeu. E lembre-se do que Deus respondeu a São Paulo quando este apóstolo lhe implorou com tanta insistência que removesse aquele “espinho da carne que o esbofeteava”. O Senhor disse-lhe: "A minha graça e a minha ajuda te bastam. Porque na fraqueza o meu poder brilha melhor" (cf. 2Co12,9).
Certas tentações nos fazem progredir mais na humildade e na paciência do que muitos sermões, e nos convencem até a saciedade daquilo que Jesus disse: “Sem mim nada podeis fazer”. A tentação não nos torna mais fracos, mas revela quão miseráveis ​​e fracos somos... E se Deus não chega com a sua ajuda muito especial, teremos que repetir com o salmista: "Antes de sofrer as tentações eu disse: 'Eu não hesitarei, nunca.' Mas tu retiraste a mão, Senhor, e eu caí no mais profundo abismo." Parodiando o que exclamou o santo Jó, repitamos nos momentos de tentação: “Se recebemos de Deus os bens que nos consolam, por que não aceitar também as tentações humilhantes que Ele permite que cheguem até nós”. Deus sabe como tirar o bem até dos próprios males.
Tudo acontece para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8)

CAPÍTULO 37

APROVEITE CADA OCASIÃO PARA CRESCER EM CADA VIRTUDE

Os comerciantes adultos aproveitam até as menores oportunidades que lhes são apresentadas para obter lucros e assim aumentar seu capital. Deveríamos fazer algo semelhante em relação às virtudes: não deixar passar nenhuma oportunidade que surja sem conseguir algum ganho em alguma virtude, e assim aumentar a nossa santidade e a recompensa para a eternidade.

Um principal e muitos secundários.

Temos insistido que em cada período da vida devemos almejar alcançar alguma virtude, colocando um esforço maior na sua realização do que aquele dedicado às outras, porque precisamos mais dessa virtude do que das outras. Mas isso não significa que deixemos de tentar crescer em todas as outras virtudes. É preciso fazer como bons alunos que pretendem se especializar em uma ciência específica, que é a que mais lhes servirá na futura profissão, mas isso não significa que deixem de estudar também diversas outras ciências.

Alguns exemplos.

Suponha que sejamos criticados por uma boa ação que praticamos com boas intenções. Esta é uma boa oportunidade para praticar a virtude da retidão de intenção, que consiste em se preocupar apenas com o que Deus pensa, e não com o que as pessoas pensam. Ou nos corrigem com palavras duras e até ofensivas, ou nos negam fria e duramente um favor que pedimos. Que boa oportunidade para praticar a virtude da humildade! E se um alimento é insípido ou desagradável e não é do nosso agrado e é escasso e mal preparado, ou servido com relutância... maravilhosa oportunidade para praticar a virtude da temperança ou da mortificação. E quando alguma dor ou doença nos atinge, que melhor oportunidade para cultivar e fazer crescer a virtude da paciência?
E o que devemos pensar então? Suponha que sejamos maltratados ou que algo desagradável nos aconteça. Pensemos então: “Não há castigo que se compare às minhas faltas. Muito mais é o que mereço por tantos males que cometemos”. Quando um pobre nos pede esmola e não sentimos muita vontade de dá-la, lembremo-nos do que diz o Livro dos Provérbios: “Quem dá ao pobre, empresta a Deus, e Deus retribuirá”, e pense: vou dar a esse pobre coitado, e o bom Deus saberá me devolver tudo multiplicado. Se os contratempos nos sobrevêm e as coisas acontecem de uma forma muito diferente do que queríamos, pensemos: "Em Nosso Senhor que permitiu que estes males acontecessem comigo. Ele me ama e se Ele permite que aconteçam é certamente porque Ele vai obter um benefício deles." muito bem."

A mosca e o leite.

Os camponeses dizem que duas moscas caíram num copo de leite. Uma desanimou e se deixou afogar, mas a outra chutou e mexeu tanto as pernas que conseguiu formar creme e sentou-se no creme e conseguiu sobreviver. Assim nós: quando chegam momentos difíceis e amargos podemos ter duas formas de agir: uma: desanimar e deixar-nos derrotar. A outra é tentar tirar o máximo proveito daquela situação dolorosa, “chutar”, ou seja, fazer um esforço para superar aquela situação difícil, e assim alcançar vitórias na terra e uma recompensa no céu.

Aquele que foi atacado com limões.

Dizem que um ator iniciante não sabia atuar no teatro de uma forma que agradasse ao público, e o público, cheio de nojo, saiu para a rua, comprou limões, e voltou ao palco, atacou-o com limões.
E o paciente ator recolheu todos os limões, colocou-os num carrinho de mão, saiu para a rua, vendeu-os e assim conseguiu os seus bons centavos. Não será esta uma figura do que podemos fazer quando a vida nos ataca com mal-entendidos, amarguras e momentos ruins? Juntar tudo isso e fazer uma boa limonada, oferecendo tudo a Deus com a maior paciência possível?

CAPÍTULO 38

QUE É NECESSÁRIO FAZER UM PLANO DE VIDA. TENTE CUMPRIR TODOS OS DIAS E NUNCA IMAGINE QUE JÁ ESTAMOS CUMPRINDO EXATAMENTE

Muitas pessoas que se dedicaram a educar-se confirmaram que um dos meios que mais ajuda a progredir na virtude é fazer um plano de vida e esforçar-se dia após dia. para cumpri-lo da melhor forma possível.
É necessário decidir dar grande importância a tornar-se “uma pessoa virtuosa, alguém que se dedica a fazer o bem e a tentar agradar a Deus”, e dar mais valor a isso do que a qualquer título de honra ou glória. A partir de agora você tem que decidir trabalhar a sua própria personalidade e tomar a decisão de não desistir um único dia de luta para alcançar a sua perfeição.

Algo que não é fácil.

Os iniciantes imaginam que crescer na perfeição não será difícil para eles, porque, como pensam que sabem o que devem fazer e evitar, não veem por que não deveriam ser capazes de fazer uma coisa e evitar a outra. Mas muito em breve perceberão que esta tarefa empreendida é muito mais difícil do que imaginavam e do que o seu optimismo enganador lhes dizia. Enquanto direcionam toda a sua atenção para evitar um erro, outro os surpreende; Seus velhos maus hábitos aproveitam-se de seu descuido e pregam-lhes peças muito prejudiciais; suas más inclinações são às vezes mais fortes que sua vontade e mais astutas que sua inteligência; e se convencem de que não basta ter boa vontade e desejo de ser melhor, mas que é necessária uma graça especial ou ajuda de Deus, de vez em quando,
E Ele nos responderá com muita frequência o que tantas vezes disse àqueles que ia curar: “Sim, eu quero. Vocês estão curados”.
Uma lista importante: devemos fazer uma lista das virtudes que nos parecem mais importantes e que mais precisamos alcançar, e nos dedicarmos a repetir e repetir atos dessas virtudes até formarmos o hábito de agir de acordo com elas.
Mas não se esforce para obtê-los todos de uma vez, mas um após o outro. A aquisição da virtude anterior facilita a aquisição da próxima. Os professores de arte sempre aconselham fazer um plano do que você vai fazer ou alcançar. Isto é o que você deve fazer espiritualmente: traçar um plano: o que quero obter? Que virtudes quero praticar? Como estou praticando-os? Que sucessos e que fracassos estou tendo para alcançá-los?

Remova ervas daninhas.

Quem trabalha numa grande fazenda não se propõe a eliminar todas as ervas daninhas da sua fazenda de uma só vez, mas sim arrancá-las aos poucos, até que o campo fique livre de ervas daninhas. Isto é o que devemos fazer na alma: propor-nos eliminar aos poucos as faltas que cometemos contra as virtudes que tentamos praticar e começar a eliminar aquelas que voltam a aparecer.
E para isso, faça pequenas orações frequentes, confiando no Senhor para nos ajudar e iluminar.

Descobertas impressionantes.

Se nos examinarmos frequentemente sobre a forma como estamos cumprindo o nosso Plano de Vida, ficaremos surpresos ao encontrar em nós muito mais falhas do que esperávamos, mas também teremos a satisfação de verificar que pouco a pouco o número de nossas falhas está aumentando. diminuindo. .

Nunca acredite que já chegamos.

Nunca devemos nos convencer de que adquirimos um grau eminente de virtude ou de que triunfamos inteiramente sobre qualquer paixão. Isto levar-nos-ia a deixar-nos levar pelo orgulho, a descuidar das nossas defesas e depois a sofrer as quedas mais humilhantes. Sigamos o conselho do Apóstolo: “Quem se levanta deve ter muito cuidado para não cair” (1Co10,12).

CAPÍTULO 39

QUEM QUER OBTER VITÓRIAS NO COMBATE ESPIRITUAL TEM QUE ACEITAR RECEBER FERIDAS, SOFRER DOR, TER QUEDAS E SOFRER DESILUSÕES

Os dois caminhos de Hércules.

A antiga lenda dizia que quando o futuro campeão Hércules ainda era muito jovem, certa vez sonhou que lhe eram apresentados dois caminhos: um largo, fácil em descida suave, cheio de rosas sem espinhos, restaurantes e salões de dança, jogos e iguarias. tinha uma placa que dizia: "Este é o caminho da facilidade e do não esforço. Através dele você alcança a ruína e o fracasso." Então avistou outro caminho estreito, subindo, cheio de pedras ásperas e arbustos espinhosos, sem bebidas fáceis à mão, nem descansos muito refrescantes, e uma placa dizia: “Este é o caminho da dificuldade e do esforço, das lutas para se manter bem.

Os dois caminhos de Jesus.

500 anos depois do sonho de Hércules, Cristo veio e nos deixou este aviso extremamente importante: “Cuidado para que vocês sempre andem pelo caminho estreito das dificuldades, pois largo é o caminho e espaçoso é o caminho que leva à destruição e há muitos que caminham por ali, mas quão difícil é o caminho e quão estreito é o caminho que conduz à Vida Eterna, e quão poucos são os que percorrem esse caminho” (Mt 7, 13).
Por isso devemos ter cuidado para não ouvir as vozes dos inimigos da nossa santidade que querem que evitemos tudo o que é difícil ou nos faz sofrer. Isso seria um engano muito prejudicial.

Os pequenos sofrimentos preparam os grandes.

Contam a história de um antigo rei que, para evitar que um dia alguém o envenenasse, adquiriu o hábito de tomar uma pequena dose de "antiveneno" todos os dias. E mais tarde, quando num momento de desespero e desânimo quis suicidar-se tomando veneno, não conseguiu mais se envenenar porque seu corpo foi treinado para resistir. Algo semelhante acontece com aqueles que se acostumam a sofrer com paciência e pelo amor de Deus as pequenas dificuldades e contratempos que enfrentam todos os dias. Quando enormes tristezas e catástrofes chegarem até você, sua vontade já estará tão fortalecida que você será capaz de resistir sem desanimar ou desistir.

Uma regra muito útil.

Algo que produz muita paz e serenidade é habituar-se a aceitar de bom grado sempre e em tudo o que Deus permite que aconteça. Nunca chove muito nem faz muito calor, mas cai a chuva que Deus achou por bem cair e é tão quente como Nosso Senhor pretendia que fosse. Nem um fio de cabelo cai da nossa cabeça sem que Deus tenha dado a ordem para que caia. E o que este Pai misericordioso permite que aconteça aos seus filhos, que tanto ama, é certamente para o bem deles.

Bom negócio.

Um santo disse: “O que eu quero que aconteça comigo sempre acontece comigo”. E alguém lhe disse: “Isso é impossível, porque na vida acontecem a todos nós coisas que não gostaríamos que nos acontecessem”. "E ela respondeu: 'Eu sempre quero o que Deus quer e permite.' E como só acontece o que Deus permite, sempre acontece o que eu quero." Como deveríamos ter nos lábios muitas vezes aquela bela oração de Jesus no Jardim: “Pai celeste, não se faça o que a minha natureza humana deseja, mas sim o que Tu queres” (Mc 14, 36).

E os pecados e tentações?

Nossos pecados não são da vontade de Deus, mas de nossa própria autoria. Mas até Nosso Senhor pode tirar deles o bem, porque nos tornam mais humildes, mais compreensivos com os fracos e nos fazem sentir mais necessitados do perdão e da ajuda de Deus. Mas devemos sempre odiá-los e abominá-los.
E as tentações? Trata-se, de fato, de uma cruz pesada, cansativa e difícil de suportar.
Eles nos atacam como cães loucos em todas as esferas da vida. Eles latem e uivam à porta da nossa alma como lobos em busca de presas para destruir.
Como moscas cansadas e inoportunas, elas zumbem frequentemente em nossos ouvidos.

Gostaríamos de não tê-los e eles vêm até nós.

Gostaríamos de derrotá-los e eles nos derrotam. Como morcegos escuros, eles esvoaçam constantemente diante de nossos olhos. Quando o fogo da luxúria queima, a carne se rebela como uma louca enfurecida. Mesmo os maiores santos como São Paulo tiveram que implorar a Deus para remover esse espinho da carne que os esbofeteava. Felizmente também para todos nós que os sofremos, Jesus disse: “Vinde a mim, todos os que estais sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). E a cada um de nós repete o que disse a São Paulo: "A minha graça te basta. Porque na fraqueza resplandece mais o meu poder" (cf. 2Co12,9).

Fraqueza total.

Quantas vezes pensamos que teremos um dia perfeito.
Não há nuvens no horizonte. E uma oportunidade se apresenta e não paramos mais, e não oferecemos resistência e não pensamos nas consequências do nosso mal... Em poucos momentos estamos fora de combate... por desejo máximo não ao pecar passamos imediatamente ao pecado. Não conseguimos recordar a amargura que a culpa passada nos trouxe... ficamos indefesos diante da primeira excitação... as tremendas consequências que a nossa culpa vai ter não nos vêm à mente. Acreditamos que agora conseguiremos nos controlar e falhamos mais uma vez... Só nos resta uma solução: lançar-nos como um foguete às alturas em busca da ajuda de Deus.

O que um santo disse.

Uma alma da mais alta espiritualidade disse: “Vi que um grande número de inimigos espirituais me cercavam com todos os tipos de armas mortais e eu não tinha para onde fugir sem ficar gravemente ferido, e então clamei ao Senhor e Ele estendeu o Seu mão e me tirou de lá e me disse: "Confie em mim e eu te livrarei." Façamos algo semelhante em momentos de tentação e ofereçamos ao Senhor esse sofrimento tão chato e humilhante de sofrer ataques espirituais contínuos e lembremo-nos que a vantagem de sofrer as tentações é que eles permanecem compreensivos com os outros.

E AS MEMÓRIAS AMARGAS E AS DESILUSÕES?

Outro dos sofrimentos que nosso Criador nos permite sofrer é lembrar as coisas tristes, humilhantes e dolorosas que aconteceram a nós no passado.
Gostaríamos de esquecê-lo e apagá-lo da nossa memória, mas tudo isso permanece lá.
Como um zumbido perpétuo no ouvido, como uma nuvem que não sai dos olhos.
Ao aceitar tudo isso com paciência e pelo amor de Deus, estamos ganhando mais prêmios para a eternidade do que talvez possamos imaginar.

Os arrependimentos.

Na vida poderemos esquecer muitas coisas: nomes de pessoas, lugares por onde passamos, palavras que ouvimos, etc. Mas algo que nunca poderemos esquecer: são os graves pecados que cometemos. Estas permanecem indeléveis como uma tatuagem, na memória. Quando um amante vai à praia ele pede a um litorâneo que escreva o nome de sua amada como uma tatuagem em seu braço. Mas isso acontece depois que ele briga com aquela mulher e deixa de amá-la, e ainda assim ele terá que carregar esse nome na pele do braço para sempre, porque ficou ali indelével. O mesmo acontece com os nossos pecados: já não os amamos, agora os odiamos, mas a sua memória ficará para sempre gravada na nossa memória. Que este tormento sirva de penitência por todo o mal que fizemos. E digamos o mesmo de tantas lembranças tristes do passado que não podemos evitar. Um psicólogo disse com razão: “Se as pessoas não se lembrassem das coisas tristes que lhes aconteceram na vida, mas sim das coisas felizes e alegres que lhes aconteceram, não existiriam neuróticos”. Que o Senhor tenha misericórdia e apague de nossas mentes essas lembranças dolorosas, mas enquanto Ele não permitir que elas desapareçam, ofereçamo-las como penitência pelos nossos pecados.

JESUS ​​DIZ: “VINDE A MIM TODOS OS QUE ESTÃO CANSADOS E FATIGADOS, E EU VOS ALIVIAREI” (Mt11,28)

CAPÍTULO 40

QUE É NECESSÁRIO EVITAR EXAGEROS, PORQUE ESTES TRAZEM MAIS MAL DO QUE BEM

Há um grave perigo no combate para adquirir virtudes e consiste em exagerar nos bons atos que praticamos e nas penitências que nos impomos. São Paulo diz que: “Satanás se disfarça de anjo de luz para nos enganar” (cf. 2Co11,14) e faz isso muitas vezes incitando-nos a cometer exageros na piedade, e assim nos tornamos fracos e cansados ​​rapidamente e temos que abandonar o caminho da santidade. Ele quer que nos convençamos de que estamos fazendo grandes coisas e assim nos enchamos de vanglória.

Leituras.

Alguns iniciantes desenvolvem tanto fervor pela leitura (percebendo que boas leituras elevam seu espírito e transformam sua alma) que se dedicam com demasiada voracidade à leitura e à leitura até ficarem mentalmente cansados.
Quando o governador da Judeia quis desacreditar São Paulo, disse-lhe: “Paulo está louco. O excesso de leitura o fez enlouquecer” (Atos 26,24).
Isso não era verdade, e então o Apóstolo respondeu: “Não sou louco, e as palavras que pronunciei são verdadeiras e vêm de uma mente equilibrada e de bom julgamento”. Mas em algumas pessoas acontece que desenvolvem um apetite desordenado por ler e ler, por tudo, e quase sem digerir o que lêem, e com avidez e pressa e querendo atingir o máximo de sabedoria em muito pouco tempo, e o que eles obtem é fadiga mental. Assim como não ler ou ler pouco leva ao raquitismo mental e ao nanismo espiritual, ler demais e com pressa e entusiasmo leva ao cansaço e à exaustão. O Livro dos Provérbios diz com razão: “O mel é saboroso e benéfico, mas se você comer demais, você ficará doente.
Você só deve comer o suficiente, porque se exagerar, você se sentirá saciado e até vomitará" (Pr2,16). E as boas leituras são um mel muito benéfico para a alma. Claro, para a grande maioria dos católicos, mais de alertá-los para não lerem muito, o que devemos aconselhá-los é que leiam um pouco mais, porque leem muito pouco, e talvez 90% do que leem seja mais alimento para os animais do que iguaria para o espírito, como escândalos e outras coisas mundanas, mas leituras que conduzem a alma à santidade, quão poucas são realmente lidas! Um grande diretor espiritual sempre aconselha: “Leia, leia livros religiosos, e prefira sempre os dos autores que tenham atrás do nome um S., isto é, livros escritos por santos".

As penitências.

Um dos erros mais prejudiciais para quem inicia a vida de santidade é dedicar-se a imitar os grandes santos fazendo penitências exageradas, desproporcionais às suas forças. Os camponeses repetem um ditado: “Um burro vivo que nos ajuda a carregar as cargas é mais útil para o nosso trabalho do que um sábio que está morto no cemitério”. Deveríamos dizer algo semelhante na vida espiritual: “Quem preserva a saúde tendo o cuidado de não exagerar nas penitências pode trabalhar mais do que quem perde a saúde exagerando nas mortificações”. Podemos imitar os santos no seu amor ao silêncio, no seu apreço pela humildade, na sua imensa caridade para com os outros e no seu intenso amor a Deus em sofrer com paciência as ofensas que nos são cometidas e os reveses e as doenças que nos atingem, em não comer nem beber por gula, em lutar para evitar o pecado e corrigir os próprios defeitos. Mas quanto às suas terríveis penitências, se não recebemos uma graça muito especial como a que eles receberam, será melhor não tentar imitá-las, porque podemos danificar irreparavelmente a nossa saúde e desanimar no caminho da santidade.

CAPÍTULO 41

O PERIGO DE VIVER JULGANDO E CONDENANDO OS OUTROS

São Paulo escreveu algumas frases que ficaram famosas. Diz assim: “Você não tem desculpas, seja você quem for, você que se dedica a julgar e condenar os outros, porque ao julgar os outros você se condena, pois faz a mesma coisa que vive condenando nos outros” (Rm2,1).
Nosso orgulho e o desprezo que sentimos pelos nossos vizinhos fazem com que tenhamos uma ideia negativa das outras pessoas. E quanto maior a opinião que o orgulho nos faz formar de nós mesmos, menor é a opinião que o nosso desprezo forma dos outros, e nos convencemos de que estamos livres das imperfeições que tanto criticamos nos outros. E isso é uma mentira e um engano.

A fábula de Esopo.

Este poeta que viveu 500 anos antes de Cristo pintou aqueles que criticam e desprezam os outros, com duas mochilas penduradas no pescoço. Aquele que tem os defeitos do próximo bem diante dos olhos para olhar continuamente para eles e condená-los. E o outro com os seus próprios defeitos, pelas costas, para não os ver nem conhecer. Esse é o nosso retrato quando condenamos e julgamos.

Remédios para esse mal.

Quando começarmos a pensar nos defeitos ou vícios do próximo, procuremos imediatamente afastar esse pensamento e nos recusarmos a formar julgamentos negativos sobre eles. Nesses momentos você deve dizer a si mesmo: “Não tenho autoridade para julgar ou condenar os outros; não tenho dados suficientes para formar um julgamento sobre suas paixões, defeitos e más inclinações. Tenho que examinar aquelas palavras do Apóstolo: "Você que se dedica a julgar e a condenar, que comete a mesma coisa que condena, que vai escapar do julgamento de Deus?" (Rom2). E que outras semelhantes promessa consoladoras feita pelo próprio Jesus que será nosso juiz: “Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados” (Lc6,37).

Olhar dentro.

Para não nos dedicarmos a julgar e condenar os outros, é necessário concentrar toda a nossa atenção nas nossas próprias misérias e fraquezas. Se fizermos isso, encontraremos tantas coisas para corrigir e reformar dentro de nós mesmos que não teremos mais tempo ou prazer para nos dedicarmos a julgar os outros, e aprenderemos a olhar para as falhas dos outros com boa caridade. Temos que pensar que se vivemos julgando que os outros têm algum vício, pode ser que nós também o tenhamos, pois segundo o velho ditado: “O ladrão julga pela sua condição”. Assim como alguém que na infância sofreu a corrupção de um adulto, quando chega à idade adulta vive continuamente julgando que os adultos estão corrompendo os menores, da mesma forma atribuindo certas misérias e más inclinações aos outros,

Uma média impressionante.

Se analisarmos friamente as vezes que condenamos em nosso entendimento ou com palavras dirigidas aos outros, veremos que na maioria das vezes que condenamos, erramos.
Então, por que se dedicar a uma atividade que tem tantas possibilidades de erro? Quando sentirmos a inclinação para fazê-lo, digamos a nós mesmos: "Como posso ousar julgar e condenar os outros se tenho os mesmos defeitos e piores inclinações que eles? Se tenho uma trave nos olhos, por que criticar os outros? quem tem um pouco de lixo dentro deles?

E se a ofensa for verdadeira e pública?

Nesses casos, vamos pensar que essa pessoa deve ter muitas qualidades e virtudes ocultas e provavelmente fez muitas boas obras das quais desconhecemos. E consideremos que se Deus permitiu que ele caísse nesta falta, provavelmente foi para curar o seu orgulho e aumentar a sua humildade e para que ele se tornasse mais compreensivo com os outros. E, portanto, o seu ganho ao tornar público este erro será maior do que a perda que sofreu com o descrédito que lhe foi atribuído.

E se a falta for enorme?

E se o pecador não estiver arrependido, for endurecido e não demonstrar inclinação para a conversão? Nestes casos, depois de tomar a resolução de rezar todos os dias pela conversão dos pecadores (que será talvez o maior favor que lhes podemos fazer e só no céu saberemos quanto bem lhes fizemos ao rezar pela sua conversão). Elevemos nosso espírito ao céu e pensemos em quantos estão lá em cima desfrutando do Paraíso Eterno depois de terem levado por muitos anos uma vida de pecado que parecia impenitente e sem esperança de conversão, e de repente, talvez por causa das orações e sacrifícios que alguém ofereceu pelos pecadores, recebeu uma daquelas graças que os místicos chamam de "tumbativas" e mudou de vida e mais tarde conseguiu alcançar a santidade, como o ladrão da direita na cruz ou como o pecador do Evangelho, trocaram uma vida horrível de pecado por uma situação de conversão e foram salvos. Por outro lado, quantos homens e mulheres que já estavam no alto do caminho da santidade ficaram cheios de orgulho e presunção, e de vanglória e desprezo pelos outros, e depois caíram num abismo de miséria e fraqueza. É por isso que o sábio diz no Livro do Eclesiástico: “Não julguemos ninguém antes de chegar ao fim da vida, porque há pessoas que começaram bem e terminaram mal, e outras podem começar muito mal e terminar muito bem." Outro teve vanglória e desprezo pelos outros, e depois caiu num abismo de miséria e fraqueza.

Peça esta qualidade.

Um dos favores que mais devemos pedir ao Espírito Santo é aquele dom que, segundo São Paulo, o Espírito Santo costuma conceder a quem O suplica: a benignidade, isto é, a qualidade de pensar bem e com bondade para com todos (Gal.5). Se Ele nos conceder esta feliz inclinação, teremos a certeza de que no dia do Juízo não receberemos sentença condenatória, porque Jesus prometeu: “Com o juízo com que julgardes, sereis julgados, e com a medida com que medir,  serão medidos" (Mt7,1).
Com a maior frequência deveríamos ter nos lábios aquela pequena oração que tantas pessoas repetiram milhares de vezes e que transformou tantos corações duros e inflexíveis em corações compreensivos e bondosos. Diz assim: “Jesus, manso e humilde de coração, faze com que os nossos corações sejam iguais ao Vosso”.
Então se cumprirá em nós o que o Senhor prometeu por meio do profeta Ezequiel: “Trocarei o teu coração de pedra por um coração de carne” (Ez36,26) o coração duro e condenatório por um coração compreensivo e perdoador.
Muitos tentaram pedir esta graça e a obtiveram. Por que não ensaiamos também?
Se vamos ser julgados com a medida que usamos para julgar os outros, o melhor é usar uma medida ampla e generosa, para que essa medida seja usada a nosso favor. É assim que se cumprirá aquela promessa de Jesus: “Uma medida ampla, boa, generosa e abundante vos será dada” (Lc6,38).

CAPÍTULO 42

A ARMA MAIS PODEROSA PARA VENCER NO COMBATE ESPIRITUAL

Temos lembrado que para ser vitorioso nos combates do espírito são necessárias três condições: desconfiar que pelas nossas próprias forças conseguiremos derrotar os inimigos da salvação; confiar imensamente em Deus e usar da melhor maneira possível as qualidades recebidas. Agora vamos lembrar da quarta arma, e a mais poderosa e eficaz, que é a oração. A partir da oração podemos repetir as palavras que a Sagrada Escritura diz sobre a sabedoria: “Todas as outras coisas boas vieram a mim junto com ela”. A oração é o canal através do qual toda a ajuda que recebemos do céu nos é enviada. É a espada que Deus colocou em nossas mãos para que possamos combater os inimigos da nossa salvação e derrotá-los.

A oração tem suas condições.

Orar é falar com um Deus que nos ama e nos ouve com infinita bondade e com muito interesse em nos ajudar e defender. Mas ao orar devemos ter o cuidado de cumprir certas condições para que a oração agrade a Nosso Senhor. Os santos dizem que ao orar devemos fazer quatro ações: adorar, agradecer, pedir perdão e implorar favores. Pode haver um perigo: orarmos apenas para pedir favores e esquecermos de adorar, dar graças ao bom Deus e implorar Seu perdão pelas ofensas que lhe fizemos. Quando você vai pedir um favor a alguém, é muito importante conquistar a amizade e a boa vontade de quem vai conceder esse favor. Fazemos assim com Deus? Pedimos desculpas pelas ofensas que lhe fizemos? Agradecemos-Lhe por tantos favores que nos concedeu? Dizemos a Ele muitas vezes que o amamos? Ou apenas perguntamos, perguntamos e nada mais?

Ao pedir, é importante que o que é pedido agrade a quem dá.

Um santo disse que o céu deve estar cansado de ouvir que alguns só pedem bens materiais para esta terra, esquecem de pedir a conversão, a salvação da alma, para crescer na santidade e obter a vida eterna. São coisas que verdadeiramente agradam muito a Nosso Senhor e Ele as concede com imenso prazer. É isso que mais pedimos? Não esqueçamos que das sete petições do Pai Nosso, apenas uma é material.
Os outros seis são espirituais.

Vantagens da oração.

Uma das maiores qualidades que Deus deu a alguns de nós é que gostamos de orar. Porque a oração nos ajudará a atravessar sem falhar os lugares traiçoeiros onde se encontra a tentação. Pela manhã a oração é a chave que nos abre os tesouros de Deus e à noite é o manto que nos coloca sob Sua Divina Proteção. Os milagres mais maravilhosos e as mudanças mais portentosas foram preparados por muitas orações. Em alguns apostolados o que falha é que se dedica muito tempo a fazer planos e pouco tempo a rezar. Assim o apostolado torna-se estéril.
Toda pessoa fervorosa deveria dedicar dez por cento do seu dia à oração.
O defeito de não confiarmos em Deus com toda a fé desaparecerá e diminuirá sensivelmente.

Uma condição sem a qual não progredimos.

Para que a oração tenha efeito é necessário que a façamos com grande confiança no poder e na bondade de Nosso Senhor. São Paulo diz: “Deus tem poder e bondade para nos dar muito mais do que ousamos pedir ou desejar” (Ef3,20).
Podemos ter certeza de que se lhe pedirmos com fé e sem nos cansarmos, ele não nos negará a ajuda que necessitamos material e espiritualmente. O santo profeta repetiu: “Você sabe quem o Senhor prefere? Aqueles que confiam na sua misericórdia”. Procuremos pertencer a esse número de favoritos de Deus.
Quanto mais confiarmos Nele, mais seremos ajudados por Sua bondade e poder infinito.

Outra condição.

Para que a nossa oração seja respondida favoravelmente pelo Criador, é necessário que o nosso desejo seja cumprir a Vontade de Deus, o que Deus quer, e não a nossa vontade ou os nossos próprios caprichos. Porque a nossa própria vontade pode estar errada e pode nos fazer pedir coisas que não nos convêm, e por outro lado, a Vontade Divina nunca está errada e o que ela quer para nós é o que é melhor para nós. É por isso que digamos ao nosso Senhor de vez em quando que se o que lhe pedimos não servir ao nosso bem maior, por favor, não nos conceda. Mesmo nas virtudes e no progresso espiritual, que são bens que sempre nos beneficiam muito, peçamos tudo isso ao Senhor, mas não para nos darmos o prazer de sermos melhores e mais estimados, mas para agradá-Lo mais e realizar melhor. sua santíssima Vontade.

AJA DE FORMA QUE MEREÇAMOS O QUE PEDIMOS

Em Oração os especialistas recomendam que para fazer com mais segurança o que pedimos do céu quando oramos, é muito conveniente que procuremos agir de tal forma que com nosso bom comportamento ganhemos a simpatia do Santo Deus a quem pedimos esses favores. Isto é o que os filhos fazem quando tentam fazer com que o pai lhes conceda algum favor muito especial que desejam obter: então tentam comportar-se tão bem que o pai, muito satisfeito com o seu bom comportamento, fica mais inclinado a conceder-lhes o que eles pedem.
Infelizmente, muitas vezes fazemos o contrário: pedimos a Deus algum favor ou graça que necessitamos ou desejamos, mas entretanto continuamos a comportar-nos de uma forma tão má que em vez de merecermos a simpatia divina, o que estamos a receber é aversão e antipatia pelo nosso mal. Prossiga. E então se cumpre o que disse um grande místico: “Com Deus, nos bons momentos, conseguimos tudo o que queremos e muito mais. Mas nos maus momentos, só temos fracassos”.

Antes de fazer o pedido, obrigado.

É extremamente conveniente que antes de pedir favores a Nosso Senhor Lhe agradeçamos por tantas gentilezas que Ele nos mostrou até agora. Isto é o que as pessoas do mundo sabem fazer quando vão pedir ajuda aos poderosos. Antes de lembrá-los de como estão gratos pelos presentes anteriores. É assim que ganham boa vontade para lhes conceder novas ajudas. Lembrar com reconhecimento dos favores recebidos é sinal de que você tem um coração nobre e agradecido. Portanto, não deixemos passar nenhum dia sem agradecer a Deus por certos favores que ele nos concedeu. Cumprimos assim o mandamento do Livro Sagrado: "Devemos ser sempre gratos. Demos graças a Deus em tudo, porque esta é a sua santa vontade" (1Tes5,18).

CONTRATE SEMPRE UM ADVOGADO, UM INTERCESSOR

Quando for falar com uma autoridade muito elevada, é extremamente aconselhável estar acompanhado de alguém que goze de grande estima e bom nome entre o alto governo, por exemplo um senador, um familiar muito estimado pelo governante, um amigo, seu etc. Algo semelhante é o que devemos fazer ao nos dirigirmos ao Deus Altíssimo. Apresentamo-nos a Ele através do ser que Ele mais ama e estima, Seu amado Filho Jesus Cristo. Por isso o Redentor nos deixou esta bela promessa: “Tudo o que pedirdes em meu nome, eu o farei (Jo14,13). Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, Ele o concederá” (Jo15,16). Supliquemos sempre qualquer favor que desejamos obter do Pai Celestial, dizendo-lhe que o pedimos em nome de seu amado Filho Jesus Cristo. E digamos a Jesus que lhe suplicamos em nome de sua amada Mãe e dos santos. Assim, apoiados por advogados e intercessores tão poderosos, seremos ouvidos com maior segurança.

A oração irresistível.

É uma oração perseverante, a oração de quem não se cansa de implorar a ajuda divina. Jesus conta-nos no Evangelho (cf. Lc18) que uma viúva, não se cansando de mendigar e suplicar, obteve justiça de um juiz mau e frio e libertou-a de um inimigo que queria deixá-la na miséria. E acrescenta ao Senhor: “Se um homem mau e frio fez isso, quanto mais meu Pai Celestial fará se você não se cansar de implorar-lhe?”

Aquele que não esperou.

Uma senhora foi até uma família rica pedir um vestido para sua filhinha que era muito pobre. Aquelas pessoas começaram a procurar nos armários o melhor vestido que tinham, mas quando desceram para o primeiro andar a mulher já tinha saído acreditando que não iriam lhe dar nada. Ele não sabia esperar.
Mas e se demorar muito? Um dos perigos para a nossa oração é que se Deus demorar muito para nos conceder o que pedimos, ficaremos desanimados e pararemos de orar a Ele. É necessário que repitamos a nós mesmos até enjoar a bela notícia que São Paulo nos contou: “Deus tem poder e bondade para nos dar muito mais do que ousamos pedir ou desejar” (Ef 3,20). Se Ele quer e pode ajudar, por que parar de pedir ajuda a Ele?
Partimos sempre de um princípio: “Aquele a quem pedimos é o Todo-Poderoso”. “Deus ouve-nos, diz São João, e se nos ouve ajuda-nos” (1Jo 5,14).
E se a graça que pedimos não for adequada para nós? Neste caso, Deus, que é infinitamente sábio e bondoso, conceder-nos-á então outras graças e ajudas mais úteis e proveitosas. Mas a verdade é que Ele cumprirá sempre o que prometeu através do seu profeta: “Eles ainda não terminaram de falar na sua oração e eu já lhes envio uma resposta a favor deles” (Is 65,24).

E se não merecermos ser ouvidos? Quando Deus parece não querer ouvir os nossos pedidos, devemos nos humilhar e reconhecer que somos indignos que Ele nos ouça e nos ajude, mas não nos detenhamos na memória de nossas misérias e males, mas sim pensemos em quão grande é Sua misericórdia e sua admirável generosidade e que Ele nos ajuda não porque somos bons, mas porque Ele é bom; e tenhamos a certeza de que quanto maior for a nossa confiança na misericórdia divina, maiores serão os favores que obteremos de Nosso Senhor. De alguém que tem mais riqueza e mais generosidade, pode-se obter mais ajuda do que de alguém que é pobre e mesquinho.
Mas quem é mais rico, mais generoso e melhor amigo nosso do que o próprio Deus?
Nosso Criador não precisa de nós para “informá-lo” sobre o que precisamos porque “o Pai Celestial sabe bem tudo que você precisa” (Lc 12,30), mas Ele quer que vamos a Ele para confiar plenamente a Ele o que nos falta e deixar que a solução esteja em suas mãos, aceitando sua santa vontade.
São João Crisóstomo diz: “Não há criatura mais poderosa do que aquela que ora com fé, porque tem a seu favor uma promessa infalível que diz: “Peça e lhe será dado”. nos concederá... É a nossa vez de não ter medo de pedir, mesmo que o que pedimos seja tão estranho como pedir que uma árvore ou uma montanha sejam arrancadas de onde estão e lançadas ao mar (Mc 11,23).

Ore sem tanto esforço.

É necessário não nos aprofundarmos tanto nos problemas. De tanto coçar uma ferida, ela inflama cada vez mais. Deixe Deus agir.
Vamos acabar com tanto medo. O medo não é bom para quem confia na bondade do Senhor. Não nos dediquemos tanto a analisar os problemas ou a querer resolvê-los sozinhos. Deixe Deus resolvê-los.

Não peça apenas coisas materiais.

As pessoas dizem: “Eles rezam para que este ou aquele problema seja resolvido”. Muito bem! Mas por que você não pergunta também: reze para que eu me converta? Se isso acontecer, cumprir-se-á o que Jesus anunciou: “Todas as outras coisas nos serão acrescentadas”. A melhor oração é aquela que parte do desejo de agradar a Deus, do desejo de salvar almas, do desejo de alcançar a própria conversão e a de muitos outros. Não há nada que agrade mais ao Nosso Salvador do que isto. E se lhe pedirmos estas graças, ele estará sempre pronto a responder à nossa oração.
“Tudo o que pedires em oração, crede que já o recebeste, e o obterás” (MC 11,24)

CAPÍTULO 43

OS DOIS TIPOS DE ORAÇÃO E COMO FAZÊ-LOS

Orar é elevar a mente a Deus para o adorar, dar-lhe graça,
A oração pode ser feita de duas maneiras: com palavras ou apenas com a mente. A primeira é chamada de oração vocal. A segunda: oração mental.

ORAÇÃO VOCAL.

É aquela em que falamos com palavras a Deus. Assim, por exemplo, dizemos: “Senhor e meu Deus, se for do teu agrado, se for para o meu bem maior, concede-me este ou aquele favor... Perdoa-me esta ou aquela falta... Obrigado por este ou outro benefício seu."
Quando sentimos tentações perigosas e corremos o risco de cair no pecado, é apropriado dizer: “Senhor, olha, eles estão me derrotando.
Meu Deus, venha me ajudar. Senhor, apressa-te em ajudar-me... Olha, Senhor, no caminho para onde vou me armaram uma armadilha... Não me abandones, Deus da minha salvação... Não me deixes cair em tentação... Deus santo, Deus forte, Deus imortal, livra-nos Senhor de todo mal... etc.
Quando nos sentimos fracos e incapazes de ser vitoriosos nas lutas espirituais podemos dizer as palavras do belo Salmo 86: “Inclina, Senhor, os teus ouvidos; escuta-me, sou um pobre e desamparado; o dia do perigo "Eu chamo e você me escuta. Grande és Tu e fazes maravilhas. Dá-me um sinal propício. Deixe que os inimigos da minha alma O vejam e se afastem, porque Tu, Senhor, me ajuda e me consola."

ORAÇÃO MENTAL.

Consiste em elevar a mente a Deus, mas sem lhe dizer nada com palavras. Por exemplo, quando começamos a pensar que sozinhos não somos capazes de nos defender do mal e de fazer o bem, e cheios de amor a Deus elevamos a nossa confiança Nele com a certeza de que a Sua ajuda nunca nos faltará. Esta desconfiança em nós mesmos e este ato de fé no poder e na bondade de Deus é uma verdadeira oração, embora nenhuma palavra tenha sido dita.
Uma oração mental também é feita quando representamos a Deus a nossa pobreza, miséria e fraqueza absoluta, e lembrando a bondade com que ele nos ajudou em outras ocasiões pensamos que ele também nos ajudará e nos ajudará no presente e no futuro. Esta oração mental é extremamente útil para a alma e sempre benéfica.

ALGUMAS REGRAS PARA ORAR COM SIMPLICIDADE

1º Antes de mais nada, reservemos alguns minutos todos os dias para ficarmos sozinhos, em paz e conversarmos com Deus.
2° Falemos com Nosso Senhor com simplicidade e natureza como um filho muito amado como o mais bom e amoroso dos pais. Vamos contar a ele o que nos preocupa. Não precisamos usar fórmulas estranhas. Falemos com Ele com nossas próprias palavras, pois Ele as entende muito bem.
3° Entremos em diálogo com Deus também quando estivermos no trabalho. Digamos-lhe que o amamos, que lhe agradecemos. Que oferecemos a você o que estamos fazendo.
4º Convençamo-nos desta grande verdade “Deus está conosco”. Viaje conosco. Acompanha-nos como o ar e a luz em todas as horas do dia. Ele está ao nosso lado 24 horas e 60 minutos de cada hora. E ele quer nos ajudar. Você quer nos ajudar. Aproveite para nos ajudar. Mas aguarde nosso pedido de ajuda.
5º Oremos com a certeza absoluta de que a nossa oração é ouvida e atendida por Deus sempre e sempre. E elogiemos os pecadores que desejam se converter e todos aqueles que trataram ou tratarão conosco.
6° Ao orarmos tenhamos ideias positivas e não negativas. “Se Deus está conosco, quem será contra nós?”
7º Devemos sempre declarar ou pensar quando começamos a orar que aceitamos o que Deus permite que nos aconteça, pois mesmo que ele não nos conceda o que pedimos, ele sempre nos concederá o que for para o nosso bem maior. Ele nos ama demais e por isso nos dá o que é melhor para nós.
8° Quando oramos, deixemos todos os problemas nas mãos de Deus. Vamos lembrar o que diz o Salmo 55: “Coloque os seus problemas nas mãos do Senhor, e Ele agirá”. Peçamos-Lhe que nos conceda forças para fazer o que temos que fazer e deixemos o resto nas Suas mãos Todo-Poderosas.
9° Todos os dias vamos fazer uma oração pela nossa cidade, pelo nosso país. É o que aconselha o profeta Jeremias dizendo: “Rezai pela cidade e pelo país onde viveis, porque o seu bem será o vosso bem” (Jeremias 39,17).

CAPÍTULO 44

COMO ORAR ATRAVÉS DA MEDITAÇÃO

Entendemos a meditação como a aplicação atenta do pensamento para considerar algum tópico religioso. Meditar é elevar-se a Deus através da reflexão.
A meditação é um dos melhores meios para progredir na vida espiritual.
Quem deseja atingir um bom grau de perfeição e santidade deve dedicar pelo menos meia hora por dia a este exercício de oração chamado meditação. E um dos temas que mais ajuda a obter um verdadeiro amor a Deus e uma rejeição total de todo pecado é a Paixão e Morte de Jesus Cristo.

COMO MEDITAR SOBRE PAIXÃO?

Suponhamos que desejamos alcançar a virtude da paciência. Para conseguir isso, será de enorme benefício meditar sobre os sofrimentos de Jesus na Paixão. Por exemplo em

A Oração no Jardim: como depois de pedir várias vezes ao Pai que tire aquele cálice de amargura (porque temos todo o direito de pedir a Deus que tire de nós certos sofrimentos, se nos parece bom tirar) vendo que o Pai Celestial não pretendia libertá-lo daqueles tormentos que o aguardavam, disse com a mais admirável paciência: “Pai, se não é possível que este cálice se afaste de mim, não faça como eu quero, mas como Tu queres. Faça-se."faça a tua santa vontade." Nunca na história se viu uma agonia tão horrível como a de Jesus naquela noite (que o fez suar gotas de sangue), mas também não se ouviu uma oração que demonstrasse uma paciência tão admirável. Isto é o que devemos repetir quando chegam até nós as horas amargas da vida: “Pai, seja feita a vossa Santa Vontade”. E como recompensa pela sua admirável renúncia, Jesus recebeu a visita de um anjo que o consolou, e durante toda a sua admirável Paixão e Morte não teve mais nenhum momento de desânimo. O Senhor dá dor, mas também dá coragem, se recorrermos à sua bondade.

E na flagelação: podemos meditar quão agudas e atrozes devem ter sido aquelas dores em que seu corpo foi literalmente destruído com golpes, não deixando espaço sem feridas da cabeça aos pés. E ali, em tormentos tão insuportáveis, não o ouvimos gritar ou protestar, mas com impressionante paciência ele oferece ao Deus Pai todas as suas torturas pelos nossos pecados e pela salvação da nossa alma. Bendito seja o Senhor Jesus.

Na coroação de espinhos: cospem nele, vendam-lhe os olhos, dão-lhe socos, vestem-no com um manto de zombaria, colocam-lhe uma cana como bastão de comando e enfiam-lhe na cabeça alguns espinhos muito afiados e devastadores ... E todo esse tempo fica em silêncio. “Como uma ovelha sendo tosquiada, sem protestar” (disse o profeta). Muito pelo contrário de nós que não somos capazes de receber a menor ofensa ou o menor desprezo sem demonstrar desagrado e sem protestar. Jesus: ensina-nos a sofrer como tu sofreste.

O Julgamento de Pilatos. Absolutamente injusto, sem uma única prova contra ele.
O mesmo juiz declarará que Jesus é justo e que não encontra nele nenhuma falta. E ainda assim ele o condena à morte por medo de perder o emprego. Quanta mansidão Jesus demonstrou durante esta provação e quanta paciência. Que tremenda lição para nós!

A subida ao Calvário. O profeta havia dito que seria conduzido “como um cordeiro ao matadouro, sem oferecer resistência”. O santo dos pecadores. O justo pelos injustos. Ah, como Jesus nos ensina a aceitar a cruz dos nossos sofrimentos diários e a suportá-la com paciência pelos nossos próprios pecados e pela conversão dos pecadores.

E sua agonia na cruz. Meditemos em como Ele rejeitou o vinho misturado com fel porque poderia deixá-lo sonolento, anestesiado e Ele queria sofrer todos os tormentos vivos para salvar a nossa alma. Pensemos que naquelas horas, quando não estava em santo silêncio, ele estava rezando. Para nos ensinar a sofrer orando. E rezou por aqueles que não queriam que ele os perdoasse e por eles pediu perdão e procurou a desculpa de que não sabiam o que estavam fazendo. Que posição dolorosa naquelas três horas que pareceram séculos. Se ele descansasse em pé, sentiria uma dor extrema. Se ele fosse pendurado pelas mãos, elas seriam rasgadas pelos pregos. Se ele olhasse para frente, via seus inimigos insultando-o. Se virasse para a direita, contemplava sua Santa Mãe morrendo de angústia e de amor por Ele. Se voltasse o olhar para a esquerda, via o ladrão malvado zombando Dele. Se ele olhasse para o céu, o Pai Celestial também se esconderia e o deixaria sofrer o pior martírio que um ser humano pode sofrer, vendo-se abandonado por Deus, e ele gritou com entusiasmo: "Meu Deus, meu Deus, por que você me abandonaste?" A sede o atormentou muito por causa de tanto sangue que havia derramado e ele teve que exclamar: “Estou com sede” e lhe deram vinagre para beber e ele bebeu. E com a sua admirável paciência abriu-nos as portas do Paraíso Eterno. Abençoado seja para sempre Senhor.

Quem para quem? Ao meditarmos sobre estas importantes questões, façamos a pergunta que fez São Tomás de Aquino: "Quem sofreu? Como sofreu? Por quem sofreu? E pensemos no próprio Filho de Deus.
Aquele Jesus que pôde desafiar todos os seus inimigos dizendo-lhes: “Se alguém sabe que cometi algum pecado, diga-o” (Jo 8,46) e ninguém podia dizer nada contra Ele porque em Sua vida nunca houve a menor falta. mas sendo Ele, tão puro e santo, permitiu que Deus sofresse tanto. E daí deduzimos que Nosso Senhor permite o sofrimento não porque Ele queira nos punir ou porque Ele nos esqueceu, mas para que cresçamos em santidade e consigamos salvar muitas almas. Esta consideração nos ajuda. Ajudará muito a sofrer com maior paciência.

E como ele sofreu? Com a mais impressionante paciência e cheio de amor por Deus Pai e por nós pobres pecadores. E isso tem que servir de exemplo para aprendermos a sofrer da mesma forma, sem negar, sem xingar, sem protestar, por amor de Deus e das almas.

Conclusão: peçamos frequentemente a Jesus que, como soube sofrer com tanta paciência, num silêncio tão impressionante e com um amor tão grande pelo Deus Pai e pelas almas, nos conceda também a graça de saber sofrer com Ele: sem demonstrar impaciência, orante e cheio de silêncio; por amor a Deus e ao próximo e com a maior dose de paciência possível. Se lhe pedirmos muitas vezes esta graça, ele nos concederá em quantidades admiráveis.

Propósito.

Decidamos pedir muitas vezes a virtude da paciência porque dela necessitamos todos os dias e se não a pedirmos não a teremos. Agradeçamos ao Pai Celestial por nos ter dado no seu Filho amadíssimo exemplos tão sublimes da santíssima paciência. E olhemos de vez em quando para o crucifixo e repitamos o que dizia São Bernardo: “Seria uma pena se, seguindo um Chefe coroado de espinhos, chicoteado, cuspido, insultado e pregado na cruz, silencioso e cheio de paciência , vivemos com nojo de ter que sofrer alguns pequenos sofrimentos”. Se Cristo sofreu tanto por nós, é justo que também nós soframos as dores que Deus permite que nos aconteçam, e que as ofereçamos pelo seu reino e pela salvação das almas, especialmente das mais necessitadas da sua misericórdia. Muitas almas se perdem, porque não há ninguém que sofra pacientemente pela salvação dos pecadores. O sofrimento é uma grande arma para ganhar almas se for aceito com paciência, em silêncio e por amor de Deus.

CAPÍTULO 45

COMO PODEMOS MEDITAR SOBRE A VIRGEM SANTÍSSIMA

Ninguém ama o que não conhece. Ninguém valoriza quem não conhece as qualidades que possui. Portanto, se realmente desejamos amar e apreciar a Santíssima Virgem, devemos meditar de vez em quando sobre as suas maravilhosas qualidades e admirável grandeza.

A mais abençoada de todas as mulheres.

Elevemos o Espírito a Deus e pensemos que entre todos os bilhões que existiram no mundo, a mulher que Deus abençoou mais que todas as outras é Maria Santíssima. Santa Isabel, ao cumprimentá-la, disse-lhe, iluminada pelo Espírito Santo: “Tu és a mais abençoada de todas as mulheres” (Lc 1,42). Deus abençoa muito as mulheres.
(Abençoar é consagrar algo ao serviço de Deus. É também desejar que favores, ajudas e graças cheguem do céu para quem recebe a bênção.) Algumas mulheres são extremamente abençoadas por Deus porque levam uma vida muito piedosa e cheia de boas obras, mas entre todas as mulheres santas e virtuosas que existiram e existirão na terra, aquela que recebeu mais bênçãos e ajuda e graças e irá receba-os sempre: é a Virgem Maria. Por isso devemos sentir admiração, veneração e enorme estima por Ela.
Cheia de graça, o Arcanjo Gabriel a chamou de “cheia de graça” e lhe disse: “Não tenha medo porque você encontrou graça diante de Deus”. Graça é amizade com Deus. A boa vontade e preferência de Nosso Senhor para com uma pessoa. E nenhuma outra criatura em toda a história agradou tanto ao Criador e recebeu Dele tantas preferências, como Maria Santíssima. Ela pode realmente nos proporcionar aquele dom maravilhoso chamado “Graça de Deus”, a amizade com Nosso Senhor.
Isto é: que Ele “gosta” de nós, que somos do seu agrado e estamos entre os seus favoritos. É um favor que devemos pedir muitas vezes através de Nossa Senhora. (O oposto da “Graça de Deus” é o pecado. Maria foi preservada de todo pecado e pode interceder diante de seu Divino Filho para que Ele nos liberte da escravidão do pecado, que é a pior de todas as escravidões, e que perdoe todos os nossos faltas e assim vivamos na amizade divina aqui na terra e para sempre no céu. Peçamos-lhe muitas vezes esse grande favor).

MARIA POSSUI TODAS AS VIRTUDES

Se meditarmos nas virtudes da Santíssima Virgem, a amaremos mais e talvez até conseguiremos imitá-la em algumas delas. Por isso meditemos na sua fé: ela acreditou apesar de todas as aparências em contrário. Num garotinho que chorava, que sentia fome, que precisava de toda a ajuda de uma mãe, Ela tinha que acreditar que era Deus. Antes de ser um simples trabalhador da cidade, a quem chamavam de “filho do carpinteiro”, Maria acreditava que ele era o salvador do mundo. Antes de seu filho ser pregado na cruz como um malfeitor, Ela continuou a acreditar que ele era o Redentor Universal e que seu reino não teria fim. Não admira que a sua prima Isabel lhe tenha dito: “Bem-aventurada tu que acreditaste. Tudo o que o Senhor te disse se cumprirá em ti” (Lc 1,45). Admiremos a fé de Maria e peçamos-lhe um favor especial:

SUA CARIDADE E ESPÍRITO DE SERVIÇO

Correu em socorro de Isabel porque ela estava sempre com pressa na hora de ajudar quem a solicitava ou precisava com urgência. Em Caná ele insiste diante de seu Divino Filho e faz Jesus adiantar seu tempo para fazer milagres e transformar água em vinho e continua fazendo esse mesmo favor diante de tantas pessoas que precisam de Jesus para mudar a água insípida de uma vida sem boas obras, em aquele vinho generoso chamado caridade, bondade, conversão e santidade.
Maria, Mãe Dolorosa. Pode ser muito benéfico para nós meditarmos de vez em quando sobre a dor ou o sofrimento que a Mãe de Deus sofreu, porque isso nos encoraja a sofrer com maior paciência as nossas dores e a oferecê-las pelo amor de Deus e pela salvação de nosso vizinho.

Sua primeira dor: ver seu filho querido nascer numa manjedoura, numa canoa alimentando os animais e na mais absoluta pobreza.

Sua segunda dor: ouvir dos lábios de Simeão que muitas pessoas iriam contra Jesus e que por causa Dele uma espada de dor traspassaria o coração da mãe.

A terceira dor: a fuga para o Egito com o recém-nascido.

A quarta dor: aos 12 anos, sofrendo durante três dias muito dolorosos pela ausência do filho perdido, posteriormente encontrado no templo.

A quinta dor: ouvir a sentença de morte que Pilatos proferiu contra Jesus na Sexta-feira Santa, por volta do meio-dia, e depois encontrá-lo no caminho do Calvário e vê-lo quebrantado, humilhado e sangrando.

A sexta dor: ver Jesus morrer minuto a minuto no Calvário sem poder ajudá-lo.

A sétima dor: comparecer ao seu santo enterro, que foi um dos funerais mais pobres e com menor comparecimento de amigos que já existiu no mundo. Essa separação do Filho foi extremamente dolorosa para ela. Maria Mãe Dolorosa aprendeu através do sofrimento a compreender quem sofre nesta vida e por isso vem consolar-nos e dar-nos coragem nas horas de dor, se pedirmos a sua intercessão.

MARIA: A QUE GANHA FAVORES

Os grandes santos repetiram muitas vezes que nunca ouviram falar de alguém que se confiasse à Santíssima Virgem e que Ela os tivesse abandonado e não lhes concedesse a sua proteção. Depois do seu Divino Filho não temos ajuda mais poderosa e eficaz do que Nossa Senhora. Se não fomos mais ajudados por Ela é porque não tivemos mais fé na sua intercessão.
Maria pode fazer muito diante de Nosso Senhor porque as suas orações são orações de Mãe e Jesus é o melhor Filho que já existiu e Ele nunca negará à Sua Santíssima Mãe o que ela pede para nós. É por isso que nunca nos cansamos de implorar a sua valiosa proteção.

MARIA: AQUELA QUE MAIS AMA JESUS

​O grau de nossa felicidade no céu dependerá muito do grau de amor que tivemos por Jesus Cristo nesta terra. Maria, por causa do seu imenso amor por Jesus, foi elevada à alta posição que ocupa no céu. Durante 33 anos ela esteve com Ele e passou a amá-Lo com um amor imenso, tão grande como nenhuma criatura na terra jamais teve ou terá. A devoção a Maria deveria levar-nos a amar mais Jesus. Ela disse a Santa Brígida: “O que mais quero é que as pessoas amem meu Filho Jesus Cristo”. Peçamos-lhe muitas vezes: “Ó Maria: faze-nos amar Jesus como tu o amas”. Ela, ainda mais que São Paulo, poderia dizer: “Já não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim”.

O PRÓPRIO DE MARIA É FAZER-NOS AMAR JESUS ​​CRISTO

Maria não é uma rival de Cristo que tira o amor que lhe devemos, mas quanto mais a amamos, mais amaremos o seu Filho, porque é a causa dele que nós a amamos. Por isso dizemos de vez em quando: “Ó Jesus: que possamos amar a tua Santa Mãe como tu a amaste. Ó Maria: que Jesus seja sempre o centro e o fim de tudo o que fazemos, dizemos, pensamos e sofremos.
Ele nos deixe amar como você, de todo o coração nesta vida e continuemos amando-o para sempre no céu.”

CAPÍTULO 46

MEDITEMOS SOBRE UMA DEVOÇÃO QUE NOS FAZ MUITO BEM: A DEVOÇÃO A SÃO JOSÉ

A experiência ensina que quem mora perto de um forno que tem temperatura muito alta, fica necessariamente mais quente do que quem é retirado do fogo, e que um tecido que adere a um perfume muito fino também adquire seu aroma suave. São José viveu muitos anos ao lado da mais alta fornalha de caridade que já existiu na terra, que é Jesus Cristo, e ao lado da Mãe de Deus que sempre ardeu de amor por Nosso Senhor e de caridade pelos outros. E ninguém como os dois exalou um perfume tão requintado de santidade. É por isso que São José teve necessariamente um altíssimo grau de amor a Deus e de caridade para com o próximo e foi contagiado pela santidade de Jesus e de Maria. É impossível para quem se aproxima de um grande incêndio não participar do calor das suas chamas. E que maior chama de amor sobrenatural pode haver do que aquela que ardia nos corações de Jesus e de Maria? E José esteve ali com eles por muito tempo.
Quando Deus confere uma responsabilidade especial a uma pessoa, concede-lhe, por justiça, as qualidades de que necessita para desempenhar o cargo que lhe foi confiado. E a São José foi confiada por Nosso Senhor a maior responsabilidade de ser o guardião dos dois maiores tesouros que o Criador enviou a este mundo: O Filho de Deus e a Mãe do Redentor. Portanto, sem dúvida, concedeu ao Santo Patriarca todas as excelentes qualidades de que necessitava para uma responsabilidade tão delicada e imensa.

Intervenções admiráveis.

São muitas as maravilhas que se contam sobre as intervenções que este grande santo tem feito em favor daqueles que a ele se confiam com fé. Os subsídios ajudam espiritual e materialmente; Ele obtém luzes e iluminações do céu para poder resolver problemas e dificuldades, e se torna um magnífico diretor invisível para ensinar a orar e meditar. Se alguém não tem quem lhe ensine a orar e meditar, deve confiar-se a este poderoso santo e verá resultados que superam tudo o que esperava.

Cristo mostra sua gratidão.

Se nosso Senhor concede tantos favores aos devotos através da intercessão dos outros santos, porque eles foram tão fiéis a ele nesta terra e lhe demonstraram tanto amor, quantos mais favores ele concederá através da intercessão daquele que durante 30 anos se dedicou dia e noite a cuidar dele?, proteger, ajudar, amar e fazer feliz Jesus Cristo e sua Mãe Santíssima? Poderá Jesus, que é o melhor de todos os filhos, deixar de recompensar eternamente este seu pai adotivo que nada fez senão amá-lo e interessar-se por ele nesta terra? Cristo tem as mesmas qualidades no céu que tinha na terra. E aqui ele amou e apreciou imensamente São José. Portanto, no céu ele continua a amá-lo e a conceder-lhe tudo o que ele pede para nós.

Um favor especial.

Santa Brígida e São Bernardino de Sena propagaram muito a devoção a São José, e estes dois santos recomendaram que pedíssemos a um padroeiro tão bondoso uma graça muito especial: ensinar-nos a amar Jesus como ele o amou.

Algo que vale a pena invejar.

São João Evangelista colocou a cabeça no coração de Cristo na Última Ceia. Isso é algo que merece santa inveja.
Mas São José teve o menino Jesus muitas vezes no coração, nos braços por muito tempo e em sua casa até os 30 anos. Que felicidade digna de santa inveja.

Experiência prazerosa.

Ao lidar com pessoas fervorosas é possível verificar que não há ninguém que tenha devoção a São José e lhe mostre que o ama e confia, e que não aproveite e cresça na virtude. Os favores que se recebe ao confiar-se a ele e os perigos que consegue evitar são surpreendentes.
Basta ter a experiência de orar a ele com devoção, e logo você perceberá o quão benéfica é essa devoção. Outros santos têm especialidade para ajudar em determinados assuntos, mas Deus concedeu a São José a especialidade para ajudar em todo tipo de problema. Os santos são grandes porque obedeceram a Cristo. São José é grande porque Cristo lhe obedeceu.

Grande santidade.

O Evangelho diz que São José já era justo antes de se casar.
Quanto mais santo eu me tornaria vivendo ao lado da santíssima das mulheres e do santíssimo Cristo Jesus? São José: peça a Jesus e a Maria que nos concedam a graça de amá-los como você os amou e de nos tornarmos santos. Amém.

SÃO JOSÉ: PATRONO DA VIDA INTERIOR: ENSINA-NOS A ORAR, A SOFRER E A FICAR EM SILÊNCIO

CAPÍTULO 47

ALGUNS SENTIMENTOS AFETIVOS QUE PODEMOS OBTER NA MEDITAÇÃO SOBRE A PAIXÃO DE JESUS ​​CRISTO

O lugar onde melhor se aprende.

Dizem do grande sábio de São Boaventura que alguém, maravilhado com a sabedoria deste admirável médico, lhe perguntou: onde aprendeu tanta ciência? E que o santo o levou a um Cristo Crucificado diante do qual passou muitas horas orando e meditando, e lhe disse: “Aqui consegui aprender as coisas boas que sei.” E dizem que o Crucifixo de São Boaventura tiveram os pés e as mãos gastos de tantos beijos que receberam dos lábios do santo. Na verdade, a meditação da Paixão de Cristo produziria sentimentos muito bons de afeto por Nosso Senhor.

Algo que conseguiu se mover.

Certo dia, um homem tremendamente vingativo entrou num templo e viu uma imagem de Jesus amarrada à coluna e uma placa abaixo que dizia: “Ele não retribuiu insulto por insulto”. Depois viu outro quadro onde Jesus foi chicoteado e esta inscrição: “Quando o fizeram sofrer, ele não ameaçou” (1P 2,23) e um quadro de Cristo crucificado com esta legenda: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que eles fazem." Começou a olhar para aquelas imagens e a meditar nos seus sinais e daquele dia em diante nunca mais se vingou de ninguém. A meditação da Santa Paixão é repleta de bons sentimentos.

OS CINCO TORMENTOS

Cinco feridas foram infligidas a Jesus nas mãos, nos pés e no lado na cruz, mas primeiro ele também teve que sofrer cinco dolorosos tormentos que deveriam ser meditados de vez em quando.

1° O tormento da angústia.
Este martírio de Jesus no Jardim das Oliveiras durou três horas. Ele queria sofrer pessoalmente o quão terrível é o sofrimento da depressão, da tristeza e da preocupação. Como Ele deveria ser o consolador de todos aqueles que tiveram que passar por esses terríveis tormentos da alma, Ele os sofreu primeiro, para que não haja dor ou angústia que soframos que Ele não tenha sofrido primeiro. A Sagrada Escritura diz que através do sofrimento ele aprendeu a compreender aqueles de nós que sofremos. Há muito poucas pessoas na história que passaram por uma angústia tão terrível que as fez suar sangue. E Jesus sofreu isso. Nos momentos de tristeza e depressão, pensemos que Nosso Salvador também passou por esses sofrimentos e ao invés de nos desesperarmos, façamos o que Ele fez: Rezemos com confiança ao Pai e seremos consolados pela sua grande bondade. Santo Inácio diz: “lembremo-nos de que Jesus no Jardim, quanto maiores os seus sofrimentos, mais e mais ele orava. Imitemo-lo também nisso”.

2° O tormento das humilhações.
Quando, à meia-noite da Quinta-feira Santa, Judas o entregou dando-lhe um beijo, começaram para Jesus as horas mais humilhantes de toda a sua vida. Um soldado de Caifás deu-lhe um soco terrível na cara por ter dado uma resposta franca. Então senadores, soldados e turbas de todos os tipos apareceram para socá-lo e cuspir em seu rosto. Pela manhã, Herodes o fez vestir-se como um louco e o levaram desfilando pelas ruas.
Os soldados o coroaram rei da zombaria e, vendando-o, deram-lhe socos e disseram: “Adivinha quem bateu em você?” Pilatos fez o povo escolher quem preferia, Jesus ou o bandido Barrabás, e a população liderada pelos escribas e fariseus preferiu Barrabás. E quando o crucificaram, colocaram-no entre dois ladrões... Jesus quis sofrer todas as amarguras das mais horríveis humilhações. Ao contemplarmos estes fatos admiráveis, sintamos o desejo de aceitar, como Ele, e por amor de Deus e das almas, as humilhações que Deus permite que nos sobrevenham.

3° O martírio das injustiças.
Jesus suportou as maiores injustiças em sua Santa Paixão. Caifás e os demais senadores trouxeram muitas testemunhas falsas que inventaram mentiras e se contradiziam e, sem permitir qualquer defesa, condenaram Jesus à morte. Pilatos declarou que não encontrou motivo para condená-lo e, mesmo assim, condenou-o à morte na cruz. Ele disse que Jesus era justo e santo, mas mandou açoitá-lo como se fosse um criminoso. Soltaram Barrabás, que havia cometido assassinato, e Jesus, que não cometeu a menor falta, foi levado para ser crucificado. E tudo isso pelos nossos pecados. Porque julgamos e condenamos os outros injustamente. E para nos ensinar a sofrer com paciência quando os outros são injustos ao nos julgar.

4° O martírio da crueldade.
Eles lhe deram um tapa. E o Evangelho usa para isso uma palavra que significa “golpes como se quisessem arrancar a pele”. Eles o chicotearam com tiras afiadas que tinham pedaços de chumbo ou ossos nas pontas. Eles enfiaram uma coroa de espinhos muito afiados em sua cabeça muito sensível que perfurou dolorosamente sua pele. Todo o seu corpo foi destruído na sua mais dolorosa Paixão, e tudo isso, para pedir perdão ao Deus Pai pelos pecados que cometemos entregando-nos às paixões desordenadas do nosso corpo, e para nos ensinar que devemos fazer algum sacrifício de vez em quando dominar as más inclinações da nossa carne.

5° O martírio da cruz.
Pensemos na dor que sofreu quando, ao chegar ao Calvário, arrancaram-lhe a túnica que estava colada ao sangue que derramara na flagelação e assim arrancaram partes da sua pele, com muita dor.
Pensemos naquelas marteladas que atingiram as unhas das suas mãos e dos seus pés, e como Ele "com grande clamor e muitas lágrimas clamou ao Deus Pai" (Hb 5,7). Eles perfuraram suas mãos e pés e puderam contar seus ossos (Salmo 21). Meditando sobre a intensa dor que sofreu naquelas horas na cruz nas feridas de suas mãos e pés, estimulemos nossos corações a amar cada vez mais esse bom Redentor que derramou até a última gota de seu sangue para nos salvar. . Perguntemos-lhe: “Por quem sofres, bom Jesus?”, e Ele nos responderá: “Pelos teus pecados, por te salvar, por te levar ao céu”. E digamos-lhe que o amamos, que lhe agradecemos, que queremos morrer em vez de ofendê-lo novamente com o pecado. Meditando Jesus crucificado, pratiquemos atos de arrependimento por tê-lo ofendido, e propósitos para alterar nossas vidas de agora em diante. Um arrependimento que não provém da meditação na Paixão e Morte de Cristo é um arrependimento que pouco fará para obter a conversão.
Sintamos conforto e esperança quando pensamos que Cristo Jesus com a sua morte pagou pelos nossos pecados, aplacou a justa ira de Deus (Ef 6) e abriu para nós as portas do Paraíso Eterno. Pensemos que a melhor consequência que podemos obter da meditação da sagrada Paixão de Jesus Cristo é adquirir um ódio total ao pecado, uma repugnância absoluta por tudo o que é uma ofensa a Deus e um desejo intenso de lutar contra todas essas paixões. e más inclinações que nos levam a cometer faltas e desagradar ao nosso Salvador.

Pensemos:

Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Criador e dono de tudo o que existe, aceitou pacientemente esta morte ignominiosa nas mãos de suas criaturas, e não vou aceitar que as pessoas me ofendam, me humilhem e me tratem mal? Jesus sofreu tamanha angústia para nos salvar, e eu não aceitarei as dores de cada dia para ajudá-lo a salvar almas? O que farei para mostrar minha gratidão a este grande amigo que fez enormes sacrifícios para alcançar minha salvação?

CAPÍTULO 48

OS FRUTOS QUE PODEMOS OBTER DA MEDITAÇÃO NA CRUZ E NAS VIRTUDES DE JESUS ​​CRISTO

A primeira coisa que podemos obter meditando na cruz e nas virtudes de nosso Salvador é um profundo arrependimento de nossos pecados que causaram sua Paixão e a sua morte, um grande desejo de reparar as ofensas que lhe cometemos e um esforço contínuo para conseguir a conversão dos pecadores.
A segunda coisa que devemos fazer ao meditar na paixão e na cruz do Redentor é pedir perdão com confiança por todas as nossas faltas, convencidos de que foi para obter de nós o perdão que Ele sofreu tormentos tão atrozes. Ao nos lembrarmos deles, devemos sentir um verdadeiro ódio e desgosto pelos nossos males, e um grande amor por aqueles que tanto sofreram para nos salvar.
A terceira coisa deve ser nos esforçarmos com toda a nossa vontade para remover do nosso coração e sufocar na nossa vida as inclinações indevidas que nos levam ao pecado.
A quarta coisa é que pretendemos imitar as virtudes admiráveis ​​de Jesus, que, segundo São Pedro, “sofreu por nós, deixando-nos um exemplo para que pudéssemos seguir os seus passos” (1P 2,21).

UMA FORMA PRÁTICA DE FAZER ESTA MEDITAÇÃO COM FRUTAS

Vamos relembrar um método que produz bons frutos ao meditar neste tema tão importante. É composto por quatro pontos:
1º Pense no que Jesus Cristo fez olhando para Deus Pai enquanto sofria.
2º Medite sobre o que Deus Pai fez enquanto seu Filho sofria na cruz.
3º Pense no que Jesus sentiu por nós enquanto sofria a sua Sagrada Paixão.
4º Medite sobre o que devemos fazer por aquele que tanto sofreu para nos salvar.

1º Jesus, enquanto sofria na cruz, elevou a sua mente para o seu Pai, para a Divindade infinita de quem o profeta Isaías disse: "Todas as nações são diante dele como um gota de água, e as ilhas maiores parecem um grão de poeira, e toda a terra é como nada diante dele" (Is 40,17) e ofereceu à santidade de Deus todos os seus sofrimentos em reparação pelas infidelidades, insultos e desprezo de todas as criaturas humanas e agradeceu-lhe pelos seus infinitos favores e pediu que fosse concedida aos humanos a graça de agradar ao Criador e obedecê-lo.

2° O Deus Pai do céu olhou com grande satisfação para o imenso amor de seu Filho, que se ofereceu com tão enorme generosidade para pagar diante da Justiça Divina pelos pecados de todos os descendentes de Adão. O livro do Gênesis diz que Deus, ao contemplar do céu o grande mal dos homens, “se arrependeu de ter criado o homem” (Gn 6,6). Mas depois de ver na cruz Ele se oferecer com tão infinito carinho para pagar pelos males de toda a humanidade, o Deus Pai sentiu verdadeira alegria por ter criado a criatura humana, porque nisto Seu Filho Predileto encontrou todos os Seus prazeres e Deus abriu novamente os Portões do Paraíso Eterno que foram fechados desde que Adão e Eva rebelaram contra o seu Criador.

Basta que queiramos ir e cumpramos a sua santa lei, porque por sua vez, com o sacrifício de Cristo, a Justiça Divina e a amizade entre o Criador e as suas criaturas fracas e rebeldes foram completamente apaziguadas.

3o Imaginemos o que Jesus sentiu por nós enquanto sofreu o seu martírio na Sagrada Paixão. Ele nos viu tão fracos, tão mal inclinados, tão atrozmente atacados pelo mundo, pelo demônio e pelas paixões da carne, tão assustadoramente inclinados ao mal desde que nossos primeiros pais perderam a amizade de Deus no Paraíso Terrestre. Vi os grandes perigos de nos condenarmos, que sempre teríamos. Ele observou claramente a horrível feiúra dos nossos pecados e a gravidade das nossas faltas. Ele sabia perfeitamente que “Deus perdoa, mas não deixa nenhuma culpa impune” (Ex 34,7) e que, portanto, as consequências de cada pecado são dolorosas e prejudiciais. E também entendi que sem a ajuda do poder divino somos totalmente incapazes de nos converter e de manter a amizade com Deus. É por isso que durante a sua Santa Paixão ele rezou por nós. Ele pediu perdão por todos os pecados dos pecadores e apagou com seu Santo Sangue a sentença de condenação que deveríamos ter recebido pelos pecados.
São Paulo diz numa bela comparação que: “Jesus tomou a conta dos nossos pecados e das nossas dívidas para com Deus, lavou-a com o seu sangue e pendurou-a na cruz como algo já cancelado” (Cl 2,14). Durante a sua Paixão ele rezou por nós, pecadores. Bendito seja!

4º Pensemos agora o que devemos fazer por aquele que tanto sofreu para nos salvar. O amor se paga com amor. O que Jesus Cristo deseja que ofereçamos em resposta a tudo o que ele sofreu para nos redimir? Será que aceitamos com alegria e paciência a cruz de sofrimento que Deus permite que chegue até nós todos os dias e assim o ajudemos a salvar os pecadores e a reduzir as penas que nos aguardam no purgatório? Será que lutamos um pouco mais para evitar aqueles pecados que tanto desagradam à Divindade? Será que nos sacrificamos mais generosamente pelos outros, imitando o Salvador que deu a vida para nos redimir? Consideremos a cruz de Jesus como um livro aberto do qual devemos ler e aprender todos os dias de nossas vidas. Na vida de São Francisco de Assis conta-se que quando estava morrendo ele disse: “Traga-me meu livro”. Trouxeram-lhe vários outros livros, mas ele, agora cego, rejeitou-os. Por fim trouxeram-lhe o seu crucifixo e depois, enchendo-o de beijos nas mãos, nos pés, nas feridas do lado e na coroa de espinhos, ele repetiu com alegria: "Neste livro aprendi a amar o meu Redentor." E ele morreu dizendo ao Salvador que o amava de todo o coração. Olhemos para Cristo pregado na cruz e recordemos o quanto Ele nos amou e, em vez disso, digamos-lhe muitas vezes: "Eu te amo, Jesus. Senhor, tu sabes que eu te amo.
Ó bom Jesus: que eu te ame muito mais. Que todos nós sempre te amemos mais e mais."

Perigo.
Pode acontecer que nos ocupemos por um bom tempo meditando sobre o que Jesus sofreu na cruz e a maneira como ele sofreu, mas que mais tarde, quando as tristezas, os sofrimentos e as contradições nos chegam, nos dedicamos a negar e a amaldiçoar, como se nunca tivéssemos pensado na cruz do Salvador. Então aconteceria conosco como aqueles soldados que juram diante de seus comandantes e prometem defender a bandeira do país, mas assim que o inimigo aparece para atacá-los, eles fogem e abandonam o campo de batalha. Quão triste seria se depois de ter contemplado na cruz de Cristo, como num espelho, o modo como devemos sofrer, quando se apresenta a oportunidade de sofrer algo, esquecemos tudo e em vez de imitar o Salvador nos permitimos ser dominado pela impaciência e pelo desânimo.

CAPÍTULO 49

DETALHES SOBRE O SACRAMENTO DA EUCARISTIA

Até agora aprendemos a usar certos meios espirituais extremamente úteis para progredir na virtude e sair vitoriosos contra os inimigos da nossa santificação. Agora veremos os meios mais excelentes que existem para progredir na perfeição.

É a Sagrada Eucaristia.
De todas as armas espirituais, é a mais eficaz para derrotar os inimigos da nossa virtude e santificação.

Diferença.
Os demais sacramentos recebem toda a sua força dos méritos de Cristo, da graça que Ele obteve para nós e da sua poderosa intercessão em nosso favor. Mas a Eucaristia contém o próprio Jesus Cristo, com o seu Corpo e Sangue, a sua Alma e a sua Divindade. Com os outros sacramentos combatemos os inimigos da alma com os meios que Jesus Cristo nos fornece. Com isto lutamos apoiados e acompanhados pelo próprio Redentor, pois Ele disse: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56).

O QUE DEVEMOS FAZER ANTES DA COMUNHÃO

Se temos uma falta grave na alma, é necessário que a confessemos antes de comungar, pois dizia São Paulo: “Quem comer este pão indignamente será réu ou culpado contra o corpo do Senhor” ( 1Co 11,27). Se só temos pecados veniais, é oportuno, porém, pedir perdão ao Senhor por tantas pequenas infidelidades de pensamento, palavra e ação que cometemos diariamente: “Um coração humilde que se arrepende, Deus não despreza” (Sl. 51). Devemos pensar "Quem vem para quem". O Criador do céu e da terra para uma criatura pobre e miserável. O puro e santo para uma alma pecadora e manchada. Jesus Cristo vem até nós com muito amor, mas nós o recebemos com frieza, indiferença e até ingratidão. Peçamos-Lhe que nos ajude a preparar-nos bem para a Sua vinda à nossa alma. Invoquemos a Santíssima Virgem, o Anjo da Guarda e algum santo da nossa devoção para nos conceder a graça de nos prepararmos bem para a Sagrada Comunhão. Não passemos imediatamente das tarefas diárias para receber Jesus na Eucaristia sem reservar alguns minutos para nos prepararmos. Quanto melhor for a preparação, maiores serão os frutos da comunhão.

Vamos colocar alguma intenção em cada comunhão.
Isto dará mais interesse e emoção a tão santo sacramento. Assim, por exemplo, um dia ofereceremos a comunhão para pedir ao Senhor que nos conceda a vitória sobre o nosso defeito dominante.
Outro dia comungaremos para pedir-lhe que aumente a nossa fé ou a caridade, ou que nos conceda a paciência de que tanto necessitamos, ou que preserve para nós a santa virtude da pureza, ou que converta algum pecador, etc. Quando você comunga com a intenção especial de receber alguma ajuda especial do céu, você sente um fervor maior. Que Jesus não tenha que continuar a dizer-nos estas suas palavras: “Até agora não pedistes nada em meu nome”. Ele continua a repetir-nos a sua grande promessa: “Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei” (Jo 14,13).

Algo que deve ser lembrado e não esquecido.
Antes de receber Jesus na Sagrada Eucaristia é conveniente lembrar quão grande aversão Ele tem ao pecado e quão total desgosto sente a Sua infinita pureza por tudo o que é mau e mancha a alma. E por isso peça perdão e declare que odiamos os nossos pecados e que queremos declarar guerra total e constante às nossas inclinações perversas e aos maus hábitos que adquirimos. Nosso Senhor não odeia nada tanto quanto o pecado.
Temos sido rebeldes e ingratos ao Redentor, mas ele vem nos visitar.
Digamos a ele que de agora em diante não queremos ofendê-lo.

CAPÍTULO 50

MÉTODO PRÁTICO DE PREPARAR-NOS PARA A SANTA COMUNHÃO PARA QUE PODEMOS PROGREDIR NO AMOR DE DEUS

Se queremos que a Sagrada Comunhão produza em nós sentimentos e afetos de amor a Deus, temos que nos lembrar do imenso amor que Nosso Senhor teve para nós e espero que na noite anterior comecemos a pensar na comunhão que teremos no dia seguinte. Pensemos que este Deus cujo poder e majestade não têm limites, não contente de nos ter criado e de nos ter enviado o seu próprio Filho para pagar com os seus sofrimentos as dívidas dos nossos pecados, nos deu o seu Filho Santíssimo como alimento para a alma na Sagrada Eucaristia. Na verdade, aqui se cumpriu o que dizia Santo Agostinho: “Sendo Deus tão poderoso, tão sábio e tão bondoso, não encontrou melhor presente para nos dar do que o seu próprio Filho Santíssimo”.

Comparação.

Pensemos: será possível que Aquele que é eterno e infinito venha ficar na minha pobre alma que é tão pequena e miserável? Seu amor por nós é tão grande. Que mérito eu poderia ter para que o Salvador do mundo viesse me visitar? Nenhum. O bom Deus busca algum ganho com esta demonstração de seu infinito amor por mim? Nada. Não sou nada e menos que nada e, portanto, nada pode ser ganho amando-me. Seu amor é infinitamente gratuito. Sua bondade e somente sua bondade é a razão pela qual Ele vem me visitar na Sagrada Comunhão. Em Deus não há o menor interesse em obter lucros com o amor que ele nos demonstra, porque ele não precisa deles nem podemos dá-los a Ele. Tudo é resultado da sua infinita generosidade.

Morada indigna.

Pensarei quão indignamente recebo em minha alma o Divino Visitante. Com uma alma manchada, ingrata, infiel, fria e cheia de maldade. A manjedoura de Belém, por mais pobre e miserável que fosse, não era nem de longe tão indigna de receber o Rei do céu como é a minha pobre alma, manchada por todo tipo de infidelidades. Dada esta consideração devo fazer atos de admiração.
Pode o Deus Puríssimo e Santo vir visitar uma alma tão pecadora como a minha? Você poderia pedir maiores demonstrações de seu amor? Agora ele pode me repetir as palavras do profeta: “O que mais eu poderia fazer por você que já não tenha feito?”

Pedidos.

Antes de comungar, ou se quiser, depois, é aconselhável fazer alguns pedidos ao Santíssimo Jesus como estes: "Senhor: Tu fazes o sacrifício de vir a mim. Faze com que eu também possa santificar-me através de Ti. Você é amor eterno. Que este meu coração que é como um bloco de gelo seja iluminado com amor pelo meu Criador e Redentor. Você vive eternamente no céu. Conceda-me a graça de me tornar independente do que é meramente mundano, terreno e material. Você está interessado em vir até mim. Faça-me viver contigo, através de você e em você. Você é a santidade em pessoa. Livra-me, pobre pecador, da escravidão em que me mantêm as paixões e os vícios. Você é beleza total e infinita.
Decore minha alma com a beleza das virtudes."

Esperançosamente, isso deve ser pensado antes de comungar.

E quando chegar a hora de receber Jesus Sacramentado, pensemos brevemente em quem é que vamos receber? A Jesus, o mesmo que esteve nos braços da Virgem Maria em Belém. O mesmo que estava pendurado na cruz no Calvário. Aquele que é ressuscitado. O Filho preferido de Deus Pai. O Juiz dos vivos e dos mortos. O Redentor e Salvador. O mais gentil e humilde dos seres que já viveu na terra.
E para quem Ele vem? para uma alma muito pecadora. E digamos-lhe de todo o coração: “Senhor, não sou digno de que entres em minha casa, mas uma palavra tua será suficiente para me curar”.

CAPÍTULO 51

DO MODO DE AGRADECER APÓS A COMUNHÃO

Depois de termos recebido a Sagrada Comunhão, devemos reunir-nos em piedosa meditação e adoração com profunda humildade e reverência ao Senhor, dizendo o seguinte ou algo semelhante: "Senhor e meu Deus, Tu bem sabes quão facilmente eu te ofendo; Você conhece o domínio que as paixões têm sobre mim, especialmente algumas, e quão poucas e fracas são minhas forças para superá-las e dominá-las. A vitória dependerá em grande parte do seu poder e bondade, e embora eu queira fazer "Faço todo o possível para triunfar contra minhas más inclinações, porém somente se você me enviar sua poderosa ajuda poderei esperar obter bons resultados."
Depois, voltando-nos para o Pai Celestial, agradecer-lhe-emos por nos ter dado o seu Filho Santíssimo na Sagrada Eucaristia, e ofereceremos-lhe esta comunhão por alguma intenção especial, especialmente para alcançar a vitória contra algum pecado que mais comentamos e repetimos. E oferecemos-lhe o propósito de lutar da melhor maneira possível contra as tentações e os perigos espirituais que travam a maior guerra contra a nossa alma, repetindo atos de fé e de esperança, lembrando que se "fizermos o que podemos da nossa parte, o poder de Deus fará o que não podemos obter."
Sabendo que “todo bem espiritual vem de Deus” (Tiago 1:17), é muito justo que lhe agradeçamos frequentemente pelos muitos favores que nos concede diariamente, pelas vitórias que nos permite alcançar contra os inimigos da nossa santidade, e pelas boas obras que nos permite fazer e pelos males dos quais tantas vezes nos liberta. Mas o favor mais apropriado para agradecer é pela visita que Nosso Senhor Jesus Cristo nos faz na Sagrada Comunhão. Só no céu conheceremos o valor infinito deste dom de Deus: dar-nos o Corpo e o Sangue do seu Filho Santíssimo, como alimento.

Uma razão.
Para nos animarmos a ser mais gratos a Nosso Senhor, devemos pensar no propósito que O move a nos conceder tantos grandes favores. Ele faz isso apenas porque nos ama, porque deseja o nosso maior bem, porque somos muito importantes para Ele, porque Sua generosidade é infinita e Ele sente maior prazer em dar do que em receber. Como não podemos abençoar e louvar um Deus tão bom?

Outra razão.
Pensemos também: o que há em nós que merece tanta bondade do bom Deus? Nada de bom, mas pelo contrário infidelidades, ingratidão, maldade. Por isso devemos dizer-lhe: “Ó Senhor: como é possível que venhas visitar um ser tão miserável e cheio de manchas e culpa como eu? A vossa bondade?" "Que vós seja bendito e louvado para todo o sempre."
E o que ele nos pede? Nosso Senhor apenas nos pede para amá-lo. Que possamos retribuir o amor com amor. Que nos esforcemos para atendê-lo da melhor forma possível; Procuremos tornar a nossa vida agradável a Ele. Tenhamos sentimentos de gratidão para com um Deus tão bom e sejamos preenchidos pelo desejo de cumprir sempre e completamente a Sua Santíssima Vontade.

CAPÍTULO 52

COMUNHÃO ESPIRITUAL

A comunhão espiritual consiste em um desejo intenso de que Jesus Cristo entre em nossos corações e um pedido fervoroso para que ele venha em verdade.
Difere da Comunhão Sacramental porque nesta última Jesus vem em forma visível sob a aparência de pão, na Hóstia Sagrada, enquanto na Comunhão Espiritual a sua visita é invisível. Há também a diferença de que a Comunhão Sacramental não pode ser recebida muitas vezes ao dia e, por outro lado, a Comunhão Espiritual pode ser feita a qualquer hora, em qualquer lugar e quantas vezes a pessoa desejar.
Como fazer isso? Os piedosos autores recomendam a seguinte forma de fazer a Comunhão Espiritual.
1º Pedir perdão a Nosso Senhor pelas ofensas que lhe fizemos. Então implore-Lhe com fé viva e humildade que venha à nossa alma, por mais manchada e indigna que ela esteja. Diga-lhe que precisamos da sua visita porque somos fracos, cheios de fraqueza e miséria, e atacados por terríveis inimigos espirituais. Que ele se digne trazer-nos a sua ajuda e graças espirituais e venha fortalecer-nos nas nossas lutas. Nem sempre contaremos tudo isso: podemos contar algo semelhante ou melhor. Mas o essencial é que desejamos que Jesus Cristo venha visitar a nossa alma e pedimos que ele realmente nos faça essa visita sagrada.

As vantagens.
Quando necessitamos mortificar e superar algumas das paixões ou tendências perversas que nos atacam, ou queremos crescer em alguma virtude ou qualidade que nos falta, ou se nos deparamos com ansiedades, problemas ou dificuldades especiais, é muito útil pedir a Jesus que venha à nossa alma.
Para fazer esta Comunhão Espiritual não é necessário ter-nos confessado nesses dias, mas é necessário que peçamos perdão pelos nossos pecados e tenhamos a firme resolução de não querer cometê-los no futuro. Porque para que o visitante se sinta feliz é necessário que a pessoa visitada e o local onde chega sejam agradáveis. E como é que Nosso Senhor se sentirá feliz se quem o convida quer continuar a pecar e a sua alma está demasiado manchada e não há esforços visíveis para se purificar e corrigir?
Depois da Comunhão Espiritual, devemos agradecer ao bom Jesus pela visita que tão generosamente nos faz. Ele nunca vem de mãos vazias.
Portanto, cada vez que ele nos visita, se encontra em nós boas disposições, ele nos traz alguma graça ou ajuda espiritual.

FÓRMULA.

Geralmente a fórmula usada para fazer a Comunhão Espiritual é esta (mas outras podem ser usadas): "Meu Jesus: creio firmemente que estás no Santíssimo Sacramento do altar. Adoro-te acima de todas as coisas. Amo-te de todo o coração. Quero que você entre em meu coração, mas como não posso recebê-lo sacramentalmente agora, peço-lhe que venha espiritualmente à minha alma (breve pausa. Neste momento vamos parar por alguns momentos para fazer atos de amor, confiar e pedir algumas graças de que necessitamos). Como se já tivesses vindo, agradeço-te profundamente a tua visita e rogo-te que não permitas que eu me separe de ti. Vem, Senhor, Jesus. Pai Eterno: Te ofereço o preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo em expiação dos meus pecados e das necessidades da Santa Igreja e da conversão dos pecadores.

CAPÍTULO 53

COMO OFERECER-NOS A DEUS

Como Abel. O livro do Gênesis diz que Abel ofereceu a Deus as primícias ou primeiros frutos do seu rebanho, e acrescenta: “Deus olhou com muito bons olhos e satisfação a oferta que Abel lhe fez”. Como este homem santo, deveríamos ter como lema “o melhor para o Senhor”. No Salmo 49, Deus nos diz: “Oferece-me um sacrifício de ação de graças. E eu te livrarei e você me dará glória”.

Uma condição lucrativa.
É extremamente conveniente que ofereçamos frequentemente a Deus o que fazemos, dizemos, pensamos e sofremos, o que possuímos e todos os nossos bons desejos. Mas para que esta oferta seja completamente agradável ao Senhor, é conveniente que a unamos às ofertas que Jesus Cristo fez ao Pai Celestial durante sua vida mortal, de tudo o que fez, pensou, falou e sofreu. Isto dá um valor imenso ao pouco que podemos oferecer na nossa pobreza.

Um exemplo a imitar.
Tudo o que Jesus sofreu e fez, pensou e disse, ele ofereceu com muito amor ao Pai Celestial para maior glória de Deus e salvação das almas. A carta aos Hebreus diz: "Cristo, durante os dias da sua vida mortal, ofereceu orações e súplicas a Deus, com fortes gritos e lágrimas, e foi ouvido pela sua atitude obediente" (Hb 5,7). Unamos nossas ofertas às que Jesus fez e assim adquirirão grande valor e especial simpatia aos olhos de Deus Pai. Esta é a primeira condição para que as ofertas que fazemos sejam bem aceitas.

A segunda condição.
É não ter nenhum apego indevido ou exagerado às criaturas. Porque se o nosso coração estiver demasiado apegado ao que pertence a esta terra, já não oferecemos a Deus um coração inteiro, mas um coração dividido: metade para Nosso Senhor e metade para o nosso egoísmo e as criaturas. E o que oferecemos não é nosso, mas de outra pessoa, porque o demos a outros seres.
E assim embora ofereçamos e entreguemos, permaneceremos sempre no meio do caminho da santidade e da perfeição, porque permanecemos amarrados às margens do mar deste mundo e nos é impossível navegar em direção ao Porto Eterno. E acontece-nos como o marinheiro que rema e rema de noite e de madrugada vê que não saiu da costa, porque o seu barco estava amarrado à praia com uma corrente e isso o impedia de avançar.

Embora não seja tão total.
Somos criaturas fracas e por isso o bom Deus não vai exigir que estejamos completamente desapegados das criaturas para lhe oferecermos o que fazemos, dizemos e pensamos. Mas exige que nos esforcemos ao máximo para nos tornarmos independentes do apego exagerado ao que é terreno.
E que lhe ofereçamos todas as nossas inclinações, pedindo-lhe humildemente que as endireite e purifique e que nos conceda a força necessária para negar-nos e distanciar-nos de tudo o que nos afasta de Deus.
Jesus disse que a primeira condição para conseguir isso é “negar-se”.
Mas nunca poderemos obter isso sem ajuda especial do céu e uma força do Espírito Santo. O que se consegue com oração fervorosa e constante.

Terceira condição.
Para que a nossa oferta seja agradável a Deus, é necessário que cumpramos o que Jesus disse: “Quem quiser seguir-me, deve aceitar a sua cruz de sofrimento diário” (Lc 9,23). É necessário repetir nas horas de sofrimento, angústia e dor a bela oração de Jesus no Jardim: “Pai: se é possível que se retire de mim este cálice de amargura; mas não faça o que eu quero mas faça o que quiseres” (Lc 22,42). Senhor: faça comigo o que quiser. Estou em suas mãos e me coloco completamente sob vossa vontade divina para que possas dispor de mim e de meus bens como achar melhor. Tenho plena confiança de que tudo o que vós permitir que aconteça comigo será para o meu bem maior. Mas eu vos imploro que se me deres a dor, também me dê coragem para suportá-la. "Vós sabeis como sou fraco e impaciente diante do sofrimento." E ofereçamos a cada dor e sofrimento unindo-os aos sofrimentos de Cristo, pois isso lhes confere um valor muito elevado aos olhos de Deus.

Uma intenção conveniente.
Lembremo-nos de vez em quando das ofensas que cometemos a Nosso Senhor no passado e ofereçamos em pagamento por elas o bem que fazemos e dizemos, e os sofrimentos que nos chegam, e tudo isso junto com as obras de Jesus Cristo e os terríveis sofrimentos da sua Vida, Paixão e Morte. (Eu mereço mais pelos meus pecados, disse Santo Inácio). Assim, quando chegar a hora do Juízo, já teremos quitado boa parte das contas que teremos que pagar no Purgatório. E não esqueçamos que tudo isto deve ser oferecido não só por nós mesmos, mas pela conversão dos pecadores, pela santificação dos sacerdotes, pela obra dos missionários, pela salvação dos doentes e pelo descanso das almas bem-aventuradas.
Repita isso com frequência.
Ao viajar de barco, é necessário que o prático dirija continuamente com o leme em direção ao objetivo que precisa alcançar, pois os ventos e as ondas tendem a desviá-lo da rota que deve seguir.
É o que acontece na viagem às praias eternas do céu: ao menor descuido, ao egoísmo ou à preguiça, ao orgulho ou ao apego exagerado ao que é terreno, desvia-nos do verdadeiro objetivo que devemos estabelecer para nós mesmos em tudo o que fazemos, digamos, pensamos e sofremos. E então devemos repetir muitas vezes nossa oferta ao Senhor Deus. "Tudo por você, meu Deus." “Que as palavras da minha boca, os pensamentos da minha cabeça e os desejos do meu coração te sejam agradáveis, Senhor” (Sl 18). Antes a morte, Senhor, do que o desejo de me dedicar a trabalhar apenas pelas criaturas me destrua, aconteceria o que São Paulo criticou aos Gálatas: "Como é que, tendo começado a trabalhar para Deus, acabaram agindo erradamente?"

O mal de Salomão.
Na vida espiritual é chamado: “Mal de Salomão” ao terrível erro que consiste em ter começado a trabalhar para agradar a Deus, acaba se dedicando a agradar as criaturas, tornando-se escravo delas. Foi o que aconteceu com o rei Salomão, que a princípio foi generoso e piedoso e construiu um lindo templo ao Senhor, mas depois se deixou escravizar pelas criaturas e acabou perdendo a fé. Que Deus nos salve de cair no terrível “mal de Salomão”.

CAPÍTULO 54

O QUE FAZER QUANDO CHEGA A ARIDEZ ESPIRITUAL

Quando uma pessoa inicia sua vida espiritual, ela geralmente sente muitos consolos e alegrias em sua alma no início. É o que os autores chamam de “as doçuras de Deus”. Ele acha lindo orar. Ele adora ler livros espirituais. Sente fervor ao receber os sacramentos, etc. Isto é muito benéfico porque nos estimula a uma vida de fervor e piedade e nos encoraja a continuar no caminho da santidade.

Um perigo e uma norma.
Mas se essas alegrias são muito grandes e até exageradas, devemos ter cuidado para que quem as produz seja inimigo das almas. E isto é um perigo porque então pode acontecer que o espírito se entusiasme pela doçura de Deus e não pelo Deus da doçura.
Nestes casos devemos seguir uma regra muito importante: perguntemo-nos: estas consolações e alegrias espirituais produzem correção na minha vida? Trazem reformas nos meus costumes? Se sim, eles vêm de Deus e podemos ficar tranquilos.
Se, por outro lado, os amamos é porque nos causam doçura e alegria, e porque ajudam os outros a pensar melhor sobre nós mesmos, então devemos ter muito cuidado porque podem vir do inimigo da alma.

A ARIDEZ.

Mas acontece frequentemente que depois do primeiro fervor e da alegria, uma avassaladora secura espiritual começa a atingir a alma. Ele não sente mais vontade de orar. Ler livros espirituais não diz nada.
Ele recebe os sacramentos sem qualquer emoção e até com frieza, por mais que queira ter fervor. Parece-lhe que não está fazendo nenhum progresso. Isto é o que os santos chamam de “A Noite Escura da Alma”. É algo que causa muito sofrimento e pode durar muito tempo. Em algumas almas santas isso dura anos e anos.
De onde isso pode vir? As causas da secura espiritual podem ser diversas.
1º Podem vir do diabo que tenta nos desanimar na vida espiritual, afastar-nos do caminho da santidade e reconduzir-nos às alegrias da vida mundana.

2º Podem provir da nossa natureza humana, que é muito mal inclinada e busca sempre o material em vez do espiritual, e o terreno em vez do eterno. O próprio São Paulo reclamou dizendo: "Sinto em meu corpo uma força que luta contra o espírito."

3º Pode ser que a secura espiritual venha de um plano que Deus tenha de nos tornar independentes dos gostos e prazeres deste mundo e assim nos entusiasmarmos com as gosos e alegrias da eternidade. Quando as coisas na terra não atraem mais ou não apaixonam, então as coisas no céu podem atrair muito mais. Pode ser que também com esse sofrimento paguemos a Deus algumas das dívidas que temos pelos nossos pecados e aprendamos a compreender quem está passando por essa situação dolorosa. Outra razão poderia ser: que Nosso Senhor nos preparou recompensas tão excelentes no céu que nos permite fortes sofrimentos na terra para que com eles possamos ganhar aquelas alegrias que nos esperam na eternidade.

O que fazer quando chega a secura?
Em primeiro lugar, examinemos se há algum defeito em nossa alma que desagrade a Deus, alguma falha repetida que nos roube a devoção sensível. Se assim for, temos que nos dedicar seriamente a corrigir esse defeito e evitar essa falta, não tanto para voltar a desfrutar da doçura espiritual do fervor, mas sobretudo para evitar o que ofende e desagrada a Deus.
Mas se não vemos em nosso comportamento nenhuma falha especial ou qualquer defeito que não estejamos tentando corrigir, então o que devemos fazer é aceitar humildemente o que Deus permite que aconteça conosco. Repita o que disse o santo Jó: “Se aceitamos as coisas boas de Deus, por que não deveríamos aceitar também as coisas más? (Jb 2,10) Mas de forma alguma vamos abandonar as práticas de piedade, boas leituras e acolhimento dos santos sacramentos. Aceitemos esta secura como "o cálice de amargura" que o Senhor deixa chegar até nós, e como Cristo no Getsêmani digamos ao Deus Pai: "Se não for possível que este cálice se afaste mim, que seja a tua santa vontade."
Talvez com uma hora de aridez espiritual estejamos ganhando mais prêmios para o céu e salvando mais almas do que com muitas horas de alegrias e doçuras, de felicidade e de fervor.

Não há necessidade de desanimar.
A secura espiritual é uma cruz que o Senhor envia, e Jesus nos deixou dizendo: “Quem quiser ser meu discípulo deve aceitar a cruz de cada dia”. É necessário dizer repetidamente: “Isto também passará”. "O Senhor me deu alegrias e consolações espirituais e o Senhor as tirou de mim. Bendito seja Deus."

E clame a Deus.
Não é conveniente que as pessoas saiam por aí contando esta situação dolorosa que estamos passando porque não vão nos compreender e pelo contrário vão zombar de nós e nos convidar a abandonar a vida espiritual. É aconselhável avisar o diretor espiritual e pedir conselhos. Mas a quem devemos recorrer com toda a alma e sem desanimar é ao bom Deus. Repita a frase que Jesus no momento máximo de sua secura espiritual, na cruz, lhe disse: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? Repita certas frases dos Salmos que são muito consoladoras, como “Não me abandones, Deus da minha salvação."
Diga-lhe o que São Pedro repetiu três vezes a Jesus: “Senhor: Tu sabes que eu te amo”. Ou o que disse Tobias: “Senhor, Tu nos permites descer aos mais profundos abismos da tristeza, mas também podes fazer-nos subir aos mais altos graus de alegria e paz. Portanto, tende piedade de mim e digna-te consolar-me, se essa for a tua Santa Vontade (Tb 13,3).

Uma memória muito oportuna.
Nestas ocasiões é muito útil recordar a terrível angústia e desolação de Jesus no Jardim quando disse: "Minha alma está triste até a morte." E pensar que quanto mais tristeza e angústia sentia Nosso Redentor, mais e mais ele orava ao Deus Pai. Imitemo-lo também nisso.


CAPÍTULO 55

E SE CHEGAM TENTAÇÕES?

Para muitas pessoas que se dedicam à vida espiritual, um dos martírios que mais lhes trazem sofrimento são as contínuas tentações que lhes sobrevêm. Para eles foi escrito o que anunciava a Sagrada Escritura: “Se você se dedica à vida espiritual, prepare-se para a tentação”. Se Jesus, o Santo dos Santos, sofreu as três tentações no deserto, quanto mais nós, que somos a própria fraqueza, teremos que sofrê-las? Além disso, o inimigo da salvação está mais interessado em atacar aqueles que querem salvar as almas e levá-las para o céu, do que aqueles que já estão escravos do pecado e lhe obedecem e seguem os seus conselhos pérfidos.

A visão de Santo Antônio.
Diz-se deste antigo santo que numa visão ele viu que para um bairro inteiro havia apenas um demônio tentando fazer as pessoas pecarem, enquanto para uma única pessoa espiritual havia sete demônios atacando-o. E perguntando por quê, eles responderam: “É porque as pessoas do mundo convidam umas às outras para pecar, mas para as pessoas espirituais, são necessários espíritos infernais para fazê-las pecar”. Para que servem as tentações? Um santo disse que o grande perigo para uma pessoa seria não ter tentações, o seu orgulho a devoraria e ela desprezaria os fracos; e um santo acrescentou: “Não tenho tanto medo de ninguém como aquele que não sente tentações”, porque pode tornar-se muito frio na sua vida de piedade. Autores de espiritualidade apontam as seguintes razões pelas quais parece que Deus permite que as tentações cheguem até nós:

1º Para que confiemos mais em Deus e imploremos a sua misericórdia.

2º Para que desconfiemos de nós mesmos, da nossa fraqueza e tendência para o mal e da falta de força de vontade para resistir ao pecado.

3º Para que tenhamos mais compreensão dos fracos. São Bernardo dizia que é bom que muitas pessoas sejam fracas, mal-intencionadas e de pouca resistência, para que possam compreender os pobres pecadores que caem mais pela fraqueza do que pelo mal. Santo Agostinho, recordando a sua vida passada tão manchada e indigna, repetiu: “Não há culpa que um ser humano não tenha cometido, que eu não possa cometer”. É por isso que tenho que ter grande compreensão por aqueles que caem e ficam manchados e culpados.”

Não se preocupe, nem se preocupe.
Quando o espírito imundo nos perturbar com pensamentos impuros e imaginações abomináveis, não fiquemos angustiados nem desanimados. Lembremo-nos do que Jesus perguntou a Santa Catarina quando ela se queixava dos pensamentos horríveis que lhe vinham: “Diga-me, você consentiu com esses pensamentos ruins?” - "Não, Senhor, eu os odiei com toda a minha alma" - ela respondeu - e o Senhor acrescentou: "Esse ódio e aversão aos maus pensamentos foram concedidos a você por eu que estava lá testemunhando sua batalha espiritual para mais tarde lhe dar o recompensa pela sua vitória."

Não abandone a oração.
Nestes casos vamos fazer muitas pequenas orações e tentar direcionar o pensamento para outros temas. Invoquemos a Santíssima Virgem, concebida sem mancha do pecado original. Aquela que pisa na cabeça da serpente infernal obterá para nós a vitória de seu Divino Filho contra o demônio tentador.

CAPÍTULO 56

A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CONSCIÊNCIA

Outra condição sem a qual não conseguimos.
Dizem os historiadores que o grande matemático Pitágoras, que viveu 500 anos antes de Cristo, e cuja sabedoria era tão estimada no Oriente que numerosos estudantes de diversos países passaram a ser aceitos como discípulos, nunca admitiu um aluno se ele não se comprometesse a fazer uma exame de consciência todos os dias em que tinham que fazer três perguntas: "O que eu fiz? Como fiz? Por que fiz isso?", e contam as antigas histórias de que com este método conseguiram melhorar o comportamento de algumas pessoas.

A exigência de Santo Inácio.
Este grande santo que conduziu tantas almas à santidade exigia que os seus discípulos, sem exceção, fizessem todos os dias um duplo exame de consciência. Uma sobre o seu comportamento em geral, e outra sobre o defeito que se propunha corrigir naquele mês ou naquele ano. Ele insistiu que cada mês houvesse um dia de retiro mensal para pensar em Deus, na alma e na eternidade. Quanto ao Dia de Retiros mensal, dispensou aqueles que tinham ocupações muito sérias ou que faziam longas viagens de qualquer outra prática de piedade, exceto de fazer um exame de consciência sobre como tinha sido seu comportamento naquele mês, pois afirmou que sem o exame de consciência é impossível progredir na santidade e na perfeição.

A primeira coisa a fazer.
Santo Inácio recomenda que ao iniciar o exame de consciência pensemos por um momento na presença de Deus, que Nosso Senhor nos vê, nos ouve e nos acompanha em todos os momentos como o ar que nos rodeia. E então lhe agradecemos por algum favor especial, e lhe pedimos que nos conceda suas luzes e iluminações para sabermos quais de nossas faltas lhe desagradam mais e o que devemos fazer para evitá-las.

Como um raio de sol.
Quando estamos dentro de uma sala e um raio de sol entra por uma janela, vemos muitos pequenos detritos no ar que não conseguimos ver a olho nu. É o que acontece quando no exame de consciência pedimos ao Espírito Santo que nos ilumine: veremos muitas das nossas falhas que passavam despercebidas e não tínhamos notado antes.

AS CAUSAS.

O sábio Pitágoras disse que no exame de consciência não basta perguntar: que mal fiz? mas também por que eu fiz isso? Muitas pessoas se examinam, mas não progridem na santidade porque não descobrem quais são as causas que as levam a repetir os seus pecados, e enquanto a causa não for eliminada, o pecado não deixará de ocorrer, assim como até que a aranha for morta, ela não deixará de existir. Por exemplo, descubro que frequentemente tenho acessos de raiva. Eu tenho que me perguntar: por que essas explosões de impaciência? Será que o orgulho me domina? Será que não descanso na hora certa e meus nervos estão destruídos? Será que dou muita importância a fatos e palavras que não têm importância? Fico chateado com coisas que Deus não gosta? E então por que ficar chateado com isso?

Evite ocasiões.
Se eu sei que em tal lugar ou tal pessoa, ou em tal situação eu caio e peco, porém, vou até lá, sem necessidade grave, e continuo lidando com aquelas pessoas ou me exponho a essa situação, com isso já estou pecando porque estou me expondo à ocasião, e a experiência me ensina que conforme a ocasião surgir se eu me expor, cairei todas as vezes. A experiência me ensinou demais para que eu tenha teimosia de querer continuar insistindo. O sábio já dizia isso na Sagrada Escritura: “Quem se expõe ao perigo nele perecerá”.
No exame é necessário perguntar-nos "que ocasiões me levam a pecar? O que posso fazer para evitar essas ocasiões? "São Paulo diz que Deus não permitirá que nos cheguem tentações maiores do que as nossas forças, mas isso está no condição de não nos expormos culposamente. à oportunidade de pecar. Se nos expormos, a Justiça Divina não tem mais a obrigação de nos dar uma força extraordinária para vencer. Não esqueçamos que a tentação é como um cão valente amarrado a uma corrente. Se chegarmos até onde a corrente alcança, ele nos morderá.

Finalidade determinada.
No exame não basta dizer: “Não farei isso de novo”. Isso e nada são quase iguais. É preciso ter propósitos concretos, determinados: “farei isto e aquilo”, “evitarei essa ocasião”... etc. E então reze a Nosso Senhor para que nos conceda força de vontade para alcançar nossos propósitos. Nisto se cumpre o que Jesus disse: “Sem Mim nada podeis fazer”. E repitamos a Nosso Senhor a oração que aquela alma santa lhe disse: "Senhor: faze com que o que não Te agrada, também não me agrade. Senhor: que se uma amizade pode me prejudicar, eu não sinta nenhum atração por aquela pessoa." mas repulsa e antipatia". Isso evita grandes males e pecados.

Pague a dívida.
Se quebrarmos descuidadamente a porcelana ou o vaso de um vizinho e pedirmos que ele nos perdoe, ele poderá nos dizer "sim, terei prazer em perdoá-lo. Mas, por favor, pague-me o preço do vaso". O Divino Juiz poderia nos dizer algo semelhante quando pedimos perdão cada vez que fazemos o exame de consciência (porque fazer um exame sem pedir perdão a Deus seria uma falta muito prejudicial, pois Ele é o ofendido e é preciso implorar Ele para nos perdoar). O que Nosso Senhor nos dirá então? “Terei prazer em perdoá-lo. Mas você vai me pagar pelo erro cometido?

Como? De que maneira?"
"Fazer um exame de consciência sem pretender oferecer em penitência alguns bons atos pelas faltas cometidas será deixar tal exame mutilado, coxo e caolho. Que eu falei demais? Oferecerei ao Senhor que ficará em silêncio um pouco mais neste dia? Que ele trata os outros com severidade? Bem, hoje vou tentar ser um pouco mais gentil. Que me deixei levar pela preguiça? Pois bem, como seria bom se, como penitência por essas faltas, você lesse neste dia uma ou duas páginas de um livro espiritual. Desta forma seremos capazes de trazer o bem até mesmo ao mal que fizemos, e progrediremos na perfeição e na santidade”.

CAPÍTULO 57

COMO NESTE COMBATE ESPIRITUAL DEVEMOS PERSEVERAR ATÉ A MORTE

O que mais devemos pedir.
De todos os favores de Deus, talvez o que mais lhe devamos pedir é perseverar no bem até a morte. Para alcançar a virtude da perseverança devemos dedicar-nos com muito cuidado ao longo da vida, e para obter a graça de preservar até o fim é necessário sempre mortificar e dominar as paixões, porque elas nunca morrem enquanto vivemos, e sempre crescem em nossos corações, como ervas daninhas em um campo fértil quando você não tem o cuidado de removê-las ou podá-las.

Um erro muito prejudicial.
Seria uma verdadeira loucura e uma imprudência prejudicial pensar que chegará um momento em nossas vidas em que não sentiremos o assalto dos inimigos da nossa santidade, pois esta guerra não termina até que termine a vida terrena, e a pessoa que não está preparado para combater suas paixões e suas tendências para o mal, quando menos pensa perderá batalhas espirituais e até a paz de sua alma.
Na luta para obter a santidade temos que lutar contra inimigos espirituais irreconciliáveis, dos quais nunca podemos esperar paz ou tréguas, porque a sua função é atacar incessantemente e além disso os espíritos infernais odeiam-nos até à morte. Neste assunto, o perigo de sermos derrotados nunca é maior do que quando imaginamos que não seremos atacados.

Mas não desanime.
Embora os inimigos da santificação e da perfeição sejam muitos, formidáveis, eles nos atacam em todos os lugares e sempre, porém, não devemos desanimar pelo seu número e pela sua força, porque nesta batalha só quem não usa essas duas armas formidáveis ​​​​que são oração e mortificação, e aqueles que não evitam ocasiões de pecado ou estão cheios de orgulho, auto-suficiência e demasiada confiança em si mesmos, ou carecem de confiança suficiente no poder e na bondade de Deus.

Temos um bom chefe.
Aqueles de nós que lutam para alcançar a perfeição cristã podem caminhar com confiança porque temos um Líder que nunca é derrotado. É Jesus Cristo, Rei dos reis e Senhor dos senhores, a quem o Pai celeste concedeu a vitória sobre todos os seus inimigos, como afirma o livro do Apocalipse (cf. Ap 6,2). Ele é mais poderoso do que todos aqueles que fazem guerra à nossa alma, e “tem poder e bondade para nos dar muito mais do que ousamos pedir ou desejar” (Ef 3,20). Cristo Senhor nos dará muitas vitórias enquanto não confiarmos em nossas próprias forças, mas em sua grande misericórdia.

E se ele demorar para nos ajudar?
Pode ser que Nosso Senhor demore muito para nos ajudar e parece que vai nos deixar à mercê dos perigos que nos cercam.
Não desanimemos com isso, porque Ele nunca deixa de responder a quem implora a sua proteção e organizará as coisas de tal maneira que o que parece ser para o mal, acabe sendo para o nosso bem.

Mas não negligencie nenhum inimigo.
É importante que não deixemos de lutar contra nenhum dos inimigos da santificação, e que não deixemos de lutar contra nenhuma das paixões ou vícios ou más inclinações, porque mesmo um deles que deixamos de lutar pode nos prejudicar como uma faísca em um tanque de combustível ou uma flecha envenenada cravada no coração.

CAPÍTULO 58

O ÚLTIMO COMBATE. AQUELE QUE NOS ESPERA NA HORA DA MORTE

O Patriarca Jó disse que esta vida é como uma luta contínua, como o serviço militar em tempo de guerra (Jb 7,1) e talvez as batalhas mais difíceis sejam aquelas que ocorrem no final da vida, as últimas batalhas. E estes são definitivos porque o nosso destino eterno pode depender deles. O Livro do Eclesiástico ensina: “O Senhor no dia da morte retribuirá a cada um segundo o seu comportamento; e no final da vida de cada um se descobre quais foram realmente os seus feitos. Sabe-se quanto vale realmente uma pessoa" (Ec 11,26).

Como você vive, você morre.
Santo Agostinho repetia: “Qualis vita, mors et ita”, que significa: como foi a vida, assim será a morte. É por isso que, a partir de agora, quando estivermos saudáveis, com vigor, força e lucidez mental, devemos exercitar-nos na luta contra as paixões, as tentações e as tendências para o mal, porque quando já faltam as nossas forças e a mente está turva e enfraquecida , será muito mais difícil lutar, conseguir lutar bem. Só se agora nos habituarmos a ser vitoriosos contra os inimigos da nossa salvação, adquiriremos o hábito de triunfar contra eles e na hora final seremos capazes de derrotá-los.

Uma memória saudável.
O Livro Sagrado aconselha: “Pensemos no que nos espera no final da vida e assim evitaremos muitos pecados”. E acrescenta: “prepara a tua alma para a prova, e assim terás vitórias no final da tua existência” (Ecl 2,3). É muito útil pensar de vez em quando na nossa própria morte, porque assim quando ela chegar nos causará menos medo e nosso espírito estará muito preparado para enfrentar as últimas batalhas.

Um perigo. Quem está muito apegado aos bens deste mundo não quer pensar na morte que pode vir até ele, nem no passo que terá que dar rumo à eternidade e assim seus defeitos desordenados, em vez de diminuir, crescem sem cessar e estão aumentando, escravizando-os cada vez mais. Não foi o que aconteceu com São Paulo, que exclamou: "Quem me separará do amor de Cristo? Nem a morte, para mim a morte é lucro" (Fl 1,21). Ele era tão independente do que é terreno e material que a morte não o assustava, mas a sua memória o consolava, pensando que, quando chegasse, receberia a grande recompensa prometida àqueles que servem e amam a Cristo neste mundo.

Você tem que se preparar.
Um moribundo disse com humor a quem admirava o seu nervosismo: “Perdoem a minha falta de calma, mas é a primeira vez que tive que morrer” (e certamente foi a única e a última): lembremo-nos que morrer Será algo que faremos apenas uma vez e se fizermos errado, nunca mais poderemos recuperar esse erro. Por isso é aconselhável se preparar bem a partir de agora. No próximo capítulo vamos explicar as quatro últimas batalhas que podem surgir nos momentos finais da nossa existência e como sair vitoriosos.
Cada um tem que morrer uma só vez, e depois da morte vem o julgamento (Hb 9,27)

CAPÍTULO 59

AS QUATRO TENTAÇÕES DA HORA DA MORTE

A experiência observada em outras pessoas mostra que na hora final podem atingir a alma quatro tentações que trazem sofrimento, angústia e danos, e são eles: tentação contra a fé, pensamentos de desespero, tentação de vanglória e ilusões vãs e enganosas. Vamos analisá-los um por um.

1º. TENTAÇÕES CONTRA A FÉ.

Mesmo pessoas muito piedosas podem ter sérias dúvidas sobre a sua própria fé nas últimas horas da sua vida. É necessário não lhes dar importância exagerada e realizar muitos atos de fé. “Creio, Senhor, mas aumenta a minha fé. Creio, Senhor: ajuda a minha incredulidade” (Mc 9,24). Se essas dúvidas continuarem chegando, trazidas pelos inimigos da nossa alma, não há necessidade de se preocupar, pois o Senhor sabe que internamente não aceitamos tais tentações. Uma alma muito santa disse nos seus momentos finais: “Nunca na minha vida tive tantas tentações contra a fé como nestes últimos dias da minha doença.
Mas também, nunca na minha vida fiz tantos atos de fé, como os que fiz nestes últimos meses." No geral: ele saiu vencedor, porque embora as dúvidas que lhe surgiram fossem frequentes e graves, por outro lado, os repetidos atos de fé que ele fez trouxeram-lhe enormes bênçãos de Deus.
Quando essas dúvidas atormentadoras vierem, ofereçamos a Nosso Senhor o sofrimento que elas nos proporcionam e peçamos-Lhe que nos conceda forças para resisti-lhes e encomendemos-Lhe aquelas pessoas que sofrem este mesmo tormento de tentações contra a fé. Digamos-lhe: "Senhor: creio por quem não crê. Aumente nossa fé em todos nós. Amém".

2° A TENTAÇÃO DO DESESPERO.

Consiste num medo exagerado e num verdadeiro terror ao lembrarmos das inúmeras e graves faltas que cometemos ao longo da vida. Neste caso, vale a pena recordar aquelas palavras muito consoladoras de Jesus: “Aquele que vem a mim, não o lançarei fora” (Jo 6,37). Vamos a Ele com a nossa oração e o nosso arrependimento e Jesus cumprirá a Sua Santa Palavra e não nos expulsará, porque antes que o céu e a terra passem nem mesmo uma única palavra da Sagrada Escritura deixará de se cumprir.
Se a tentação do desespero continuar, lembremo-nos do que diz o belo Salmo 103: “Assim como o Oriente está longe do Ocidente, assim o Senhor distancia de nós nossos pecados. Ele perdoa todas as suas falhas. O Senhor é compassivo e misericordioso. Ele nem sempre está acusando ou guardando rancor perpétuo. Ele não nos trata como nossos pecados merecem nem nos paga de acordo com nossas falhas."
Tenhamos algumas frases da Sagrada Escritura gravadas em nossas mentes para lembrá-las quando as tentações do desespero nos atacarem, especialmente nas horas finais de nossas vidas. Por exemplo: “Deus enviou o seu Filho ao mundo,  não para condenar, mas para que o mundo fosse salvo por meio dele” (Jo 3,17).
“Eu não vim procurar os justos, mas os pecadores”, disse Jesus. Recordemos a famosa frase que Ele disse ao pecador arrependido: “Você está muito perdoado porque demonstra muito amor” (Lc 7,47) e digamos-lhe repetidamente: “Jesus, eu te amo”.
Lembremo-nos daquela bela notícia que o profeta Miquéias nos deu: “Deus lançará os nossos pecados no fundo do mar, para nunca mais serem vistos” (Miq,19). E digamos muitas vezes: Senhor, confio na tua misericórdia. Pai, pequei contra o céu e contra ti. "Misericórdia, Senhor, eu sou um pecador." E não esqueçamos a notícia que Jesus nos deu, de que o publicano que repetiu esta última oração foi perdoado pelo Senhor e recuperou a sua santa amizade (cf. Lc 18). Como o publicano do evangelho, se pedirmos perdão a Deus, seremos perdoados por Deus.

3o A TENTAÇÃO DA VANGLÓRIA.

Chama-se vanglória orgulhar-se daquilo que não se é, ou de coisas que não merecem orgulho. Se pensamentos de orgulho nos vêm à mente quando lembramos o pouco de bem que conseguimos fazer, lembremo-nos da frase de São Paulo: “O que você tem que não recebeu? " (cf. 1Co 4,7). Não acreditemos que os sucessos e triunfos que a bondade e a generosidade do Senhor nos permitiram alcançar sejam uma recompensa pelos nossos méritos. Tudo é um presente gratuito do bom Senhor.
“Quando nos vier um pensamento de orgulho pelos triunfos alcançados, pensemos nas falhas e fraquezas cometidas no passado.” Isto é aconselhado por professores espirituais. E lembremo-nos de que todos os nossos esforços e qualidades teriam sido inúteis sem a bênção e a ajuda de Deus. O Livro dos Provérbios afirma: “O que nos traz sucesso é a bênção de Deus; nossa ânsia não acrescenta nada”.

4° A TENTAÇÃO DAS ILUSÕES E FALSAS APARÊNCIAS.

São Paulo diz que o inimigo das almas se disfarça de “anjo de luz” para nos enganar (cf. 2Co11) e podem até nos apresentar alucinações, ou sensações ou imagens que não correspondem à realidade, para tentar nos fazer acreditar mais santos e avançados em virtude do que realmente somos. Não vamos prestar atenção neles. O cérebro doente sabe fabricar imagens que não são verdadeiras. Uns para assustar e outros para encher de alegria exagerada. Convençamo-nos de que não é aconselhável dar maior importância a estas imaginações e falsas representações do que a dada a um sonho que acontece enquanto a vontade não dirige ou governa os nossos pensamentos. Em outras palavras: nenhuma importância.

FINAL FELIZ.

Vamos mentalmente em direção à nossa morte antes que ela chegue até nós. O bom que na hora da morte gostaríamos de ter feito, vamos fazer de agora em diante. Façamos um inventário dizendo: “Na hora da morte, o que desejarei ter e a que desejarei ter renunciado? O que não resiste ao julgamento da hora final, devo deixar para trás a partir de agora”. Para ter um final feliz é preciso prepará-lo bem.

Falta.
Perguntaram a um sábio muito idoso: "Quantos anos você tem?" E ele respondeu: "Oito ou nove anos" - Por que você diz isso? "Vivi me preparando para morrer. Perdi o resto. Assim como só tenho as moedas que possuo agora. O resto, as que gastei, não tenho mais.

Feliz surpresa.
Um dos maiores sábios que a Igreja Católica já teve, um grande devoto da Virgem Maria e de São José, já moribundo, disse: “Nunca pensei que morrer seria tão suave”. Desejo a mim mesmo, e desejo a todos os leitores, uma morte como esta: feliz e em paz com Deus. Amém.

O Rosário

Este livro foi digitalizado em 6 de novembro de 2011, para uso dos fiéis crentes em Nosso Senhor Jesus Cristo e para aqueles que o consideram necessário ao seu crescimento espiritual.

Que Deus tenha misericórdia de nós e nos guarde para a vida eterna. Amém
OFICINA SAN PABLO BOGOTÁ 2011.
Com as devidas licenças eclesiásticas